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7/11/2014 12:02

De gordinho e rabugento a ídolo, Fábio completa 600 jogos no Cruzeiro

Técnicos que passaram pela Toca da Raposa falam da convivência com o goleiro, que vai atingir a marca na partida contra o Criciúma, no próximo domingo

De gordinho e rabugento a ídolo, Fábio completa 600 jogos no Cruzeiro
Auge de Fábio no Cruzeiro, até aqui, foi a conquista do título brasileiro, no ano passado (Foto: Mauricio Paulucci)

São 11 anos em campo pelo Cruzeiro, aproximadamente 54 mil minutos de olhos atentos à movimentação do time celeste e dos adversários. Oito títulos conquistados, em 36 campeonatos disputados. Fábio faz parte de um grupo seleto de jogadores, formados por aqueles que se prendem a um clube - coisa rara atualmente no futebol. Na partida contra o Criciúma, neste domingo, o camisa 1 fará o 600º jogo pela Raposa e ficará a 33 do primeiro colocado, Zé Carlos.

O caminho teve percalços. Luta contra a balança, falhas, críticas, contusões e poucas chances na Seleção. Mas ele conseguiu uma reviravolta e alcançou uma regularidade que poucos goleiros atingem. Vieram os frutos. Fábio passou a ser um dos goleiros com mais destaque no futebol brasileiro, virou capitão e começou a conquistar títulos. Além disso, assumiu posto de um dos ídolos recentes da torcida cruzeirense.

PRIMEIRA PASSAGEM

Fábio teve uma passagem ainda muito jovem pelo Cruzeiro, entre 1999 e 2000. Com 19 anos, foi contratado após passar pelo Atlético-PR, mas adquiriu experiência no clube celeste. Na Toca da Raposa, foi reserva de André e conquistou a Copa do Brasil de 2000, sob o comando de Marco Aurélio, que logo depois da conquista deixou o cargo. A única partida foi em um amistoso em 4 de março de 2000, contra o Universal-RJ, no Mineirão. Mas nem por isso deixou de mostrar o seu talento, como conta Paulo Autuori, então técnico do time.

Fábio é o terceiro atleta que mais atuou pelo Cruzeiro

- Quando trabalhei com Fábio, pela primeira vez, ele estava começando. Ficou um tempo atuando no futebol paranaense e veio contratado como uma grande promessa. Eu me lembro que o Flávio Tenius (preparador de goleiros) o elogiou, e coloquei ele para treinar com o nosso time. E ele só confirmou isso, teve uma carreira linda, é um grande profissional, uma grande pessoa, todos que trabalharam com ele só o elogiam, como eu, por aquilo que ele conseguiu na carreira profissional - ressalta o treinador.

Sem espaço, Fábio foi transferido para o Vasco, onde inicialmente começou como reserva de Hélton. Conquistou o Campeonato Brasileiro e a Copa Mercosul de 2000, no banco, e o Campeonato Carioca de 2003, já como titular. As primeiras convocações para a Seleção vieram, e Fábio foi campeão da Copa América de 2004.

O RETORNO

Mais experiente, com títulos internacionais na carreira e passagens pela Seleção, Fábio voltou à Toca da Raposa II em 2005. Envolvido na troca pelo atacante Alex Dias, ele chegou em um momento de transição, com o clube celeste buscando encontrar um nome que substituísse Gomes, vendido para o PSV, da Holanda. Artur e Doni falharam na missão em 2004, em uma temporada ruim para a Raposa.

Fábio sofreu duras críticas após falhar em momentos decisivos - na final do Campeonato Mineiro diante do Ipatinga e na semifinal da Copa do Brasil contra o Paulista, de Jundiaí. Apesar do mau momento do goleiro, Levir Culpi não cedeu à pressão e o manteve como titular.

Técnico de Fábio em boa parte daquela temporada, Levir elogia o goleiro e diz que o fato de completar 600 partidas pelo Cruzeiro só ressalta suas qualidades em campo.

- O fato de você ter um atleta profissional que faz 600 jogos pelo mesmo time é um negócio que já fala por si. Esse cara merece o respeito de todas as pessoas que trabalham no futebol. Ele merece todos os parabéns.

LUTA CONTRA A BALANÇA

PC Gusmão destaca disciplina e determinação do goleiro Fábio (Foto: Reprodução/TV Globo Minas)

Um dos primeiros a treinar Fábio no Cruzeiro também não poupa elogios. Paulo César Gusmão chegou ao clube em 2004, após a queda de Vanderlei Luxemburgo, e ficou até 2005. Voltou ao time em 2006 e conviveu por mais tempo com o goleiro. PC pegou um time em transição, após o grande sucesso com a Tríplice Coroa. Antes disso, trabalhou com o camisa 1 no Vasco e revelou a luta do jogador contra a balança.

- Fui buscar o Fábio no União Bandeirante, já que ele teve uma experiência no Cruzeiro, na base, e tinha uma dificuldade muito grande em perder peso. Eu ainda era treinador de goleiros e o levei para o Vasco. Cobrei bastante. Às vezes rabugento, reticente, mas hoje, quando a gente joga contra, ele sempre me abraça, me beija, porque sabe que aquelas cobranças lá atrás foram importantes para ele completar essa marca tão importante pelo Cruzeiro. Porque, hoje em dia, é muito difícil você ficar como titular de uma grande equipe e fazer a diferença. Ele é disciplinado, determinado, e acima de tudo tem uma família que está sempre por trás dele, que o apoia muito.

Paulo César Gusmão detalha o que mais chamou a atenção em Fábio durante a passagem pelo time celeste.

- Ele sempre me chamou a atenção porque sempre foi um grande goleiro. As suas atuações me chamaram a atenção, mesmo gordinho na época. Ainda ressalto a consciência profissional de que ele teria que perder peso, até porque o goleiro precisa estar saltando e se ele tiver mais peso fica mais difícil. Hoje eu só tenho que dar os parabéns para ele por essa marca que ele está conquistando.

"FASE COMPLICADA"

Assim como no ano anterior, Fábio continuava a enfrentar um momento difícil em 2006. Sem títulos desde 2003, o Cruzeiro convivia com a pressão e tentava se acertar. Em agosto, após quase um turno inteiro de Brasileiro irregular, PC Gusmão foi substituído por Oswaldo de Oliveira, que também não conseguiu bons resultados, sequer conseguindo a vaga para a Libertadores.

Em 2014, Fábio disputou 65 jogos pelo Cruzeiro até o momento (Foto: GloboEsporte.com)

Em 2007, chegava o treinador que tinha dado a última Libertadores ao clube: Paulo Autuori. Com ele, a Raposa chegou à decisão do Campeonato Mineiro contra o Atlético-MG. Por ter feito melhor campanha na fase de classificação, o time azul jogava com a vantagem de igualdade na soma dos resultados das duas partidas.

No primeiro jogo, Fábio e seus companheiros viram um domínio enorme no segundo tempo do Atlético-MG, que fez 4 a 0. O goleiro levou um chapéu de Danilinho no segundo gol e, já nos acréscimos, logo após sofrer o terceiro, sequer viu o quarto. Fábio estava de costas para o lance, já que foi buscar a bola no fundo do gol após a penalidade e acabou surpreendido com a saída errada do Cruzeiro e a finalização de Vanderlei.

Para piorar, Fábio se lesionou no joelho no lance do segundo gol atleticano, quando, na tentativa de impedir que Danilinho mandasse a bola para a rede, se chocou com a trave. A lesão rendeu a Fábio quatro meses longe dos gramados. Paulo Autuori, que entregou o cargo após a goleada, analisa aquela situação adversa.

- O grande atleta passa por um momento difícil. Mas isso não coloca em xeque sua capacidade e seu valor, pelo contrário, faz ele maior. Os profissionais sempre têm essa fase, e aqueles que conseguem manter a postura e têm a capacidade de responder às adversidades são os campeões. E o Fábio é um grande campeão - analisou Autuori, que considera normal que o goleiro tenha recebido poucas chances com a amarelinha. - O futebol é o mercado que tem mais facilidade para o aparecimento de jogadores, então, na história, sempre houve isso, vários bons jogadores ficaram fora da Seleção.

RETOMADA

Sem muito tempo para lamentar o vice no Campeonato Mineiro, a diretoria do Cruzeiro anunciou a contratação de Dorival Júnior, que estava no São Caetano. Fábio foi substituído por Lauro, mas retomou a vaga de titular depois que se recuperou e participou da trajetória que levou o time ao quinto lugar no Brasileiro.

- Não era um momento favorável para o Cruzeiro, o time vivia uma situação bem difícil, sendo remontada. Para se ter uma ideia, em relação à primeira partida, o único jogador que foi titular e permaneceu titular ao longo do ano foi o Ramires. A equipe foi toda remodelada. O Fábio estava fora e vivia realmente uma situação um pouquinho complicada, mesmo com as qualidades e as condições que ele possui. Mas ele teve forças, trabalhou para buscar uma melhor condição e, a partir disso, construir uma história fantástica dentro de um clube que tem uma história maravilhosa.

Dorival ressalta o crescimento profissional de Fábio com o passar dos anos e a identificação com o Cruzeiro.

- É uma marca importante, uma identificação com o clube. Ele é um atleta diferenciado no meio, um ser humano especial, uma pessoa que tem todo o merecimento do mundo, atingindo um momento como esse. Eu gostaria de vê-lo tendo uma oportunidade dentro da seleção brasileira já há algum tempo, por todo o trabalho que ele desenvolveu. Para todo profissional, você ter um atleta vivendo um momento como esse e tendo uma identificação tão grande com o clube é sempre muito importante, principalmente por ter conhecido o Fábio. Ele é um exemplo para que todos possam segui-lo, inclusive para que mais jovens tenham ele como uma referência.

VOLTA POR CIMA

No Mineirão cartaz protesta contra Dunga e pede Fabio na Copa de 2010 (Foto: Agência Estado)

Adilson Batista trabalhou no Cruzeiro entre 2008 e 2011 e acumulou dois títulos mineiros e um vice-campeonato da Libertadores. O técnico, que conhecera Fábio como adversário em 2003, quando comandava o Grêmio, encontrou no goleiro um líder.

- Vi liderança, personalidade, profissionalismo, um goleiro seguro, concentrado, profissional excelente, de grupo, e só me ajudou. O Cruzeiro foi inteligente, enxergou nele potencial e é por isso que está lá por muito tempo.

Adilson destacou essas qualidades para a comissão técnica da seleção brasileira, mas não foram suficientes para levá-lo para a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul.

- Fiz o meu papel. Na época, o Jorginho (auxiliar da Seleção) esteve na Toca, conversei com ele, com o Dunga, e passei todas as características do Fábio. A gente respeita a opinião dos profissionais, porém, não foi por falta de indicação. A cada dia o Fábio mostra sua competência. Na minha época ele fez isso. Tínhamos três volantes, mas, toda vez que precisávamos, ele fazia grandes defesas. Por isso é um ídolo.

AFIRMAÇÃO

O auge de Fábio pelo Cruzeiro aconteceu sob o comando de Marcelo Oliveira, a partir de 2013. Foi com ele que conseguiu sua maior conquista no clube, o Campeonato Brasileiro do ano passado (relembre a feste cruzeirense no vídeo abaixo). Nesta temporada, o camisa 1 já levantou o troféu do Campeonato Mineiro e briga para fechar o ano com mais duas taças, do Brasileiro e da Copa do Brasil.

Ao falar sobre Fábio, Marcelo Oliveira destaca uma característica que ratifica o fato de o camisa 1 ser o capitão: liderança.

- Ele tem uma importância para o elenco, como um exemplo, e para o técnico, porque é um grande líder. Ninguém consegue alcançar tantos jogos se não for com dedicação e competência. Há a possibilidade de ficar jogando no Brasil, sendo feliz, valorizado e ídolo, como o Fábio é. Requer comprometimento e seriedade, que o Fábio tem.

Para Marcelo, o goleiro colhe os resultados de anos de trabalho sério e dedicação, além de ressaltar o feito de um atleta no Brasil, sem se transferir para o exterior e se tornar ídolo de um clube, atingindo marcas expressivas.

- Essa marca do Fábio tem uma importância para o futebol brasileiro e para todos nós aqui. É um exemplo de um capitão, de uma liderança, de um atleta que se dedica muito. Um profissional digno e muito comprometido com o trabalho. Uma pessoa que alinha a tranquilidade com a responsabilidade. Para o futebol brasileiro, entendo que fica claro que existe a possibilidade de um jogador atuar aqui no país, construir uma carreira brilhante e se tornar independente (financeiramente) sem ter que ir para o exterior atrás do sonho de jogar na Europa. É possível que seja assim.

Fábio foi comandado por 12 treinadores diferentes no Cruzeiro (Foto: Editoria de Arte)

4077 visitas - Fonte: Globo Esporte




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