Sonhar com título continental em uma temporada de tantas transformações para o Cruzeiro foi real, mas quem fez uma análise mais fria do momento do clube não deve ter se surpreendido com a derrota por 3x1 para o Racing na final da Copa Sul-Americana. Em Assunção, a Raposa repetiu exatamente o que foi nas últimas semanas. Um time repleto de oscilações e fragilidades dentro de um mesmo jogo. A reação no 2º tempo foi positiva e o time brasileiro chegou perto do empate, principalmente depois da entrada de Barreal. O desempenho da 1ª etapa, porém, principalmente dos primeiros 30 minutos, foi uma lástima. Evidenciou os problemas defensivos já nítidos em partidas recentes e a dificuldade para pôr em prática a filosofia de um treinador com apenas dois meses de trabalho no clube. Escalações Fernando Diniz repetiu a base que mais escalou desde que chegou ao clube, com Lucas Romero e Walace como volantes, e Matheus Henrique compondo um quarteto ofensivo com Matheus Pereira, Gabriel Veron e Kaio Jorge. Gustavo Costas também não surpreendeu. Repetiu o time que eliminou o Corinthians na semifinal. O jogo A decisão da Copa Sul-Americana não poderia ter começado de forma mais trágica para o Cruzeiro. Antes mesmo dos 20 minutos já havia levado três gols, e só não precisou correr atrás de um 3x0 em virtude de um impedimento milimétrico em um dos tentos do time argentino. As bases do domínio rival já eram previsíveis antes de a bola rolar. Uma delas diz respeito ao jeito que a equipe portenha costuma atacar. Trabalha com muitos passes diretos. Bolas em profundidade para Salas pelo lado esquerdo, buscando atacar as costas da defesa. O Racing foi extremamente eficaz nessa empreitada. Sosa e Garcia Basso, sem receberem pressão, lançavam bolas nas costas de William e João Marcelo. Os defensores responsáveis por proteger o lado direito da última linha cruzeirense responderam muito mal. Perderam duelos assim para Salas no lance do segundo gol argentino - marcado por Adrian Martinez - e no tento de Martirena anulado logo aos dois minutos. O ala-direita da Academia, no entanto, abriu o placar com um lindo gol ao encobrir Cássio em cruzamento venenoso. A outra base de domínio do Racing se fez presente instantes antes de Martirena surpreender Cássio. A marcação forte e bem coordenada no campo de ataque. Os argentinos ignoraram o forte calor de Assunção ao elevarem o nível de intensidade do jogo bem cedo. Subiram o bloco, forçaram erros da Raposa perto da própria área. Sufocaram! Walace, que errou na origem do primeiro gol e acabou sacado para a entrada de Lucas Silva antes dos 30 minutos, foi quem mais sofreu. Lucas Romero e Matheus Pereira também não conseguiam levar vantagem ao receberem pressionados. O camisa 10 foi antecipado duas vezes no campo de defesa também na origem do primeiro gol. Nardoni e Almendra foram fundamentais nesse trabalho. Já com a vantagem de 2x0 na segunda metade do 1º tempo, o Racing alternou a marcação no campo de ataque com a preocupação em ocupar a própria intermediária. Também tentou tirar a velocidade do duelo com um jogo de maior aproximação entre as peças, algo que não é o seu forte. Logicamente o Cruzeiro começou a ter a bola mais perto da área adversária. A Raposa só conseguiu finalizar de fato perto dos 30 minutos, em jogada de pouco perigo com Kaio Jorge. Lucas Silva melhorou o nível de circulação de bola do time. Matheus Henrique era o mais lúcido ao trabalhar nas costas dos volantes argentinos. Matheus Pereira melhorou. O lado esquerdo era o mais buscado para concentrar jogadores dentro da ''filosofia Diniz'' de futebol. Os brasileiros só foram conseguir levar perigo de fato em um arremate de Villalba, já nos acréscimos, após escanteio cobrado na área. Kaio Jorge pôde tocar mais vezes na bola perto da área e incomodou a defesa do Racing. William foi pouco acionado pelo jogo quase inexistente do Cruzeiro pela direita. Marlon não conseguia colaborar de maneira precisa ao receber pelo lado esquerdo. O início do 2º tempo revelou um Cruzeiro diferente. A começar pela maior variação de lado da jogada. Passou a trabalhar também pelo lado direito. Isso fazia com o que o sistema defensivo argentino tivesse que ''balançar'' de um flanco a outro em determinados momentos, liberando mais espaços de conexão entre os cruzeirenses por dentro. Em uma dessas combinações, os jogadores mais criativos da equipe celeste tabelaram pelo meio. Matheus Henrique fez grande jogada após trocar passes com Matheus Pereira e cruzou para Kaio Jorge finalizar duas vezes antes de marcar. Gustavo Costas agiu rapidamente para tentar amenizar a pressão brasileira. Sacou o cansado Almendra para a entrada de Zucullini. O Racing conseguiu recuperar um pouco do poder de contragolpe ao melhorar a taxa de desarme no setor de meio-campo. Voltou a tentar segurar a posse no campo de ataque, principalmente ao buscar Quintero. Rojas e Salas seguiam fazendo do lado esquerdo o mais perigoso dos argentinos. Mais perto da reta final do jogo, o colombiano Roger Martinez substituiu Adrian Martinez. Mais velocidade! O Cruzeiro continuava tendo mais a bola no campo de ataque, mas transformar isso em chances de gol seguia sendo um desafio. Diniz tirou os apagados Gabriel Veron e Lucas Romero para as entradas de Lautaro Diaz e Barreal. Matheus Henrique passou a fazer a dupla de volantes com Lucas Silva. Depois foi a vez do jovem Kaique Kenji entrar no lugar de Marlon. Barreal esteve envolvido nas principais jogadas do Cruzeiro nos últimos minutos. Assustou o goleiro Arias duas vezes, mas quem balançou as redes por último foi o Racing. Roger Martinez se aproveitou de um contragolpe com a Raposa totalmente exposta e deu numeros finais ao jogo.