A maior final da Copa do Brasil de todos os tempos começa a ser decidida nesta quarta-feira. No Independência, Cruzeiro e Atlético-MG, que se acostumaram às glórias nos últimos anos, entram em campo às 22h (de Brasília) para saber qual equipe triunfará sobre o rival histórico. Recentemente, os dois times se acostumaram com conquistas e com o domínio do cenário nacional - o Atlético-MG levou a Libertadores de 2013 e o Cruzeiro caminha para o bicampeonato brasileiro consecutivo. O novo domínio mineiro tem vários razões, e o Terra lista algumas delas:
Ótimos CTs
Tudo começa pelo local de treinamento diário. Em Minas Gerais, tanto Cruzeiro quanto Atlético-MG possuem há um bom tempo CTs que estão entre os melhores do Brasil e não devem em nada para nenhum time da Europa. O time celeste se destaca com não um, mas dois CTs: o mais antigo Toca da Raposa I, destinado à base, e o Toca da Raposa II, usado pelo elenco profissional. O rival não deixa por menos com a Cidade do Galo, que abriga base e profissional.
Não à toa, os Centros de Treinamentos dos dois times foram sedes de seleções durante a Copa do Mundo. A delegação chilena se alojou na Toca da Raposa II durante a competição, enquanto a Argentina ficou na Cidade do Galo. Ambas as equipes sul-americanas elogiaram bastante as “casas” durante o Mundial.
Contratações pontuais
Guilherme demorou a se acostumar no Atlético-MG, mas agora é um dos destaques
Foto: Ramon Bitencourt / Agência Lance
Não adianta ter boa estrutura se as equipes não correspondem em campo. E, mesmo com aporte financeiro longe do primeiro escalão do futebol nacional, Atlético-MG e Cruzeiro são equipes que se destacam por contratações pontuais, que costumam dar certo. As equipes conseguem trocar os principais destaques e, ainda assim, manter o domínio.
O clube alvinegro foi buscar nos últimos anos nomes como Guilherme, revelado no rival, Diego Tardelli, Luan, Dátolo... Todos fundamentais para a equipe, que consegue repor estrelas como Ronaldinho e Bernard para manter o domínio. A tática de buscar jogadores “esquecidos”, em má fase ou despontando em pequenas equipes é costumeiramente certeira, mas falha em casos com o de André, que teve pouco destaque e atualmente está afastado.
Por outro lado, a equipe celeste tem postura diferente, mas também acerta nos reforços. Com mais aporte financeiro, conseguiu buscar destaques do futebol brasileiro, como Dedé, Manoel, Nilton, Marlone, Ricardo Goulart, Éverton Ribeiro... Ainda conta com a sorte em algumas contratações, como a de Marcelo Moreno: de encostado no Grêmio, o jogador virou artilheiro nacional nos mineiros.
Dinheiro da TV não é tudo...
Flamengo e Corinthians são, de longe, as equipes que mais recebem dinheiro da Rede Globo pelos direitos de transmissão das competições nacionais. Mesmo assim, nenhum dos dois está na final da Copa do Brasil – ironicamente, ambos foram eliminados pelo Atlético-MG com viradas épicas após vencerem o confronto de ida por 2 a 0 e abrirem 1 a 0 no Mineirão.
No contrato válido de 2012 a 2015, por exemplo, os dois times de maior torcida do país recebem, cada um, R$ 100 milhões. Na lanterna dos “grandes” clubes do Brasil, os dois rivais mineiros contam “só” com R$ 58 milhões cada.
As equipes conseguem maximizar as receitas e contam com bons planejamentos para a contratação de reforços, que mantêm os times com elencos que não são estrelado, mas competentes e no nível dos melhores do Brasil. Além da parceria com o Banco BMG, principal patrocinador dos dois times, os mineiros têm no sócio-torcedor um ponto forte, principalmente o Cruzeiro, que é o terceiro time com mais sócios no Brasil, com 65.771 – o Atlético-MG é apenas o nono na lista, com 33.213.
Uso de jogadores da base
Lucas Silva já atrai interesses de clubes da Europa
Foto: Ramon Bittencourt / Agência Lance
Além de conseguirem reforços em voga no futebol nacional, Atlético-MG e Cruzeiro também se destacam pela presença de jogadores das categorias de base do elenco principal. Com alguns até titulares fazendo frente a grandes nomes do Brasil, ambos os times atingiram o ponto certo na mescla entre experiência e juventude.
De um lado de Minas, o time celeste conta com Mayke (22 anos), considerado, um dos mais promissores laterais do Brasil, Lucas Silva (21 anos), meio-campista que já desperta interesse até do Real Madrid, e Alisson (21 anos), armador que entre idas e vindas finalmente conseguiu se estabilizar na equipe.
O time oposto não deixa por menos. Marcos Rocha, Jemerson, Dodô, Lucas Cândido, Marion e Carlos têm duas coisas em comum: ambos começaram nas categorias de base do Atlético-MG e são importantes para o clube alvinegro atualmente.
Tratamento das torcidas: Cruzeiro “peitou” organizadas e Atlético-MG vetou Mineirão
Ambas as equipes também se destacam fora de campo na questão dos estádios. O Atlético-MG surpreendeu Minas Gerais ao optar por mandar seus jogos no Estádio Independência, em detrimento do Mineirão. A equipe não concordou com o acordo proposto pelo principal estádio de BH, mas viu nascer no “Horto” uma mística que guiou a equipe ao título da Libertadores de 2013 – ainda assim, prefere jogar decisões no Mineirão, com exceção desta Copa do Brasil contra o rival.
No Cruzeiro, o diferencial ficou em relação ao tratamento das torcidas organizadas. Com punições e multas por causa de atitudes inconvenientes de torcedores, a equipe celeste agiu na contramão do futebol nacional e apertou o cerco contra as torcidas. O time comandado por Gilvan de Pinho Tavares vetou as torcidas de usarem referências à equipe, como o escudo, e proibiu jogadores de colocarem vestimentas das torcidas.
Elencos volumosos
O banco de reservas dos times mineiros é fora de série e os elencos estão acima da média nacional. No último fim de semana, por exemplo, o Atlético-MG se deu ao luxo de poupar praticamente todo o time titular e, mesmo assim, venceu o Palmeiras por 2 a 0 em pleno Pacaembu.
No Cruzeiro, avassalador nas últimas duas temporadas, o elenco é ainda mais brilhante. A equipe tem no mínimo dois jogadores para cada posição que seriam titulares em qualquer equipe do Brasil. Analise o time “reserva” cruzeirense e inveje: Rafael; Ceará, Bruno Rodrigo, Manoel e Samudio; Tinga, Henrique. Júlio Baptista e Alisson; Marquinhos e Borges. Fora até dos reservas ainda sobram nomes como William Farias, Marlone, Neílton e Dagoberto. É mole?
Treinadores que buscam o futebol ofensivo
Marcelo Oliveira está em segunda grande temporada no Cruzeiro
Foto: Yuri Edmundo / Gazeta Press
A mania dos treinadores nacionais na atualidade, principalmente da escola gaúcha, é “arrumar a casa” de trás pra frente. A estratégia às vezes dá certo – o Corinthians foi campeão de tudo entre 2011 e 2012 graças principalmente ao ótimo esquema armado por Tite que evitava gols -, mas na maioria das vezes os técnicos transformam as equipes em times recuados e até excessivamente defensivos. Não é o que ocorre em Minas Gerais.
Marcelo Oliveira tem implantado a tática desde que chegou ao Cruzeiro. O time ofensivo e que consegue executar um estilo de jogo que agrada à torcida. Na atual edição do Campeonato Brasileiro, tem disparado o melhor ataque, com 59 gols em 33 jogos, média que beira os dois por partida.
Na Cidade do Galo, Levir Culpi pegou um Atlético-MG em crise, muito por conta do legado deixado por Paulo Autuori. O ex-treinador da equipe tentou reinventar a forma de o time mineiro jogar, tentando mudar o time taticamente. No entanto, falhou feio e foi demitido. Culpi apenas devolveu a equipe às origens do time de Cuca e deu certo, com ataque que se destacou principalmente em casa nas fases da Copa do Brasil.