Pelé e Messi com Ali Bongo, presidente acusado de desrespeito aos direitos humanos
Muito se discute se Lionel Messi um dia alcançará os números de Pelé na carreira. Nessa semana, porém, é possível dizer que o argentino "igualou" o "Rei do Futebol".
Em troca de R$ 12 milhões, segundo a revista France Football, ele foi ao Gabão e ajudou a promover a construção de um estádio que será usado na próxima Copa Africana de Nações. E, assim como fez Pelé, posou para fotos ao lado de Ali Bongo, presidente da pequena nação e um dos líderes mais sanguinários do continente.
Bongo, de 56 anos, está na presidência do país africano desde 2009, quando venceu eleição com 42% dos votos, em um pleito marcado por diversas irregularidades. Ele assumiu o cargo logo após a morte de seu pai, Omar Bongo, que subiu ao poder em 1967, governando por 42 anos.
O governo de Ali no país produtor de petróleo é conhecido pelo desrespeito aos direitos humanos e pela infinidade de casos de corrupção.
Segundo Jack Blum, consultor da ONU para assuntos da África, a família do presidente mantém para si nada menos que 25% do PIB (Produto Interno Bruto) do Gabão. "As pessoas que comandam esse país são culpadas por um dos maiores roubos da história", disse, em entrevista ao canal de TV ABC.
Segundo o Observatório de Direitos Humanos da Casa Branca, a pequena nação comandada por Ali Bongo tem nota 6 na escala de direitos políticos e nota 5 em liberdade civil - a pior graduação possível é 7.
Messi durante sua visita ao Gabão
O relatório da Casa Branca sobre o Gabão, aliás, é assustador.
"A eleição presidencial de 2009 foi marcada por irregularidades, como compra de votos e intimidação da imprensa [...]. O presidente ainda tem poderes extensivos, como nomear membros do Judiciário e dissolver o Parlamento", diz um dos trechos.
"Sobre os problemas de direitos humanos, foram reportados casos de assassinatos ritualísticos, uso excessivo de força pela polícia, condições desumanas nas prisões, censura da imprensa, extorsão de imigrantes e refugiados, corrupção, violência contra mulheres, discriminação contra mulheres, cidadãos não-africanos, pigmeus e pessoas com aids, e tráfico de pessoas, especialmente crianças", aponta outra parte do relatório.
Tudo isso em um país com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0.674, que vale a 112º posição dos 166 países medidos pela ONU.
Messi e Pelé, porém, não se importaram com isso.
O argentino foi ao Gabão no último sábado, e foi pessoalmente recebido por Ali Bongo, que até dirigiu o carro que transportou La Pulga. O camisa 10 do Barcelona deu o pontapé inicial para a construção do estádio de Port-Gentil, colocando a primeira pedra na construção. A arena terá capacidade para 20 mil pessoas, e deve ficar pronta em novembro no ano que vem.
Já Pelé também esteve por lá, mas em 2012. Ele foi convidado por Bongo para a inauguração de um busto do "Rei do Futebol" em Libreville, capital do país, e ficou para assistir a final da Copa Africana de Nações daquele ano, vencida pela Zâmbia.
Pelé e Ali Bongo se abraçam em 2012
Durante sua passagem pelo Gabão, o ídolo da seleção brasileira foi fotografado várias vezes dando calorosos abraços em Ali Bongo. Durante entrevista coletiva, ele ainda lembrou a excursão que fez com o Santos pelo país em 1967, quando o pai de Ali, Omar Bongo, interrompeu a guerra civil que ocorria no país para que o time praiano pudesse jogar.
Segundo a reportagem da France Football, o brasileiro também recebeu "vários milhões de dólares" para participar do evento.
Por meio de nota divulgada por sua embaixada na França, porém, o Gabão negou ter pago a Messi e a Pelé para que eles visitassem ao país.
O argentino, via assessoria, também negou ter recebido os R$ 12 milhões. Pelé, que recentemente deixou o hospital Albert Einstein, em São Paulo, após passar por cirurgia na coluna, não se pronunciou sobre o tema.