Victor coloca crucifixo dentro do gol na decisão por pênaltis da Libertadores de 2013 (Foto: Alexandre Alliatti)
Victor ainda estava no gramado do Mineirão, em êxtase, festejando o título da Libertadores do ano passado, quando desabafou contra Martin Silva, goleiro do Olimpia, hoje no Vasco:
- Ele tem problemas. Mas meu santo é mais forte que o dele.
Victor com terço da final depois de ser campeão da Libertadores (Foto: Reprodução / Globo Minas)
O atleticano acabara de viver uma espécie de guerra santa com o adversário. Victor, religioso, costuma colocar um terço dentro do gol que defende. É sua proteção. Na hora da decisão final por pênaltis, o arqueiro uruguaio resolveu provocar o brasileiro: pegava o terço e o retirava do gol quando era sua vez de ficar sob as traves. Aí Victor tinha que dar o troco: pegava o crucifixo e o colocava lá de volta. A batalha psicológica terminou com vitória do camisa 1 do Galo. E aquele momento virou um marco de sua fé.
Victor ganhou fama de santo. Como todo goleiro, quando faz uma grande defesa, costuma ser chamado de milagreiro. O mesmo acontece com seu adversário na final da Copa do Brasil. Fábio, do Cruzeiro, também muito apegado à fé, é outro a lidar com termos religiosos ao fazer seu trabalho. E não simpatiza muito com as expressões.
- Quem faz milagre é Deus. Nós fazemos defesas que às vezes, aos olhos dos homens, são impossíveis. Isso é por um dom e muito trabalho em campo – diz o cruzeirense.
Fábio, muito religioso, não simpatiza muito com o termo "milagreiro" (Foto: Gabriel Duarte)
Fábio é mais explícito em suas manifestações religiosas do que Victor. Nas entrevistas, a cada par de frases, o goleiro da Raposa insere uma mensagem sobre sua fé. O atleticano é mais discreto. E diz não se importar com o uso popular de termos como santo e milagreiro quando referidos a ele – é chamado de São Victor pelos atleticanos.
- Acho que ser chamado de São Victor é daquelas coisas que fazem parte do folclore do futebol. Vivi momentos especiais vestindo a camisa do Atlético, lances que levaram os torcedores a criarem esse apelido, como o pênalti defendido contra o Tijuana. Sou um homem religioso, sim, mas treino, e muito, para poder fazer as defesas que muitos chamam de milagres. Quando um goleiro é considerado milagreiro, é porque faz intervenções difíceis, raras. Fico orgulhoso por ter a confiança do torcedor do Atlético e sei o tamanho dessa responsabilidade – afirma Victor.
Elogios mútuos
Os dois goleiros chegam à final da Copa do Brasil com fama de salvadores. E trocam elogios. Não são amigos pessoais, mas se respeitam, se admiram. E sabem que são protagonistas em um momento histórico para o futebol mineiro.
- Fábio é um grande goleiro, vive uma fase importante junto com o Cruzeiro. Soube ocupar um espaço significativo no clube, em função da qualidade e do trabalho que desenvolve. Costuma ajudar seu time a conquistar os objetivos. Teremos duelos complicados, não só contra o Fábio, mas contra todo o time Cruzeiro – comenta Victor, grande nome da conquista da Libertadores do ano passado.
- Admiro o Victor desde quando tive a oportunidade de vê-lo jogar. Depois, tivemos uma relação muito boa, muito positiva, de respeito mútuo, fazendo algumas coisas juntos em campanhas. Ele é um exemplo fora de campo, uma pessoa correta. Dentro de campo, a gente sabe de todo seu potencial. Ele se firmou por seus méritos, pela dedicação e pela qualidade que exerceu em outras equipes e exerce no Atlético. Está de parabéns pelo trabalho e tem esse reconhecimento, mas sabe que todo ano temos que provar, que sempre temos que evoluir – opina Fábio, que tem 600 jogos pelo Cruzeiro.
Os dois goleiros começam a decidir a Copa do Brasil nesta quarta-feira, às 22h, no Independência. O duelo da volta será no dia 26, no Mineirão.