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1/10/2015 12:34

Entrevista: Mano planeja novo Cruzeiro, títulos e fala de corrupção, 7 a 1 e ideias para o futebol

Treinador completa um mês no Cruzeiro, mas já faz planos para conquistar em 2016

Entrevista: Mano planeja novo Cruzeiro, títulos e fala de corrupção, 7 a 1 e ideias para o futebol
Mano Menezes ressaltou sentimento forte pelo Cruzeiro desde 1997, quando fez estágio no clube celeste


Há um mês, Mano Menezes era anunciado como técnico do Cruzeiro, em substituição ao demitido Vanderlei Luxemburgo. Desde então, o Cruzeiro não voltou a ser a melhor equipe do futebol brasileiro, mas é nítida a evolução. Se ainda não apresenta o futebol brilhante do time bicampeão nacional em 2013/2014, mostra melhor organização tática e tem sido mais eficiente, o que faz a torcida sonhar com nova temporada vitoriosa em 2016. O treinador não promete títulos, mas trabalha para conquistá-los. “Penso que os grandes clubes têm de pensar em títulos sempre. Não pode iniciar a temporada almejando menos do que conquistar alguma coisa. A distância entre almejar e estar preparado para atingir o objetivo é que a gente precisa construir”, diz, em entrevista exclusiva ao Superesportes.

Por que aceitou o convite do Cruzeiro, mesmo com risco de rebaixamento?

"Eu gosto do Cruzeiro. A gente tem uma relação de sentimento forte desde 1997. Quando o Paulo Autuori dirigia a equipe, o Cruzeiro me permitiu fazer um estágio, que foi o meu primeiro estágio num clube de ponta do futebol brasileiro. Para um desconhecido como eu era, isso tem muito valor. Estabelecemos uma relação de amizade. Sempre olhava para o Cruzeiro como lugar em que gostaria de trabalhar na minha carreira. Já havia acontecido duas oportunidades em que não conseguimos realizar. Desta vez, achei que era hora de estar aqui. Olhei para o Cruzeiro e pensei que o Cruzeiro precisava de um treinador como eu, e eu precisava de um clube como o Cruzeiro para dirigir nessa hora".

O Cruzeiro tentou te contratar no começo de 2008, iniciou negociações com você e a diretoria até chegou a dar o negócio como certo naquela ocasião. Pareceu que você roeu a corda pelo projeto do Corinthians. Explique aquele momento e por que aquela negociação não deu certo.

"Primeiro que não houve retrocesso na negociação, ela apenas não evoluiu. Houve intenção do Cruzeiro na época, como houve do Corinthians. O Cruzeiro havia se classificado para a Libertadores, sob o comando de Dorival Junior, e o Corinthians havia sido rebaixado em jogo contra o Grêmio, que eu dirigi lá em Porto Alegre. E o que pesou na balança foi, estrategicamente, visão de carreira. Era o primeiro trabalho fora do Rio Grande do Sul e era importantíssimo que esse trabalho produzisse resultado. Futebol é assim, você pode aparecer bem, muitos técnicos foram assim, no primeiro trabalho, porque essa ultrapassagem é muito dura, e no segundo trabalho ter continuidade na evolução era importante. No Corinthians a possibilidade era muito maior disso acontecer, num clube que ia jogar a Série B do Brasileirão, que tinha estrutura, que apontava com quase 100% para subir de divisão. A visão foi exatamente essa. Na época, foi assim que a gente viu. Minha resposta ao Cruzeiro foi baseada nisso. Almocei com o Alvimar (então presidente do clube) e Zezé (vice-presidente de futebol), para agradecer o convite e dizer que escolheria o Corinthians, porque achava isso importante em termos de carreira, e dizer que um dia iríamos nos encontrar".

Você precisará qualificar o elenco, mas ao mesmo tempo você vai ter que reduzir um pouco o grupo. Qual o número de jogadores você acha ideal para trabalhar em 2016? E você pode prometer título para a torcida do Cruzeiro, que esse ano ficou decepcionada?

"Penso que os grandes clubes têm de pensar em títulos sempre. Não pode iniciar a temporada almejando menos do que conquistar alguma coisa. A distância entre almejar e estar preparado para atingir o objetivo é que a gente precisa construir. Em alguns períodos a distância é maior, em alguns outros ela se aproxima mais. O que eu penso é que grandes clubes precisam ser mais estáveis. Você não pode ser bicampeão e no outro ano brigar para não cair, ou há dois anos brigar para não cair. Com a estrutura que se tem à disposição, a gente precisa ser mais estável e aí o segredo está no planejamento. Para você não oscilar tanto, você precisa amparar suas decisões em questões mais técnicas. É por isso que falávamos de analista de desempenho. Grandes equipes do mundo têm observadores em todos os lugares. E isso a gente precisa fazer melhor para não oscilar tanto e para poder prometer ao torcedor que você vai estar no grupo de elite, brigando pelo título. Todos os grandes vão ter condições de ganhar, mas você tem que estar sempre na briga".


Como evitar uma queda tão brusca quando o que dita muito é o mercado? O Cruzeiro, por exemplo, em parte, foi vítima de uma debandada de jogadores, na segunda quinzena de janeiro, com a pré-temporada iniciada. Houve uma série de perdas. Embora você tenha tempo de planejar o time até 2017, um planejamento bem feito se sobrepõe a esse tipo de fenômeno do mercado?

"Tirando a parte subjetiva do futebol, que é importante ressaltar que existe, nós jogamos um esporte em que uma bola muda a história, é possível planejar grande parte das questões. Existe um livro, escrito por um ex-dirigente do Barcelona, Ferran Soriano, de título 'A bola não entra por acaso', que aborda muitas dessas questões. A dificuldade do dia a dia, como você precisa enxergar o futebol de hoje. Eu diria, olhando de longe, que o mundo sabia que alguns grandes jogadores sairiam do Cruzeiro dois anos após a conquista de dois Brasileiros ou no mínimo depois da Libertadores seguinte.

Se você sabe que isso vai acontecer, que é inevitável, que a valorização dos jogadores naturalmente te impede de continuar com todos, por mais significativo que eles sejam, que eles vão buscar realizações, que é importante para eles terem realização profissional, irem para um outro mundo, você precisa se preparar para isso. E o caminho é que às vezes confunde um pouco. Quando o Everton Ribeiro chegou, ele não era o Everton Ribeiro que saiu. Mas quando você vai buscar um substituto para o Everton Ribeiro que saiu, você quer outro Everton Ribeiro. E aí não dá, não existe possibilidade de fazer. Isso é importante quando você vai fazer esse planejamento, você encontrar alguns jogadores que precisam sustentar, serem referência, mas precisa encontrar outros que precisam crescer no Cruzeiro, fazer o jogador no clube. Isso faz parte da oxigenação da folha de pagamento, se não você atinge números estratosféricos e não consegue cumprir. Uma folha que atinge 100 pontos no final de três anos de conquista, se você não oxigenar, ela vai a 150 pontos logo depois. Na verdade, você precisa voltar um pouco para 80 pontos, para depois chegar aos 100 e depois chegar nas conquistas de novo. Para você não falar em valores, que são fora da realidade, acho que é bom parâmetro para entender como isso funciona".



Então você já está atrás dos seus novos "Evertons Ribeiros"?

"Temos que estar atentos ao mercado, é isso que você analisa em termos de desempenho para errar o menos possível. Você erra, é um mundo em que a gente erra, mas não se pode errar oito em dez (contratações). Temos que acertar oito e errar no máximo em dois. Essa é a proporção de um bom planejamento. E o Brasil produz jogadores de qualidade, em profusão eu diria. Tanto quanto produzia antes. Cabe a nós detectar onde eles estão, a característica que eles têm para essa ou para aquela equipe que a gente tem, para a característica de jogo, para cultura futebolística do Cruzeiro, que é diferente da do Grêmio, por exemplo. Você encontrar e unir isso é uma visão que temos que ter e da competência de fazer um trabalho planejado".

Passando por esse risco de rebaixamento, você montará um novo Cruzeiro. Como pensa construir esse time, como jogará o Cruzeiro a partir de 2016? A escola cruzeirense é ofensiva, de toque de bola. Isso será considerado?

"No Brasil, hoje, você reduz a discussão para os seguintes aspectos: se o time joga com três zagueiros, é um time defensivo. Se joga com três volantes, é um time defensivo. Com três atacantes, é um time ofensivo. São pensamentos muito rasos para o futebol de hoje. Recentemente, lendo o livro do Guardiola, li uma parte em que ele chegou no Bayern. O jornalista que escreveu o livro manifestou impressão estranha com a dedicação o Guardiola à parte defensiva, algo que o jornalista não esperava. Em conversa reservada, ele questionou o Guardiola sobre isso. Como um técnico conhecido pela forma brilhante que o time dele joga, com o futebol bem jogado, tinha tantas preocupações com a parte defensiva. Ele respondeu que ‘se minha equipe defender bem, tenho certeza de que minha equipe estará muito preparada para atacar bem’. Respeito essa ordem, mas você pode inverter isso. Você pode dizer que uma equipe que ataca bem, ela poderá se defender menos. É verdade. Mas ambas têm uma relação muito direta. Uma equipe que se defende mal, ela ataca com medo. Você não pode atacar ninguém com medo. Se você estiver construindo a jogada ofensiva e ficar com medo de perder a bola e acontecer algo ruim lá atrás... Não existe mais uma coisa separada da outra. Como não existe parte física separada da técnica. O futebol é um todo. Está aí a periodização tática para comprovar isso. Precisamos enxergar futebol como um todo. Temos de ter preocupação com partes especificas. A partir da escolha de um modelo de jogo, se constrói todo o resto, se constrói os treinos, os treinos específicos para características dos jogadores. Como todo brasileiro, gosto de futebol ofensivo, mas outras modalidades brasileiras só atacavam e tiveram de se preocupar com a parte defensiva. O basquete brasileiro só atacava e defendia muito mal. Depois, tivemos que ouvir técnicos de fora que precisávamos melhorar a parte defensiva. O vôlei brasileiro também era técnico, mas bloqueava pouco, defendia mal. Esse é um assunto que precisamos discutir bem. Não precisamos abrir da parte ofensiva para defender bem. As coisas precisam estar interligadas. Aí voltamos para a qualidade do jogo. Com três volantes ou três atacantes, o time tem de jogar bem. Os volantes precisam ter qualidade para jogar. É muito duro ouvir isso, mas a Alemanha ganhou de 7 a 1 com três volantes, três de muita qualidade. Essa é a discussão que me serve. Cada vez mais, temos de entender que o jogo precisa ser melhor jogado. Todos os sistemas jogam bem se bem executados. E todos jogam mal se forem mal executados".

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