24/6/2015 12:36
Todas as honras a um mestre da bola
Amistoso entre craques cruzeirenses celebra despedida do símbolo da tríplice coroa
Alex conversou com o Estado de Minas e falou sobre bastidores de suas passagens pelo Cruzeiro
“Eu banco. Se não der certo, pago o salário dele!” A cartada, se não chegou a convencê-los, foi suficiente para quebrar a resistência dos irmãos Perrella, que comandavam o Cruzeiro, naquele setembro de 2002. A convicção de Vanderlei Luxemburgo era tanta, que o presidente Alvimar de Oliveira Costa e o vice Zezé Perrella acharam por bem acreditar no técnico. Oito meses depois de ser dispensado pelo clube, por meio de um burocrático e frio telefonema, Alecsandro de Souza voltava a pisar o solo da Toca da Raposa. No Brasileiro do ano anterior, o desacreditado clube celeste dera uma cartada para tentar se reerguer e anunciou as contratações em série dos badalados Rincón, Edmundo e Alex. Nenhum chegou a convencer. O terceiro ainda fez um gol na estreia (derrota por 3 a 2 para o Coritiba, no Couto Pereira) e dois no clássico com o Atlético (empate por 2 a 2, no Mineirão). Mas, a exemplo dos outros dois, esteve longe de deixar saudades.
Pois foi sob desconfiança generalizada que Alex reestreou no Cruzeiro. E deu o passe para Alessandro fazer o gol da vitória por 1 a 0 sobre a Portuguesa, no Canindé. O time, assumido por Luxemburgo em agosto, custou a engrenar. E, quando conseguiu, já era tarde para se classificar às fases decisivas do Brasileiro. Mas permitiu ao treinador iniciar a montagem do esquadrão que dominaria de ponta a ponta o futebol do país em 2003. “Agora vou poder fazer uma pré-temporada decente”, avisou Alex, que nos dois anos anteriores havia andado às voltas com sua contratação pelo Parma, ora permanecendo na Itália, ora retornando ao Brasil por falta de visto. Ao conquistar na Justiça o direito de ser dono do próprio destino, começava a recuperação do talentoso armador revelado pelo Coritiba, com grande passagem pelo Palmeiras e pelas seleções de base.
A temporada que levou o time cruzeirense à tríplice coroa foi a consagração do camisa 10, apelidado de Talento azul pelo locutor da Rádio Itatiaia Alberto Rodrigues. Com toques refinados, lançamentos milimétricos e finalizações mortais, ele conduziu a Raposa aos títulos invictos do Campeonato Mineiro e da Copa do Brasil. Mas a joia da coroa foi a terceira conquista, em campanha impressionante que resultou em 100 pontos e 102 gols na primeira edição do Campeonato Brasileiro por pontos corridos. Trajetória que levou a China Azul ao delírio e consagrou o paranaense Alex como um dos maiores ídolos da história do clube das cinco estrelas.
Um amistoso no sábado, às 15h, entre o Cruzeiro da tríplice coroa e o de todos os tempos, com previsão de grande público no Mineirão, marcará a despedida de Alex com a camisa 10 azul. Onze anos depois de ter saído para se transformar em lenda no turco Fenerbahce, o recém-aposentado armador, agora comentarista dos canais ESPN, desfilará pela última vez no renovado palco em que, com talento e gols, transformou a desconfiança dos cruzeirenses em amor incondicional.
Nas próximas linhas, você acompanha a entrevista completa de Alex ao Estado de Minas.
Uma primeira passagem frustrante. Uma segunda gloriosa. Que balanço você faz da relação com o Cruzeiro?
Vale lembrar que em 2001 cheguei ao clube por meio de uma liminar da Justiça do Trabalho. Entrei em litígio contra o Parma em abril de 2001. A indicação da minha contrataçao foi do Paulo César Carpegiani. Cheguei numa quinta-feira, e ele caiu na noite anterior. Houve algumas vezes em que estava pronto para jogar e recebia a notícia de que minha liminar estava cassada. Em outros vários momentos, tinha de estar treinando e estava em tribunais discutindo minha situação. Aí, findou com a vinda do Marco Aurélio, que, juntamente com os irmãos Perrella, não quis continuar comigo. Em janeiro de 2002, me mandaram embora por telefone. Saí mal demais! Nove meses depois, o Vanderlei Luxemburgo me bancou, contra tudo e contra todos. Ninguém me queria. Desde o presidente, passando pela torcida, até o mais simples funcionário do clube. No meio do Mineiro de 2003, o discurso de todos acabou mudando. Antes, era 'Alex roubou o Cruzeiro na primeira passagem'. Depois, veio 'Alex não esteve bem porque estava envolvido em um problema com os italianos'. E o restante da história todos conhecem: veio um ano mágico.
Alguma vez, desde que deixou a Toca da Raposa, você considerou fortemente a possibilidade de voltar? Quantos convites teve para isso?
Não! Nunca me procuraram entre 2004 e 2012. A procura veio somente por meio do dr. Gilvan de Pinho Tavares e do Alexandre Mattos, quando rescindi com os turcos. Conversei com vários clubes. Um deles foi o Cruzeiro. A torcida foi às ruas, e aquilo mexeu comigo. Mas a conversa com o presidente não foi boa e fez com que eu desconsiderasse qualquer chance. Fiz uma pergunta ao presidente. Naquele momento, Celso Roth era o treinador. Perguntei a ele qual era a ideia de perfil de treinador e sobre os objetivos para 2013. Ele respondeu que não sabia, que naquele momento era importante a minha contratação. Acabei vindo para o Coritiba. Eles foram campeões em 2013 com um bom time. Em 2014, surgiu a chance de retornar para a Libertadores. Não sei o que houve no meio do caminho, mas chegou para mim que eu era lento demais para jogar no time. Encerrei minha carreira em 2014 e, para minha surpresa, em 2015, o presidente tentou me fazer mudar de ideia quanto a minha retirada dos campos. Fico até hoje pensando: em 2014, era lento; o que mudou para 2015? Mas aí a fila já tinha andado.
Que jogo em especial – e que gol – você destacaria em sua passagem pelo Cruzeiro?
Tem um jogo pelo Mineiro de 2003 que me marcou muito. Em Nova Lima, fiz um gol bonito e subi ao alambrado. Quando retornei à Toca, o senhor Fausto, que cuidava da base do clube, me disse a seguinte frase: 'Sua interação com a torcida começa hoje'. Aí, pensei: ele está certíssimo. Os caras passaram a gostar de mim. Ali foi um início. Mas meu jogo favorito é Cruzeiro 5 x 2 Fluminense. Recebemos as faixas de campeões nacionais e carimbamos nosso nome na história do futebol brasileiro.
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