Argentinos Juan e Pablo Castro estão na torcida pelo Cruzeiro diante do River Plate (Foto: Marco Antônio Astoni)

Além dos dois mil torcedores que estarão no Monumental de Nuñez, na noite desta quinta, e dos cerca de oito milhões de cruzeirenses espalhados pelo Brasil, o Cruzeiro receberá um incentivo especial da "hinchada" do maior rival dos Millionarios, na partida de ida das quartas de final da Taça Libertadores, contra o River Plate.

O apoio extra para a Raposa vem do Bairro de La Boca, berço do Boca Juniors, mas não se trata dos Barra Bravas da equipe Xeneize, violentos membros de torcidas organizadas argentinas, que até disseram que iriam tentar se infiltrar entre os cruzeirenses, na hora do jogo. Para evitar que isso aconteça, já foi articulado um esquema de segurança pela polícia local, que está em alerta máximo para o confronto.

A torcida de última hora, na verdade, vem dos irmãos Juan Carlos e Pablo Castro, donos do El Obrero, um restaurante que fica a menos de um quilômetro do Estádio La Bombonera, campo do Boca. Eles garantem que serão cruzeirenses desde criança. Pelo menos por uma noite. Entre as centenas de flâmulas de equipes de futebol fixadas na parede do estabelecimento não há nada que faça referência ao time do Bairro de Nuñez.

- Vamos todos torcer pelo Cruzeiro, é claro. Você pode olhar para as paredes do restaurante. Não há flâmula do River, que é o nosso rival. Não podemos ter nada deles. Só se estivéssemos loucos – disse Juan Carlos.

Juan e Pablo garantem não haver flâmula do River nas paredes do El Obrero (Foto: Marco Antônio Astoni)

O restaurante foi fundado em 1954 pelo pai dos dois. Segundo Pablo, o estabelecimento é muito procurado por brasileiros, que visitam o estádio do Boca Juniors e o Caminito, outro tradicional ponto turístico de Buenos Aires.

Caminito é um ponto turísitco importantes da capital argentina (Foto: Marco Astoni)

- Sou filho de um dos dois irmãos, que fundaram o bar em 1954. É um negócio familiar que mantemos há muito tempo. Aqui vêm muitos brasileiros. Eles gostam de comer carne e batatas, principalmente.

Apesar do clima leve e festivo do restaurante, Juan Carlos toca em um assunto pesado. Os incidentes que marcaram o clássico entre Boca e River, semana passada, ainda incomodam toda a Argentina. O país se sentiu envergonhado pelos atos de violência e selvageria da torcida do time azul e amarelo. Tudo não passa de um espelho do que vem se passando em todo o país, segundo um dos donos do El Obrero.

- O que aconteceu no estádio é reflexo do que está acontecendo no país. Estamos vivendo uma violência nunca vista. É tudo reflexo da sociedade, que convive dias com a insegurança e o narcotráfico.

River Plate e Cruzeiro se enfrentam nesta quinta, às 22h (de Brasília), no Estádio Monumental de Nuñez, em Buenos Aires.