O técnico Felipe Conceição, atualmente na Inter de Limeira, passou a limpo a trajetória no futebol durante a participação no "Charla Podcast", na última terça-feira. Em um dos trechos da entrevista, ele revelou bastidores da passagem à frente do Cruzeiro, em 2021, quando o clube mineiro estava na Série B do Brasileiro em meio a uma grave crise financeira.

- Acaba a Série B de 2020 em 2021, o Cruzeiro fica em 13º com o Felipão, e eu tinha tirado o Guarani da vice-lanterna para a sexta colocação. Veio a pandemia, e eu fiquei sem jogador, não deu para subir. Tive quatro ou cinco propostas, de Avaí, Coritiba, Cuiabá três vezes. Ligavam toda semana, mas não fui, porque tinha prometido que ficaria até o fim. Aí na reta final veio o América-MG, veio o Cruzeiro. Fizeram a proposta e aceitei, mas não tinha como, por todo o contexto. O treinador não é mágico. Eram três, quatro meses sem salários, funcionários faziam greve, jogadores faziam terceiro, quarto acordo e não recebiam também. Conceição também contou que, pensando na situação do clube, recusou, sem falar o nome, um jogador com salário de R$ 400 mil. - Em alguns momentos eu fui contra algumas coisas para ajudar o clube. Aí acabaram sobrando para mim. Um exemplo: no Cruzeiro, foi me oferecido jogador que ganhava R$ 400 mil, e eu não quis. Acabei fazendo pensando no clube. Hoje eu viraria e falaria para o presidente: "tecnicamente, eu aprovo, mas se quiser pagar tudo isso sem estar pagando salário, é contigo". Falei na época que não queria. A tia da cozinha reclamando todo dia comigo, ganhando ali dois salários mínimos.

Diante do contexto, Felipe Conceição disse que, hoje, considera que foi um erro trocar o Guarani pelo Cruzeiro na época. - Um dos erros foi largar o Guarani, que eu tinha ajeitado, com salário em dia, bonitinho, jogando do jeito que eu gosto, e aceitar um desafio achando que eu mudaria um clube. Você pode mudar um time, não u clube. Foi uma ilusão naquele momento, o que não tira a grandeza do Cruzeiro. Tenho maior orgulho de ter sido treinador de lá. Tirando a grandeza do Cruzeiro, olhando hoje, falaria que não era hora. Antes de mim estava o Felipão e não deu certo, e depois foi o Vanderlei (Luxemburgo) e também não deu certo. Você acha que o Felipe, começando a carreira, conseguiria organizar aquilo tudo? Serviu de experiência. Sempre falei que foi uma escolha equivocada ter saído do Guarani e ido para o Cruzeiro, apesar do tamanho do clube. Felipe ficou no Cruzeiro do fim de janeiro ao início de junho. Foram 19 partidas, com oito vitórias, três empates e oito derrotas (aproveitamento de 47,3%). O trabalho chegou ao fim com a eliminação na terceira fase da Copa do Brasil para o Juazeirense. Depois do Cruzeiro, Conceição dirigiu o Remo e passou por Chapecoense, Náutico, Sampaio Corrêa, Santa Cruz e Uberlândia antes de chegar à Inter de Limeira durante a Série D do Brasileiro, ficando a um passo do acesso para a Série C - acabou eliminado nas quartas de final para o Maringá-PR. De contrato renovado, ele seguirá no comando da Inter para a disputa do Paulistão 2025.