Torcedoras do Cruzeiro demonstram paixão pelo Cruzeiro (Foto: Marco Antônio Astoni)
Papagaios é uma pequena cidade do interior de Minas Gerais, com cerca de 15 mil habitantes, localizada na região central do estado, a 144 quilômetros da capital Belo Horizonte. O motivo do nome? Uma situação inusitada. Quando ainda era um povoado, no começo do século passado, o local servia como ponto de passagem de viajantes e comerciantes, que paravam em uma venda de beira de estrada. Nela, a principal atração era um papagaio, que falava várias frases e fazia a alegria de quem parava no vilarejo. “É a vila do papagaio. É a vendinha do papagaio”, diziam. Até que, em 1954, ano em que foi emancipada, não houve dúvidas na hora de batizá-la.
A capital nacional da ardósia, além ser rica na mineração, também se destaca na agropecuária, na produção de eucaliptos e... no grande número de cruzeirenses. Papagaios é a cidade com maior proporção de torcedores do Cruzeiro no Facebook.
Segundo um mapeamento feito pela rede social em parceria com o GloboEsporte.com, 57,3% das pessoas que têm conta na rede social e que se dizem naturais da cidade mineira curtiram a página do time azul: a maior proporção em todo o Brasil.
Uma breve volta pela cidade confirma o fato. É camisa do Cruzeiro para cá, camisa do Cruzeiro para lá. Dentro das lojas e bares, há vários pôsteres do time. Carros, motos e bicicletas têm adesivos referentes às várias conquistas ao longo dos 94 anos do clube. Não é difícil imaginar a mobilização local quando o Cruzeiro vai jogar, além do tamanho da festa após vitórias e títulos.
O professor de educação física Murilo Valadares é um dos cruzeirenses mais conhecidos da cidade. O amor pelo clube é tanto que Murilo tem as cinco estrelas do escudo tatuadas no corpo. Ele é um dos responsáveis pelas carreatas e festas após as conquistas dos títulos.
Mas só quando o Cruzeiro joga fora. Quando a partida é no Mineirão, Murilo ignora os quase 150 quilômetros de distância entre Papagaios e Belo Horizonte. É presença certa no estádio.
- Não perco jogo, não falho. Não tem distância, nem estrada e nem horário que me impeçam de ir ao Mineirão. Sou sócio do futebol, mesmo morando longe. Nem quando o jogo é às 22h eu deixo de ir.
Murilo reafirma a superioridade numérica da torcida do Cruzeiro em Papagaios e aproveita para cutucar os adversários atleticanos.
Torcedor exibe as estrelas do escudo do Cruzeiro tatuadas nas costas (Foto: Marco Antônio Astoni)
- Quando o Cruzeiro ganha, a festa vira a noite. A praça fica lotada até amanhecer. Quando acontece uma vitória deles, o que é raro, a gente só fica sabendo de ligar o rádio ou a televisão - afirma o torcedor.
QG cruzeirense
O principal ponto de encontro da torcida azul é o Bar do Maurinho. O local é repleto de pôsteres, flâmulas, camisas, copos e bandeiras. Cruzeirense, o comerciante ressalta, entretanto, que o espaço é democrático.
- Aqui a gente recebe os atleticanos também. São muito poucos na cidade. Se eles não vierem, nós vamos zoar a cara de quem? - brinca Maurinho.
Ele conta que, em dias de jogos importantes do Cruzeiro, tem que colocar mesas e cadeiras na rua, tamanho o movimento. Segundo ele, quando o Atlético-MG joga, não há mobilização nem parecida em nenhum ponto da cidade.
- Não dá nem pra comparar, amigo. A diferença é muito grande. De cada 10 pessoas aqui de Papagaios, nove são cruzeirenses. Mesmo que os atleticanos quisessem se juntar pra ver jogo, eles não iriam conseguir. É uma espécie em extinção por aqui.