Bruno Vicintin é um cara calmo, de semblante tranquilo e fala mansa. Empresário do ramo eletro-metalúrgico, casado e pai de dois filhos, o novo vice-presidente de futebol do Cruzeiro gosta de uma boa conversa. Se o tema for pescaria então, o papo costuma ir longe. Na parede de seu escritório, na região oeste de Belo Horizonte, Bruno exibe, ao lado de faixas e adereços do clube de coração, provas de que suas proezas, nos mares mundo afora, não são só conversa de pescador. Ele garante – e atesta com fotos – que já pescou oito dos nove tipos de peixe com bico no mundo, o popular peixe-espada. O nono da lista está na mira e a agenda do empresário já tem marcada uma viagem para a Nova Zelândia, onde pretender se tornar o primeiro latino-americano a realizar a façanha de pescar todas as espécies de peixe-espada.
Pescaria, entretanto, tem sido um assunto raro para Bruno Vicintin nos últimos dias. Desde que deixou a superintendência das categorias de base do Cruzeiro e assumiu a vice-presidência de futebol, há pouco menos de um mês, Bruno só tem falado sobre isso. Engana-se quem pensa que o tema o incomoda. Muito pelo contrário. Os olhos do empresário chegam a brilhar quando ele fala sobre o Cruzeiro e sobre sua nova função dentro do clube. Neste momento, o semblante calmo do começo do papo dá lugar à agitação e à energia de quem tem muito a mostrar e a oferecer. Afinal, não é todo dia que um torcedor de arquibancada chega a um posto tão importante dentro da instituição que ama.
Nesta conversa com o GloboEsporte.com, Bruno Vicintin conta sobre sua vida, projetos, ideias e planos para contribuir com a modernização do Cruzeiro. E também fala um pouco sobre a paixão pela pescaria. Afinal, ninguém é de ferro!
Quem é Bruno Vicintin?
- Eu sou engenheiro, casado, tenho dois filhos e o terceiro está vindo. Sou cruzeirense e sonhador. Sonho todos os dias.
Como foi o começo da sua história com o Cruzeiro?
- Meu pai é palmeirense. Minha família é de São Paulo, inclusive eu nasci em São Paulo, mas pouca gente sabe disso. Na década de 1970, minha família abriu negócio em Minas. Eu sou de 1977. Abrimos uma fábrica em Várzea da Palma, no norte de Minas. Como meu pai torcia para o Palestra Itália de São Paulo, ele resolveu que iria torcer para o Cruzeiro, o Palestra de Minas. Na época, era comum torcer para um time em cada lugar. Cresci cruzeirense, assistindo Supercopa. Na década de 1980, o clube teve uma fase muito difícil, mas a partir de 87, 88, voltou a ter força. Eu vivi a década de 1990 toda. Quando surgiram as redes sociais, o Orkut especificamente, eu participava muito, como torcedor mesmo. Conheci vários amigos, também loucos pelo clube, e entrei pra uma torcida organizada, a TFC, Fanaticruz. Na época, era muito pequena, 10 ou 12 integrantes. A gente assistia aos jogos do Cruzeiro fora de Belo Horizonte na minha casa e ia sempre ao Mineirão. A torcida não tinha nem bateria. Foi seguindo assim.
Das arquibancadas para o alto comando do clube. Como se deu este processo?
- Tudo tem a ver com rede social. Eu comecei a escrever sobre os jogos que tinha visto, na Supercopa, na Copa do Brasil, as grandes conquistas do Cruzeiro. E pensei. Esse negócio dá um livro. E virou. O Cruzeiro tinha 86 anos e eu escrevi sobre 86 jogos da era Mineirão. Tudo caminhou a partir daí. Eu comprei a cota do clube, bem novo. Fui pedir ao presidente Alvimar (Perrella, presidente do Cruzeiro entre 2003 e 2008) e ao Dr. Lemos (Francisco Lemos, vice-presidente) para que o livro fosse oficial do clube. Desde aquela época, tive uma empatia muito grande com o Dr. Lemos e ele me convidou pra ser conselheiro. Entrei no Conselho e me aproximei da vida política do clube. Eu passei do radicalismo da torcida pra frieza da diretoria. Existem dois mundos no futebol. Você, na diretoria, tem que ser muito mais frio e não tomar decisões passionais. Quando o Dr. Gilvan se elegeu, eu estava no meu segundo mandato de conselheiro. Em 2011, eu tinha ficado muito triste com o futebol e com a situação do Cruzeiro. Eu me senti na obrigação de ajudar naquele processo de transição de uma diretoria vitoriosa, mas que já vinha de muito tempo para o novo comando. Eu já tinha um bom conhecimento e por isso fui convidado para ser superintendente das categorias da base, onde passei três anos. Tivemos sucesso com os resultados. Nossa meta era subir três jogadores por ano e superamos a meta todos os anos. Toda vez que eu entrava na Toca da Raposa (local de trabalho das categorias de base do Cruzeiro), eu achava aquilo muito doido. Quando eu era criança, passava na porta, e aquilo era um negócio inatingível. De repente, eu era o chefe. Um negócio louco. Isso mexe muito com a paixão que você tem pelo clube. Pra mim, só existem dois tipos de dirigente de futebol. O doido e o ladrão. Não existe outro tipo. Ou você é doido, porque trabalha de graça, dedica seu tempo, sacrifica sua família e seus negócios por um bem maior que você acredita, que é o bem do clube, ou você tem algum outro interesse.
Bruno Vicintin, ao lado do técnico Mano Menezes e de Gilvan de Pinho Tavares (Foto: Tayrane Corrêa)
Como foi o convite para assumir um cargo tão importante quanto o de vice-presidente de futebol e a mudança do seu papel dentro do clube?
- É engraçado porque quando eu estava na base, aquilo era a maior coisa do futebol mundial. A partir do momento que virei vice-presidente de futebol, as preocupações mudaram. O convite foi feito. O presidente estava muito pressionado. Eu e um grupo de conselheiros fomos dar nossa solidariedade pra ele, pela manhã. Ele estava muito chateado e nos confidenciou que, à tarde, iria demitir o diretor de futebol (Isaías Tinoco) e o treinador (Vanderlei Luxemburgo) e que iria pedir afastamento da presidência. Neste momento, nós pedimos pra ele não fazer isso porque ele é um cruzeirense do mais alto gabarito, que havia conquistado muitas glórias e que iria conquistar ainda mais. Nesta reunião, sugeriram meu nome para vice-presidente de futebol. O Dr. Gilvan ficou calado e eu vim para o escritório. Às 18h, ele me ligou e me convidou para o cargo. Eu fiquei lisonjeado, porque é uma honraria muito grande pra qualquer torcedor e também por ele me considerar um amigo e uma pessoa de confiança. Pedi um tempo para conversar com minha esposa e meu pai, já que afetaria minha vida pessoal e profissional, já que trabalho numa empresa familiar. O Dr. Gilvan me disse que a coletiva de imprensa estava pronta, me esperando. (risos) O resto da história vocês já sabem. A gente vive um momento difícil, ainda corre risco de rebaixamento. Mas já está trabalhando pra sair dessa zona difícil que o Cruzeiro está. Temos que deixar isso claro.
E a conversa com a esposa? Foi tranquila?
- Foi uma prova muito grande dela. Eu acho que ela já foi se preparando ao longo do tempo. Desde quando a gente namorava, a Paula brincava e dizia que a única coisa na minha vida que ela não mexia era o Cruzeiro. Ela já sabia que eu gosto muito do clube. É claro que ela e meus filhos ficaram um pouco assustados com a exposição que é um cargo deste tamanho. Eu só tenho a agradecer a prova de amor que eles me deram, tanto ela como meu pai e minha mãe. Minha mãe nem assistia aos jogos e agora está vendo todos, sofrendo e torcendo. As pessoas que gostam de você ficam felizes de ver a gente crescendo.
O momento delicado da economia brasileira vai mudar a forma de gestão do Cruzeiro nos próximos anos?
- Eu acredito que, hoje, no futebol, com a diferença de cotas e receitas, um clube como o Cruzeiro, se não tiver um programa de sócio futebol forte e atletas de qualidade subindo da base, não vai conseguir competir. Toda pessoa que quiser ser dirigente, tem que passar pelas categorias de base do clube. A base não é uma escola apenas para jogadores e técnicos, mas também para dirigentes.
Em que pontos sua experiência como superintendente da base vai ajudar no trabalho como vice-presidente de futebol profissional?
- Tudo praticamente. Você aprende a conviver com o grupo, que é sagrado. Quem ganha ou quem perde é o grupo. Você aprende a conversar com o treinador, aprende a importância de um dirigente no ambiente. Aprende como é importante o scout no trabalho. É muito importante fazer uma equipe. Assim como no mundo dos negócios, no futebol é fundamental trabalhar em equipe. Aprendi com meu pai que a gente tem que fazer equipes pra tudo dar certo. A equipe da Toca da Raposa I é muito competente. Claro que há diferenças no tratamento de um atleta de base e de um atleta profissional. O jogador da base hoje em dia é muito assediado e você tem deixar claro que ele precisa trabalhar e ter humildade. Eu sigo isso como vice-presidente de futebol. Tenho que trabalhar e ter humildade porque a falta de humildade é que derruba, não só no futebol como na vida.
Bruno Vicintin vem acompanhando o Cruzeiro nas partidas Brasil afora (Foto: Marco Astoni)
Como a sua experiência como empresário pode ajudar na gestão do futebol do Cruzeiro?
- A partir do momento que eu entrei no futebol, eu procurei ler muito sobre esportes. Eu gosto de todos os esportes. Tem um livro que eu gosto e que inspirou filme, sobre um general manager de um time de beisebol, chamado “O homem que mudou o jogo”. A história do livro se assemelha muito com o que o futebol está passando hoje. O beisebol passou na década passada. Fala sobre a diferença de orçamento dos clubes e como eles vão competir em alto nível. Fala também sobre a queda de paradigmas que foram criados ao longo dos anos. Por exemplo, no processo de seleção do novo diretor de futebol, eu procurei, com o aval do Dr. Gilvan, agir com o procedimento usado numa empresa grande. O Cruzeiro é uma das maiores empresas de Minas, independente de ser um clube de futebol. Eu vi muito gente criticar e dizer que não é assim que se trabalha no futebol, que não é preciso entrevistar. Eu acharia um absurdo, na minha empresa, se um vice-presidente contratasse um diretor sem entrevistá-lo. Isso no meio industrial é impensável. Ele cita alguns paradigmas que havia no beisebol, como o que dizia que o catcher (apanhador) não poderia ter cintura larga. São bobagens que a gente tem que mudar, como há no futebol também. Lógico que minha experiência industrial ajuda e traz muita coisa boa na parte administrativa.
Em que o fato de ser torcedor fanático do Cruzeiro pode ajudar e em que pode atrapalhar seu trabalho como dirigente?
- Na base, eu procurei contratar cruzeirenses para todas as funções. O Cruzeiro tem uma vantagem que uma empresa não tem. As pessoas que trabalham no Cruzeiro tem amor pelo clube. Em outras empresas, isto acontece com algumas pessoas, mas não com todas. Eu queria que todas as pessoas trabalhassem com amor. No Cruzeiro, as pessoas trabalham com uma força de vontade diferente. Eu sei o que o torcedor sente. Sei o que é carregar uma faixa, sei o que é abrir um bandeirão na arquibancada, sei o que é viajar de ônibus para ver o time jogar. Minha fase na base foi importante porque aprendi que nem sempre você pode agir como torcedor. Como exemplo, uso aquela noite em que o Dr. Gilvan saiu mais cedo do Mineirão (na derrota por 3 a 2 para o Palmeiras, pela Copa do Brasil). Eu vi o Zezé Perrella (ex-presidente do Cruzeiro) fazer isso várias vezes. Às vezes é melhor, o dirigente sair mais cedo mesmo, para não tomar decisões de cabeça quente. O Dr. Gilvan foi muito criticado, mas ele fez o certo. Eu tenho que ter na balança esta linha. Não posso agir como torcedor, mas não posso me esquecer que me tornei vice-presidente justamente por ser torcedor.
A aprovação da sua nomeação como vice-presidente, nas redes sociais, mostrou que você tem grande popularidade entre os torcedores. Mas, como diria Benjamin Parker, das histórias em quadrinhos, grandes poderes trazem grandes responsabilidades. Como lidar com isso?
- Eu falava isto com os jogadores da base. Citava esta frase do Homem-Aranha sobre a responsabilidade de vestir a camisa do Cruzeiro. Pra mim, é um desafio muito grande. O que eu fiz foi me preparar. Tenho orado muito, pedindo pra ter humildade e força pra trabalhar no caminho certo. Eu sei o tamanho dos desafios. Sei da expectativa que a torcida tem em mim. A única que posso prometer é trabalhar. Isso, eles podem ter certeza que eu vou fazer. Se vai dar certo ou não, só o tempo vai dizer, mas eu espero que tudo corra bem. Eu vi uma entrevista do Guga outro dia na qual ele falava sobre os problemas que teve no quadril. Perguntaram para ele se ele tinha algum arrependimento por não conseguir carregar a filha no colo ou por outras limitações que ele possa ter. O Guga respondeu que não se arrependia por ter entregado tudo que tinha ao tênis. Comigo vai ser a mesma coisa. Vou entregar tudo para o Cruzeiro. Espero que dê certo. Eu não sou vice-presidente de futebol do Cruzeiro, eu estou vice-presidente de futebol. O dia em que eu sair do clube, eu quero olhar pra trás e ter certeza que tudo que eu tinha eu deixei lá.
Na sala da empresa de Bruno Vicintin, espaço dedicado ao Cruzeiro é grande (Foto: Lucas Borges)
Você falou que tem orado muito. Você é um homem religioso?
- Eu acredito muito em Deus. Peço muita ajuda. Eu acho que Deus coloca alguns desafios em nosso caminho porque Ele quer que você aprenda alguma coisa. Ter saído da arquibancada e chegado ao posto de vice-presidente do Cruzeiro tem uma razão. Espero que seja uma razão pra dar alegria pra muita gente. Eu espero aprender e evoluir. Tenho orado muito pra Ele me colocar no caminho certo e na linha de conduta correta.
Por ter temperamento forte e também por ser torcedor fanático, você já foi comparado com o ex-presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil. Como você vê isso?
- Eu não conheço o Alexandre Kalil pessoalmente. Não tenho nenhuma ligação com ele. Na verdade, é difícil você se comparar com alguém que não conhece. Eu aprendi que, quando você é torcedor, você brinca muito com o rival, mas como dirigente não é legal. O Kalil faltou com o respeito com o torcedor do Cruzeiro muitas vezes. Eu espero manter o respeito à instituição rival. Claro que sempre quero vencê-los, mas, do mesmo jeito que não gosto quando desrespeitam o clube que eu amo, não posso desrespeitar o rival.
Um post escrito por você numa rede social, antes de um clássico com o Atlético-MG, em 2013, causou muita polêmica. Na ocasião, você disse que se o Cruzeiro não ganhasse na bola, teria que ser na pancada. O que este episódio significou pra você?
- Foi um grande aprendizado pra mim. Ali eu vi que tinha deixado de ser torcedor e tinha virado dirigente. Antes eu podia brincar com certas coisas. Mas aquilo não foi uma brincadeira. Quando eu falei aquilo foi num texto que eu escrevi, dizendo que o Cruzeiro tinha que ter mais gana e mais vontade de ganhar o clássico. Eu sempre falava na base que você pode ganhar ou perder um clássico. Eu ganhei mais do que perdi. Mas você se sente tranquilo quando se entrega. Então, eu aprendi que não posso faltar o respeito com o torcedor rival.
O Cruzeiro vem tendo problemas na relação com algumas torcidas organizadas nos últimos anos. Como será sua política sobre o assunto, tendo em conta que você vem de torcida organizada?
- Quando eu fazia parte da TFC (Torcida Fanaticruz), a torcida ganhava cerca de 15 ingressos. Eu nunca ganhei ingresso, até porque tinha condições de pagar pelo ingresso e eles eram usados com pessoas que trabalhavam pra festa. Eu entendo isso. Mas, hoje, não há mais espaço pra esse tipo de coisas. O futebol moderno é business e, infelizmente, o clube não tem condição nenhuma de dar ingresso para o torcedor. Esta é a linha correta de seguir, o Dr. Gilvan está certo. Ao mesmo tempo, a razão do Cruzeiro viver é a sua torcida. Eu pretendo ter uma aproximação grande com a torcida porque é ela que dá o caminho pra gente seguir.
Há algumas semanas, um áudio de uma conversa sua no WhatsApp vazou e a partir daí, surgiu a campanha que se popularizou nas redes sociais e foi adotada oficialmente pelo clube, “Cruzeiro, o time do povo”. Como foi esse episódio?
- No áudio, eu falava que isto incomodava o nosso rival, mas eu não sabia que incomodava tanto, porque passaram muito recibo. Eu falei sobre a história do Cruzeiro. Não quer dizer que o nosso rival também não tenha pessoas de baixa renda na torcida. Mas que o Cruzeiro foi construído por trabalhadores, imigrantes e operários, é inegável. O Cruzeiro tem uma história muito bonita, que pouca gente conhece, e se tornou um gigante do futebol mundial. Hoje, todo mundo conhece o Cruzeiro. Falaram que eu vazei o áudio, mas isso não aconteceu. Eu mandei pra um amigo. Mas, em momento nenhum, eu desrespeito o rival, muito pelo contrário. Até elogio o time deles, que é muito forte. Eu acredito que o Cruzeiro é mesmo o time do povo e o povo está com a gente pra tirar o time desta situação em que se encontra.
O planejamento do Cruzeiro para 2016 já foi feito?
- Primeiro, vamos trabalhar este ano, porque a prioridade é o presente. O Cruzeiro ainda corre risco de rebaixamento e está na briga com vários clubes. Acreditamos que temos time e torcida pra não estar nessa situação. Conseguindo escapar do rebaixamento nas próximas rodadas, vamos sentar para planejar o próximo ano. Como todos os clubes do Brasil, o Cruzeiro vai aderir o ProFut. Aderindo ao ProFut, vamos reduzir a folha salarial e ao mesmo tempo contratar e reforçar o time. É um desafio que vamos tentar vencer da melhor forma possível no fim do ano, montando um grande time, competitivo e que a torcida goste. A longo prazo, eu acredito que as divisões de base vão ter um papel fundamental, porque tem que ter um fluxo de atletas subindo, porque este fluxo de atletas ajuda a baixar a folha e aumentar o ativo do clube com futuras vendas, além do ganho técnico que o clube tem. Vamos continuar com a meta de subir três ou mais atletas por ano e vamos investir nas áreas tecnológicas e estruturais. Assinamos um contrato com o Mano de longo prazo porque quero fazer um trabalho de longo prazo. Nos Estados Unidos, em qualquer esporte, o treinador é contratado para três temporadas. A primeira é para reconstrução, a segunda para afirmação do grupo e a terceira para conquistar títulos. Aqui no Brasil, poucos treinadores são como o Mano, que podem pedir três anos de contrato. É aquilo que falei sobre os paradigmas. Nossa cultura é errada. Então, a gente vai programar o Cruzeiro para os próximos anos, não só para a próxima temporada.
A relação do Cruzeiro com a Federação Mineira de Futebol está muito complicada. Você pretende mudar este panorama e se aproximar da FMF?
- Na base, eu tratei muito com o Castellar (Neto, presidente da FMF). Na maioria das vezes, tivemos um bom relacionamento. Infelizmente, o relacionamento Federação/Cruzeiro é péssimo. Pretendemos, mudar, é claro, mas a FMF tem que entender que ela não pode privilegiar nenhum dos lados. Ela tem que buscar o bem de todos os clubes mineiros. Eu acho que esse que foi o grande erro deles no início da gestão. Tenho um relacionamento muito bom com o Castellar e pretendo continuar a ter.
Por falar em atritos, o Cruzeiro teve alguns com a Minas Arena, concessionária que administra o Mineirão. Como está o relacionamento com a Minas Arena agora?
- O relacionamento com a Minas Arena vem melhorando. Nós temos que ter maturidade de ambos os lados. A Minas Arena sabe que o Cruzeiro é o maior parceiro dela e o Cruzeiro também sabe da importância do Mineirão, que é a nossa casa. Acho que o relacionamento está melhorando, a torcida está vendo isto. Estamos fazendo novas mudanças comerciais, fizemos parceria naquelas cadeiras que ficavam vazias, o time já está em campo entrando música. O relacionamento vem melhorando a partir do momento em que temos mais profissionalismo.
Bruno Vicintin exibe a oitava espécie de peixe com bico que pegou (Foto: Arquivo Pessoal)
Seu hobby é a pescaria. Fale um pouco sobre o projeto de ser o primeiro latino-americano a pescar as nove espécies de peixe com bico.
- Eu gosto muito de desafio. Comecei a pescar no Rio das Velhas, em Várzea da Palma, ainda criança. A gente tinha uma fazenda. Todo pescador tem o sonho de pescar o maior peixe. Mesmo eu sendo mineiro, eu passei a pescar no mar. Uma vez eu li que o maior desafio da pesca é pegar as nove espécies de peixe com bico no mundo. Comecei há 10 anos e das nove eu já peguei oito. O desafio se assemelha muito ao dos escaladores que tem que escalar os maiores picos de cada continente. Viajei o mundo todo pra isso. É um hobby que eu tenho e que me descansa muito. Sou muito competitivo, e na pescaria, a competição é comigo mesmo, até porque você pesca e solta o peixe. A beleza do esporte é vencer o peixe e soltá-lo depois. O maior peixe que peguei foi na Ilha da Madeira, em Portugal. Pesava 400 quilos.
Como seria um final de 2016 perfeito pra você? Pescando a nona espécie de peixe-espada e ganhando o penta do Campeonato Brasileiro?
- Sem dúvida! (risos) A gente tem que sonhar. Aqui na parede tem a faixa de dois títulos brasileiros, isso ninguém me tira. Eu fazia parte da diretoria e sou bicampeão brasileiro. Eu não vim para o Cruzeiro para ficar apenas com as duas faixas na parede. As ambições têm que ser grandes, do tamanho que um clube como o Cruzeiro merece.