2/6/2015 08:37
Galo, Raposa e Coelho: 70 anos da criação das mascotes dos tradicionais clubes mineiros
Artista Fernando Pierucetti, conhecido como Mangabeira, criou representantes
Desenhos de Mangabeira eternizaram as mascotes dos principais clubes de futebol de Minas Gerais
Ouvir gritos de Galo, conhecer a Toca da Raposa e torcer pelo Coelho. Essas frases não seriam ditas se não houvesse a criatividade de Fernando Pierucetti, o Mangabeira. O artista criou as mascotes dos principais clubes mineiros em 1945 e os 'bichos' que representam Atlético, Cruzeiro e América completam 70 anos em 2015. O Superesportes resgatou detalhes da personificação de cada um dos três.
Professor, jornalista, desenhista e pintor. Pierucetti foi um homem de várias faces. Ele fez seus primeiros trabalhos ainda criança, em reproduções de figuras de caubóis e heróis do cinema. A experiência no jornalismo veio na década de 30 e, anos mais tarde, a inspiração para realizar a criação dos símbolos dos times com animais, em 1945, num projeto do Jornal Folha de Minas. A intenção foi mostrar que a cordialidade deveria permanecer entre as torcidas.
Em 2010 foi comemorado o centenário do nascimento de Mangabeira. O cartunista faleceu em 2004 e, em uma de suas entrevistas ao Jornal Estado de Minas, ele evidenciou a importância das mascotes em sua trajetória. “Toda vez que soltam foguete depois de um jogo de futebol de um clube mineiro, um desenho meu está sendo comemorado”, disse.
Atlético
A mascote Galo se misturou ao nome Atlético e, por muitas vezes, substitui o substantivo. A ideia veio das cores preto e branco em comum e das famosas rinhas com o animal na capital mineira. A referência veio de um galo carijó que era imbatível nas lutas. Por isso, vem o complemento forte e vingador.
Torcedor do América, Mangabeira se identificou com o desenho do Atlético a ponto de chorar ao ouvir o grito de Galo, segundo afirmações de pessoas próximas ao cartunista. O filho Edmundo confessou que a mascote alvinegro causou grande impacto na vida de seu pai.
“Esse personagem se destacou, representa bem o time valente e vingador. Também acho apropriada a Raposa para o Cruzeiro. É time que tem direção, administração, é astuto até hoje”, revelou, em entrevista concedida em 2010.
O curioso é que outros símbolos foram cogitados para representar o clube: Índio Carijó, Polvo e Super-Homem. Mas o próprio Mangabeira chegou a admitir que o Galo foi a sua criação que mais empolgou os torcedores.
O grito ganhou força na década de 1950, quando o ex-jogador e ídolo da história do Atlético, Zé do Monte, entrava em campo com um galo nas mãos. A torcida adotou o canto a partir de 1960.
Cruzeiro
A mascote celeste é bem representado nos dois centros de treinamento do Cruzeiro: Toca da Raposa I e II. A astúcia do animal que representa o clube azul é o grande mérito da criação de Mangabeira. O ex-presidente Mário Grosso era conhecido pela agilidade na hora de fechar as negociações.
“Apareceu um jogador notável do interior. Enquanto o Atlético ficava no contrata, não contrata, ele saiu na frente e contratou o jogador”, justificou Mangabeira uma vez.
A inteligência e esperteza de Grosso para não ser passado para trás foram destacadas por Mangabeira para justificar a escolha da Raposa. O time do Cruzeiro de 1945, tricampeão estadual, possuía jogadores com experiência e conhecedores das artimanhas do futebol, outro ponto decisivo na escolha do símbolo.
A mascote foi bem aceito pelos cruzeirenses, que chegaram a pagar bons valores pelo animal no Mercado Municipal na década de 1940. O jornalista Ataliba Siqueira entrou na onda do desenho de Mangabeira e chegou a desfilar na Avenida Afonso Pena vestido de Raposa, fato que ganhou holofotes na época.
O DNA de ser rápido e esperto em negociações seguiu por outras gerações de presidentes do Cruzeiro. Nelinho, Fábio Júnior, Fred, Evanilson, Ramires e dezenas de outros jogadores servem de exemplo de pechinchas que renderam bons frutos.
Nos jogos do Mineirão, os torcedores não gritam Raposa com a frequência que a torcida do grande rival e sua respectiva mascote, mas o “Raposão” é uma das peças da estratégia de marketing.
América
O destino havia reservado um outro animal como mascote do América. A inspiração era no personagem do Pato Donald, que se envolvia em polêmicas por questionar tudo. A fama do desenho da Walt Disney foi transferida ao Alviverde por causa da apelação aos tribunais no Campeonato Mineiro de 1929, quando pediu a anulação de um jogo contra o Cruzeiro e ficou conhecido como “time encrenqueiro”.
Como vários diretores da década de 1940 tinham Coelho no sobrenome e o América também se destacava pela esperteza nos negócios, Mangabeira decidiu desenhar o animal para representar o clube.
“O coelho é um bicho que dorme de olho aberto, assim como o time do América dentro de campo e alguns dirigentes que o clube tinha e que mudaram a história da equipe”, disse à época.
Um fato que evidencia a esperteza do América foi a aquisição do Independência, depois de de acordo com o Sete de Setembro, primeiro dono do estádio.
Outros clubes mineiros e até o Canarinho para a Seleção Brasileira nasceram da mente de Mangabeira. Pelas mãos do artista, o Villa Nova virou Leão, os extintos Sete de Setembro (Tigre), o Metalusina (Tucano) e o Siderúrgica (Tartaruga).
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