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30/8/2014 09:23

Quando a esperança é a base

Com pouca ou nenhuma visibilidade, clubes tradicionais do interior de Minas apostam na força da garotada para ter um futuro profissional e participar de grandes disputas

Quando a esperança é a base
Arquibancadas cheias são constantes nos jogos do União de Itabirito, que sonha em se profissionalizar

Enquanto no futebol profissional, clube tradicionais do interior de Minas como Guarani e Ipatinga recorrem a alternativas para sobreviver ao baixo orçamento e ao fantasma das dívidas, a realidade da base não fica muito distante. Porém, com o agravante da menor visibilidade dos jogos e a dificuldade em formar novos talentos.


Depois de dispensar seus jogadores profissionais no primeiro semestre do ano, quando acabou o Campeonato Mineiro, Villa Nova e Democrata de Sete Lagoas apostam nos atletas sub-20 como forma de equipar o grupo principal em 2015, ao mesmo tempo em que esbarram na falta de patrocínio e potenciais investidores a longo prazo. Menor e não menos tradicional, o amador União de Itabirito - fundado em 1921 - deposita numa parceria e na participação do ex-zagueiro de Atlético e Cruzeiro Cléber, a tão sonhada profissionalização e a chance de um dia disputar a Série C do Brasileiro.

Nos três casos, torcida parece não ser problema: nos jogos das equipes durante a Taça BH de Futebol Júnior, as arquibancadas ficaram cheias até mesmo numa segunda-feira a noite. As limitações da base do interior, por outro lado, refletem diretamente no resultado alcançado dentro de campo: nenhuma das equipes conseguiu se classificar para as quartas de final do torneio organizado pela Federação Mineira de Futebol (FMF) e que reuniu 25 equipes de todo o Brasil. Villa Nova e União venceram apenas uma das três partidas disputadas, enquanto o Democrata não triunfou em nenhuma.

“Montamos o time sub-20 agora. Adiantamos o projeto (inicialmente previsto para o ano que vem) diante do convite em disputar o torneio. Não montamos para a Taça BH, mas para ter um time permanente”, sustenta o presidente do Democrata, Emílio de Vasconcelos Costa.

O Jacaré montou uma parceria para dividir os custos durante a competição. Parte dos jogadores vêm do Pampulha F.C., que entrou com a comissão técnica. Outros foram herdados do elenco profissional. “Antes disso tínhamos a escolinha. O problema era que quando chegava ao sub-17, tínhamos de mandar os atletas para casa”, conta Emílio. Para o cartola, enquanto não tiver visibilidade o futebol de base não crescerá. Ainda assim, ele não desanima do potencial da equipe. “A primeira impressão de base é boa. Ainda temos um ano de trabalho pela frente”.

No Villa Nova, a adoção de uma pré-temporada em João Monlevade e Congonhas, além da participação da Copa São Paulo de Futebol Júnior em 2013, ajudaram no amadurecimento do grupo. A base do Leão do Bonfim conta, porém, com apenas um patrocinador: uma empresa de material de construção. “No geral os clubes precisam mostrar que é preciso primeiro investir na base para depois colher os resultados”, aponta o vice-presidente e diretor da base, Aécio Prates de Araújo. Embora não tenha se apresentado como empresário à reportagem, Aécio acumula uma tripla função: ex-caminhoneiro e candidato à presidência do Villa, é o próprio patrocinador da base. Dentre outras funções, colabora com o fornecimento gratuito do ônibus que transporta os atletas. “Nosso objetivo é reforçar o Villa para que o clube não tenha a necessidade de trazer atletas temporários, de verão”, explica.

A base é formada basicamente por jogadores vindos da Bahia e outros da própria comunidade de Nova Lima, como o camisa 11 Paulinho, de 18 anos. O planejamento da estrutura de custo fixo, o que inclui concentração própria, esbarra, por outro lado, em imprevistos. “Recentemente o clube teve de arcar em R$ 8 mil com uma cirurgia de lesão no ligamento do joelho de um atleta. Enquanto isso, tem jogador de clube grande que recebe R$ 25 mil de salário”, conta Aécio.


Paulinho (C), jogador do Villa Nova, sonha em dar uma condição melhor de vida para sua família

FALTA DE CHANCE

Entre os jogadores, o discurso que reflete a realidade é único: falta oportunidade de mostrar potencial nos jogos do profissional. “Futebol para mim é tudo. Me inspiro em vários jogadores como Ronaldinho e Neymar e quero dar um futuro melhor para a minha família, que precisa de mim”, assegura Paulinho. Morador do Bairro Alto do Gaia, em Nova Lima, ele garante estar comprometido com o grupo, depois de já ter sido utilizado na equipe principal. “Estou focado e quero dar isso para a minha família. Desde pequeno acompanhei meu primo no futebol de várzea.”

Mais experiente, o volante Jean - que veio do Feirense de Feira de Santana, depois de defender o Bahia por cinco anos - se queixa sobre a necessidade de adaptação do atleta. “Muitos clubes, com raras exceções, têm pouca oportunidade. Essa adaptação não está acontecendo como deveria ocorrer, de forma rápida e precoce. Os garotos novos deveriam treinar no profissional mais vezes”, sugere.

Por um novo modelo de gestão

Atração à parte na montanhosa Itabirito, a 59 quilômetros de Belo Horizonte, o União espera contar com um novo modelo de gestão esportiva, em parceria com Cléber e uma empresa de BH, para fazer receita e profissionalizar o departamento de futebol num prazo de cinco anos. Na noite do último dia 18, uma fria segunda-feira, torcedores lotaram o estadinho do clube no Centro da cidade para assistir à duas partidas da Taça BH: diante do Santa Cruz e, mais tarde, Flamengo x Criciúma. Entre o público, moradores de Itabirito e operários do setor de mineração, principal atividade econômica local.


Carlos Viana, presidente do União, conta com o apoio do ex-zagueiro Cléber como parceiro


Esse projeto (da base) existe há dois anos. Começamos com as escolinhas. Se conseguirmos apoio por meio da Lei de Incentivo Fiscal, queremos participar da Série C do Brasileiro”, diz o presidente do time, Carlos Viana, o Carlinhos.

A falta de dinheiro, porém, impediu que a equipe almejasse resultados além da base. Como receita, o União conta com o aluguel de lojas do estádio e da sede social, além de patrocinadores. Os jogadores não recebem salário fixo, mas segundo o presidente há um “agrado mensal”. Além da venda de pipoca ao som de forró e uma barraca de bebidas, a receita do estádio também vem de um supermercado que utiliza parte da área como estacionamento. “O União tem tradição. Telê Santana, Nilson e Silvestre jogaram aqui”, ratifica Carlos.

Para o gerente de futebol Clênio Silva, a cidade abraçou o novo projeto do União. “O mais problema da base hoje é roubar jogador. O futebol é uma das almas de Itabirito”. (BF)


1842 visitas - Fonte: Superesportes




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