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14/6/2015 10:19

'Não houve desmanche, e sim a necessidade de vender'

Não houve desmanche, e sim a necessidade de vender
Presidente falou sobre reforços: "Estamos trabalhando com vários nomes. Com mais dois ou três"


Procurador de Justiça aposentado e advogado, com mais de 50 anos de Cruzeiro, Gilvan de Pinho Tavares sagrou-se duas vezes campeão brasileiro em apenas três anos de mandato. Na atual temporada, viveu o outro lado da moeda ao ter a gestão criticada depois do fracasso no Campeonato Mineiro e na Libertadores. Com a troca do técnico Marcelo Oliveira por Vanderlei Luxemburgo, espera que o trem retorne aos trilhos.

Depois de dois títulos brasileiros, em 2015 o senhor enfrenta a primeira crise, que teve até muro da sede administrativa pichado e pedidos por sua saída...
A mim, não incomodou. Sei muito bem que quem pichou a sede foram marginais, não cruzeirenses de verdade. A torcida me adora, tira fotos comigo, me respeita pelo que fiz nessas décadas todas no clube e agora, que tenho a caneta de presidente. Ela deu prova de confiança ao lotar o Mineirão contra o River Plate. Mas o time não reagiu, não tinha mais aquela vontade de ganhar. Não dou ingresso a torcedor e sei que isso incomoda muita gente. Ele tem de pagar para ajudar o clube, e estamos muito satisfeitos com o retorno do sócio-torcedor. Não acho justo sustentar torcida organizada. Mas a maioria é séria, e os poucos bandidos jamais vão nos intimidar.

Qual foi a responsabilidade de Marcelo Oliveira na queda técnica?
Não quero achar culpados. O Marcelo veio do Coritiba, enfrentei torcida e imprensa para efetivá-lo e contratei jogadores desconhecidos, como Ricardo Goulart e Éverton Ribeiro, que se tornaram os melhores do país. Contratamos e entregamos ao técnico o que havia de melhor. Ele teve seu ciclo, foi vencedor, mas já não conseguia tirar nada dos atletas. E olhem que contratei quem pediu.

Ele teve atrito com jogadores?
Não entro nesse mérito, mas realmente houve problemas com alguns. Souza nós emprestamos ao Bahia e trouxemos o lateral Pará. Dagoberto foi para o Vasco. Se um técnico diz que não quer determinado jogador, ou a gente o manda embora ou libera o atleta.

Vanderlei Luxemburgo, que chegou com a missão de buscar o tri brasileiro, receberá reforços?
Estamos trabalhando com vários nomes. Com mais dois ou três, o time ficará competitivo e forte. Vanderlei é diferente e sabe como poucos motivar os jogadores. Vi a preleção dele no clássico contra o Galo. Ele é fantástico. E o nosso grupo é bom. Quero lembrar ao torcedor que muitos jogadores contratados neste ano foram pedidos pelo técnico anterior. Sempre trabalhei atendendo aquilo que o técnico pede, dentro das possibilidades do clube.

Já sugeriu a escalação de algum jogador?
Jamais. O que a gente faz é perguntar ao técnico o que acha de A ou B e mostrar que tem condições de ser titular. Nunca interferi em escalação, mas estou no futebol há mais de 50 anos e conheço muita coisa. O Cruzeiro é minha casa e sei muito bem o que é bom para ele.

O senhor foi acusado de desmanchar o time bicampeão e não repor à altura...
Os jogadores que saíram eram desconhecidos até ganharmos o Brasileiro de 2013. Recebi inúmeras propostas, mas as recusei e ainda reforcei o time para a conquista de 2014. Mas, no fim da temporada, recebi propostas que, para os atletas, eram irrecusáveis. Éverton Ribeiro me disse que ficaria se eu lhe pagasse o R$ 1,4 milhão que receberia no mundo árabe. Não sou louco. Nenhum clube no Brasil pode fazer isso. O mesmo aconteceu com Goulart, Lucas Silva e Egídio. Não houve desmanche, e sim a necessidade de vender, pelos jogadores e pelos parceiros. Hoje, os clubes não sobrevivem sem parcerias, que muitas vezes têm 90% dos direitos econômicos dos atletas.

E o dinheiro dessas vendas?
Pusemos a casa em dia, porque estávamos com muitas dívidas. Não é fácil formar time campeão. Gastamos muito em 2013 e montamos um grupo bicampeão, mas teve um custo e o precisávamos repor. Para que o leitor tenha ideia, do Lucas Silva só tínhamos 10% dos direitos econômicos, e quando ele foi vendido conversamos com o parceiro para que pudéssemos ficar com pelo menos 50%. O próprio jogador, ansioso para ir para o Real Madrid, abriu mão de 10%. Não há como segurar jogadores com propostas do exterior. Eles vão ganhar em euros quatro, cinco vezes o que ganhavam aqui.

O contrato com a Minas Arena foi positivo?
Só foi. Ficamos estudando o contrato durante 10 meses até assiná-lo. Foi a redenção do nosso futebol. Quando jogávamos no interior, porque não tínhamos estádios prontos na capital, o Cruzeiro quase caiu para a Segundona do Brasileiro. Curiosamente, nós nos salvamos no último jogo, contra o maior rival, com um resultado que valeu mais do que um título. Aqueles 6 a 1 não têm preço. O Mineirão nos deu dezenas de milhares de sócios-torcedores, e são eles que nos ajudam a contratar.

De quanto é a dívida do clube?
O Cruzeiro é um clube organizado e muito pé no chão. Pegamos uma dívida de R$ 55 milhões e a reduzimos para R$ 30 milhões, mas tudo está equacionado no Refis. Não fazemos loucura. Posso dizer que, quando assumi, a situação era uma, hoje é outra completamente diferente. O clube é totalmente viável. Arrecadamos cerca de R$ 250 milhões anuais, mas as despesas são muito altas também. O Cruzeiro é tão grande, que temos sempre um auditor da Receita aqui dentro. O clube é bastante viável e está saneado.

A quanto chega a folha de pagamentos?
Em torno de R$ 10 milhões mensais, o que não é fácil. Estamos trabalhando para diminuir esse custo.

Não acha um absurdo o time bicampeão brasileiro não ter patrocínio da Caixa?
Acho. Estamos na esperança de ainda consegui-lo, pois clubes de menor expressão estampam a marca da Caixa nas camisas. Mas há outros grandes sem patrocínio. Independentemente da Caixa, porém, já estamos negociando com outro patrocinador. Não é o valor que o Cruzeiro merece, mas é o que temos para o momento.

O ex-presidente da CBF José Maria Marin está preso por corrupção. O que pensa disso?
Acho que todo dirigente corrupto tem de ir para a cadeia. O FBI chegou à Suíça com provas, e prendeu todos, num país que temos como exemplo. Não importa o nome ou o cargo do dirigente. Roubou ou cometeu ato ilegal, tem mesmo de ir para a cadeia.

É a favor da renúncia de Marco Polo del Nero na CBF?
Se ficar provado algo contra ele, claro que sim. A CBF tem atendido aos nossos pedidos, mas estamos cobrando e de olho em tudo.

O senhor é a favor da criação de uma liga pelos clubes?
No momento, não. Mas vamos caminhar para isso. A CBF está disposta a ajudar os clubes e ouvi-los. Vamos tornar todos os clubes ,transparentes e criar nossa própria liga. Também pedi à CBF que no futebol brasileiro não se pode mais jogar contra times que não têm sequer estádio, com campos piores do que os da várzea. É preciso qualificar a Libertadores e nos inspirarmos no que a Europa tem de melhor.

A medida provisória do governo atende aos clubes?
De jeito nenhum. É uma tragédia. Se não houver mudança no texto, os clubes vão sofrer mais do que já sofrem. Precisamos ser ouvidos, e é necessário mudar muita coisa para que os clubes sobrevivam. Do jeito que está, se os parlamentares aprovarem, será um caos.

O senhor já teve vontade de largar o cargo?
Quando a gente assume um clube, é mesmo pelo amor. Vivo o clube, acordo cedo todos os dias e não tenho hora para dormir. Você se dedica à parte administrativa e de futebol. E não adianta falar em diretor de futebol, pois quem manda é o presidente, é ele quem assina. Não tive vontade de ir embora, mas estou precisando. Numa semana dessas, tirei quatro dias para ir a uma propriedade minha resolver problemas e fui tachado de tirar férias num momento de crise. Isso dói. Eu me dedico integralmente ao clube, sou procurador do estado aposentado e advogado. No Cruzeiro, não admito falcatrua ou coisa irregular. Minha gestão é austera e correta.

Já tem um sucessor em mente?
É a minha grande preocupação. Há muita gente boa no clube, colaboradores, mas precisamos achar alguém com o perfil para o cargo. Ele terá de sacrificar alguns anos de sua vida. É desgastante demais. O clube cresceu demais, com dois clubes sociais, duas concentrações, Toca I e Toca II, além de uma bela sede social. O Cruzeiro é uma potência e precisa ser sempre bem cuidado. Por isso, teremos critério na escolha do nosso sucessor.

2043 visitas - Fonte: Super Esporte




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