Ivan Simões é o gerente de futebol do Formiga (Foto: arquivo pessoal)
Ivan estava sentado na varanda de casa com o pai em Formiga, no Centro-Oeste de Minas Gerais, e ouvia mais um confronto entre Cruzeiro e Atlético-MG pelo rádio. Fanático pelo time celeste, o garoto de 12 anos absorvia a grandeza do clássico mineiro e alimentava a vontade de vestir a camisa estrelada. Quem sabe um dia disputar um clássico contra o Galo? O caminho seguido passou da simplicidade dos campos amadores para a imponência do Mineirão, onde vestiu a camisa celeste. Onde enfrentou o Galo. Onde escreveu um capítulo importante nos embates entre Atlético e Cruzeiro logo na estreia dele: é o autor do gol mais rápido da história do clássico de Minas Gerais. No mesmo gramado onde saciou o desejo de infância, Ivan ainda viu ser lançado o volante Lucas Silva, observado por ele na base celeste. No mesmo gramado onde quer levar, novamente, o nome da cidade natal: gerente de futebol do Formiga Esporte Clube, Ivan Olivério Simões tem a missão de recolocar o clube de volta à elite do futebol mineiro.
O convite para integrar a equipe do interior de Minas Gerais foi recebido no início deste ano, feito pelo presidente do clube, Arnaldo Gontijo de Freitas. O objetivo era formar uma equipe forte. Buscou reforços e foi responsável por grande parte das contratações. O trabalho tem apresentado efeito. O Formiga foi um dos seis times classificados para o Hexagonal Final da competição. Atualmente na terceira colocação, com sete pontos, o time ainda tem chances de acesso ao Módulo II em 2016. O trabalho como dirigente se deve, segundo Ivan, a vários amigos feitos na carreira, que, mesmo em pequenos detalhes, ajudaram no trabalho que desempenha atualmente no clube. Um deles foi o amigo Valdir Barbosa, que trabalhou no Cruzeiro por 17 anos e hoje está no Coritiba.
– Tive uma visão boa das quatro linhas. Quando trabalhei no Cruzeiro tinha muito contato com o Valdir. Hoje me espelho muito nele. Peguei muitas coisas boas que ele fez lá e trouxe para o Formiga. Foi um trabalho difícil, mas que está aparecendo. Não é fácil formar um elenco, e estamos procurando melhorar cada vez mais. Está dando certo, e esperamos passar muitos anos por esse projeto – disse.
Como jogador, Ivan vestiu a camisa celeste entre 1981 e 1990, ao lado do ídolo Joãozinho, ponta-esquerda que ajudou o clube a conquistar a primeira Taça Libertadores da América em 1976 e grande ídolo de Ivan. Ao todo, foram 46 jogos disputados pela Raposa, com 12 gols marcados. A alegria mesmo foi do pai, grande incentivador e inspirador da carreira de Ivan, que aprendeu muito na base do Formiga e nos campos amadores da cidade.
– Comecei minha carreira atuando nas categorias de base do Formiga e já jogava no meio de jogadores amadores. Frequentava muito os campeonatos e gostava demais de jogar com eles. Mas a inspiração de jogar veio do meu pai e do Cruzeiro. Gostava muito de ouvir os jogos do clube com ele, então fui gostando. Com 12 anos já estava no amador do Formiga e participava de campeonatos amadores da cidade – lembrou.
Com o desempenho mostrado nas competições regionais, Ivan decidiu tentar uma oportunidade no Cruzeiro aos 14 anos. Dos rádios para o gramado. Meia, clássico camisa 10, o menino superou a dificuldade, manteve a calma e fez o teste. Foram quatro anos até integrar o elenco principal do clube de Belo Horizonte. Neste período, participava de campeonatos juniores e respirava o futebol. Jogava na base, e, no campo logo ao lado, via o grande ídolo: Joãozinho. O escrete azul-celeste contava ainda com Tostão II e Palhinha. A chance de atuar ao lado deles surgiu em 1982. A primeira oportunidade foi garantida pelo técnico Yustrich.
– Nosso time era muito bom. Mas eles foram observando e me chamaram para treinar no profissional. Eu estava em um grupo de oito jogadores que integraram o grupo principal. Quem nos deu essa oportunidade foi o técnico Yustrich. Então, a partir desta chance joguei mais um ano no time de juniores e acabei integrando o elenco de cima. Depois de criança, sempre ouvia os jogos, e estar ali ao lado de grandes jogadores foi uma emoção enorme – disse.
19 SEGUNDOS, UM GOL
Dia 13 de novembro de 1983 foi mais um daqueles domingos em que Belo Horizonte para: dia de Atlético-MG x Cruzeiro. O time celeste buscava a vitória para manter as chances de título da Taça Minas Gerais. No meio da tensão, estava Ivan, recém-promovido da base. Escalado como titular, seria o meio-campo do Cruzeiro. Na cronologia do clássico, o nome de Ivan entrou para a história em um curto espaço de tempo. A saída de bola foi do Cruzeiro, que trocava passes no campo de defesa do Atlético-MG. Passaram-se 10 segundos, e a equipe celeste continuava com a bola. No rádio, os narradores ainda davam as escalações quando o Cruzeiro avançou pela defesa atleticana. E marcou. Foram 19 segundos na estreia em clássicos. Das frequências do rádio para a história. (Veja vídeo acima)
– Foi o primeiro clássico, e tive a felicidade de fazer o gol mais rápido entre Cruzeiro e Atlético-MG. Foi o que mais me marcou em minha carreira. É uma sensação diferente. É difícil dizer o que passou na cabeça. Demos a saída, e a jogada, simplesmente, se desenvolveu. Quando recebi a bola, apenas toquei para o gol. Foi uma emoção muito grande. Desde criança sonhava, e ali estava eu fazendo o gol. É indescritível. Até hoje não me esqueço – comentou.
Ivan marcou o gol e escreveu o nome na história do maior clássico de Minas, mas viu o Atlético-MG virar e sair com a vitória por 3 a 2. Permaneceu no clube até 1985, quando se transferiu para o Vitória. Mas as lembranças do primeiro gol em clássico e as amizades feitas com os ídolos ele espera carregar por toda a vida.
– Sou cruzeirense e desde pequeno acompanhei os jogadores famosos, os ídolos. Jogar no Cruzeiro foi a realização de um sonho, e realizei esse desejo de defender meu clube do coração. Saí de lá realizado – afirmou.
IVAN "FORMIGA"
Depois do Cruzeiro, nenhuma experiência, segundo Ivan, foi tão marcante quanto em 1985, quando defendeu o Vitória. Primeiro pela ambientação no clube. Segundo por chegar ao time que estava há quatro anos sem conquistar o título baiano. O último regional conquistado pelo rubro-negro havia sido no ano de 1980. Entre 1981 e 1984, o arquirrival, o Bahia, tinha conquistado o caneco.
Coube a Ivan fazer o gol que tirou o rubro-negro da fila. O Vitória empatava com a Catuense no estádio da Fonte Nova. No fim do primeiro tempo, após dividida de cabeça dentro da área, a bola sobrou para Ivan. Ele dominou, bateu forte de direita e fez o gol da vitória e do título do rubro-negro após quatro anos.
– O clássico era Vitória e Bahia. Mas a sensação era a Catuense, adversária do Vitória. Esperávamos um jogo muito difícil, e tinha vários anos que o Vitória não era campeão. Então todos estavam esperando. Esse é o gol que mais me recordo, por causa desse título. É uma lembrança muito boa e que gosto de relembrar – afirmou.
Além do título baiano, Ivan também ganhou um apelido: o nome da cidade natal, Formiga.
– Tinha um outro jogador que também se chamava Ivan, e a imprensa, para conseguir diferenciar, me apelidou assim – explicou.
Ivan ainda passou pelo Democrata GV, em 1984, River-SE e Criciúma, em 1986, Avaí, em 1987, Fluminense de Feira Futebol Clube, em 1989 e 1994, Pouso Alegre, em 1990, e Mamoré, em 1993. Em 1994, quando o meia foi para o Flu de Feira de Santana (BA), o corpo já dava sinais de desgaste, e o então meia decidiu parar.
RETORNO AO CRUZEIRO E SELEÇÃO
Após encerrar a carreira, Ivan retornou para a cidade natal. Queria se distanciar um pouco da vida agitada dentro das quatro linhas. Assim permaneceu até 2001, aos 34 anos, quando recebeu um convite inesperado. O Cruzeiro o convidara para ser observador técnico do clube. Prontamente ele aceitou o convite, retornou ao futebol trabalhando no time do coração e pôde viver novamente momentos históricos na equipe.
– Vivi a época da Tríplice Coroa e sempre assistia aos jogos. Era um ambiente sensacional naquela época. O (Vanderlei) Luxemburgo estava em sua melhor fase e eu o admirava pelo trabalho. Tínhamos festa dentro do clube e comemorávamos o desempenho e as vitórias. Ele foi o responsável por reunir o time e dar bons treinos. Era o Luxemburgo que impressionou todos – disse.
Como observador técnico, Ivan chegou a pincelar atletas importantes para a Raposa, como o volante Eurico e o atacante Vinicius Araújo. O principal nome observado por Ivan foi do volante Lucas Silva, contratado pelo Real Madrid.
– Tínhamos jogadores de 17 a 20 anos que procuramos ajudar. Sempre conversávamos (com os atletas) e dávamos conselhos. Eram bons meninos e sempre nos ouviam. Ficamos satisfeitos com o Lucas Silva. Sempre foi um bom jogador. Sabemos a dificuldade que é estar longe da família e que é mais difícil ainda chegar lá em cima, nos grandes clubes – disse.
Ele permaneceu no Cruzeiro como observador técnico até 2011. Saiu do time mineiro e recebeu um segundo convite especial. O formiguense foi convidado para ser o observador técnico da seleção brasileira na categoria sub-20 pelo então treinador Ney Franco. Mesmo durando poucos meses, ele garante que foi uma grande experiência.
– Recebi o convite dele e fui. Fiz a observação de poucos jogos. Depois disso, o Ney Franco saiu, não teve continuidade do projeto e eu não permaneci, já que o projeto era dele. Mas foi uma experiência muito boa para a carreira – concluiu.