Final mineira de Copa do Brasil, Atlético x Cruzeiro. Estamos livres da aberração chamada torcida única. É uma espécie de confissão de falência da sociedade, das ditas autoridades, que preferem proibir todo um povo de acompanhar seu time de coração por não ser capaz de conter uma minoria violenta.

Serão 10% de torcedores "visitantes", o que minimiza a melancolia mas não a elimina. Se mesmo no "New Maracanan" Flamengo e Vasco dividem o estádio, nada justifica Atlético e Cruzeiro não dividirem o "New Mineirão". Na final da Copa Itália entre Roma e Lazio, também inédita, ano passado, as duas torcidas racharam o Olímpico.

E não venham dizer que a agressividade dos torcedores violentos dos times de Belo Horizonte é maior do que a dos inimigos cariocas. Em ambas as cidades os brigões são extremamente perigosos, tanto que rubro-negros da Torcida Jovem saíram do Rio na semana passada sem avisar a polícia mineira para brigar em BH, o que resultou em quase 90 detidos pela PM.

E na Itália? Tive a chance de acompanhar, em Roma, aquela final história em 2013. A atmosfera entre romanistas e laziales é única. Nada se compara no calcio. Quem também foi a um Milan x Internazionale bem sabe que na capital da "Bota" está o clássico mais tenso da Itália — parecido talvez apenas Genoa x Sampdoria, em Genova.

Torcida do Cruzeiro no Mineirão: força das arquibancadas para ajudar o time na final | GETTY

Quando há torcida única, nada garante que pela cidade não ocorrerão brigas. Se rubro-negros viajaram a Minas para enfrentar atleticanos nas ruas (e brigaram ao lado de cruzeirenses), torcedores impedidos de irem ao estádio torcer podem, sim, arrumar confusão por aí. A medida é apenas uma tentativa oca de dar satisfação à sociedade.

E mais: quando há apenas uma pequena parcela, em torno de 10% de uma torcida e os 90% da outra, essa minoria fica acuada. Se temos meio a meio, torcedores dos dois clubes envolvidos vão para o estádio ao mesmo tempo. Eles se dividem pelo caminho, mas quando um dos times tem raros fãs indo para a cancha, os de parcela menor ficam acuados. Pode ser até perigoso.

Menos mal que tanto no Independência quanto no Mineirão teremos pelo menos um pequeno grupo de torcedores do "visitante", para festejar ou mesmo serem gozados pelos rivais. E isso é muito importante. Como será o papel da torcida mandante. É preciso gritar, apoiar, alentar muito. E fazer a diferença. A bola também está com a "Massa" e com a "China Azul".