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4/6/2014 09:23

O craque que o mundo não viu

Trajetória de Dirceu Lopes, astro do Cruzeiro preterido por Zagallo no México, vira livro

O craque que o mundo não viu
Com Piazza e Tostão, Dirceu (E) disputou as Eliminatórias de 1969 sob o comando de Saldanha

Quando estreou naquele 20 de outubro de 1963 substituindo Tostão, o menino franzino de Pedro Leopoldo, ex-sapateiro, ex-serralheiro, começava a escrever uma história para lá de marcante no futebol brasileiro. Dezessete anos mal completados e participação discreta nos 5 a 0 em amistoso contra a Seleção de Pará de Minas, Dirceu Lopes Mendes inaugurava a mística da camisa 10 pelo Cruzeiro. O prêmio: o garoto ambidestro formaria com Tostão a maior dupla de ataque de todos os tempos na Raposa. A perda: ele entraria para o restrito clube dos “craques sem Copa”. Os lados A e B dessa trajetória estão no livro O Príncipe – A real história de Dirceu Lopes, que será lançado hoje em Belo Horizonte.

A obra foi escrita entre 2011 e 2014 pelo jornalista Pedro Blank, de 33 anos. Mas por que Dirceu? “Existia o mito de que ficou recluso, contava pouco de si. E a história dele é a dos anos de ouro do futebol brasileiro e mineiro”, afirma Blank, que o coloca na galeria dos fenômenos. “De personalidade peculiar, tímido, com dificuldade de se expressar. Mas que no Mineirão, particularmente, se sentia em casa.”

Que o diga o Santos, de Pelé, trucidado na final da Taça Brasil (reconhecida posteriormente como Campeonato Brasileiro) num 6 a 2 em que o 10 celeste marcou três gols. Diante de protagonista tão introvertido, os dados reveladores vieram com paciência. “Sugeri que reunisse os 10 irmãos e pedi que fizessem uma rodada de conversas. A partir daí, ele se emocionou, começou a se abrir e deslanchou”, revela Blank. O biografado festejou o resultado: “Foi bacana reviver isso. Voltei a ser menino”.

O livro quebra lendas, como a de que o então atleta amador do Esporte, de Pedro Leopoldo (onde havia atuado o pai, Tito), quase foi parar no Atlético. Ele chegou ao Cruzeiro sem disputa, pelas mãos de um volante da equipe, Juca, seu primo. Estreou com Martim Francisco e foi um dos astros da máquina da qual faziam parte Tostão, Piazza e Raul. Nove vezes campeão mineiro (1965 a 69 e 1972 a 75) e campeão brasileiro (1966).

RECOMEÇO O primeiro ciclo em Minas se fecha em 1977, depois de longo tempo inativo após ruptura do tendão de aquiles. Foi parar num Fluminense que já vinha em fase descendente e, preterido pelo técnico Pinheiro, radicalizou: decidiu se aposentar. Na temporada seguinte, aos 33 anos, um contrato vitaminado o levou ao Uberlândia (nono no Brasileiro de 1979). A despedida ocorreu em 16 de dezembro daquele ano, num amistoso com o Cruzeiro. Aos 22min do segundo tempo, a Raposa vencendo por 2 a 1, deixou o gramado. Deu a volta olímpica no Estádio Juca Ribeiro – havia cerca de 8 mil pessoas – e entregou a camisa ao pai.

Ali, o trauma de ter sido cortado por Zagallo da Seleção Brasileira em 1970, a 15 dias do embarque para o México, parecia superado. “Minha história é muito bonita. Tive origem humilde, passei fome e meu sonho era ser jogador, para dar conforto à família”, diz. Venceu. “Me tornei cidadão do mundo, cheio de títulos.”

O Príncipe – A real história de Dirceu Lopes
. Lançamento
. Hoje, na Assembleia Legislativa, 18h30
. Sábado, na livraria Asa de Papel (Rua Piauí, 631, Funcionários), 10h
. 344 páginas
. R$ 39,90

ENTREVISTA
. Dirceu lopes, ex-jogador do Cruzeiro

“Sou o mais injustiçado do futebol brasileiro”

Você está no clube dos craques sem Copa. Se sente injustiçado?

Na verdade, me tornei o jogador mais injustiçado do futebol brasileiro. Sempre se falou em Ademir da Guia e em mim. Ele mesmo considera que fui o mais injustiçado. Foi a maior decepção na carreira. Um golpe, um momento difícil, um trauma. Mas consegui superar. O Saldanha dizia aos quatro cantos que eu era o jogador mais importante. Isso acabou virando um problema para mim... (risos). Quando ele saiu, Zagallo foi politiqueiro, não me dava nem chance nem conversa.

Vendo a amarelinha, você sonha com o que poderia ter feito no México?
Na época, o Saldanha me escalou com o Pelé na frente. Ia ser brincadeira nós dois jogando juntos. Eu me sentia como um passarinho. Às vezes, era difícil ficar no meio dos beques. Mas o João falava: “Não se preocupe com os caras (imprensa). Jogue seu futebol”. Mas quando ele caiu, fui relegado a segundo plano.

Consta que você fez análise para superar o trauma...
Fiz análise, mas não foi só por causa disso. Foi muito legal. Me ajudou também nesse aspecto.

Mas ficou alguma mágoa com o Zagallo?
Uma vez, quando eu estava no Fluminense, o Admildo Chirol (ex-preparador físico da Seleção) me chamou: “O Zagallo tem um remorso com relação a você. Ele ajudou tantas pessoas que não foram gratas, e tinha vontade de chegar até você, te dar um abraço”. Ele foi lá me cumprimentar, me deu um abraço. Nos encontramos de novo, anos depois. Conversamos, mas não tocamos no assunto do corte.

Como encara o mito de que era jogador de clube, e não de Seleção?
Foi uma coisa que me acompanhou. Quando o Brasil foi eliminado pela Nigéria (Olimpíadas de Atlanta, 1996), a imprensa chegou a chamar o Rivaldo de ‘novo Dirceu Lopes’. Eu estava com meus filhos assistindo quando falaram. Me chateou muito. Mas, felizmente, consegui tirar essa mágoa de dentro de mim.

A poucos dias da estreia na Copa, dá para cravar o favorito?
O Brasil está no caminho certo. Nunca vi uma convocação tão tranquila. Tem bom técnico, que blinda o time, sem oba-oba. Somos favoritos. Se a Argentina não atrapalhar...

2133 visitas - Fonte: Superesportes




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