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16/9/2015 11:36

Gigante: especialistas explicam o #CruzeiroTimeDoPovo

Gigante: especialistas explicam o #CruzeiroTimeDoPovo
Ao longo de sua história, a Nação Azul sempre abraçou o Cruzeiro em momentos complicados

Uma montanha-russa carregada de emoções. Assim pode se definir o Cruzeiro em 2015, cheio de altos e baixos, aos trancos e barrancos, e que viu sua situação se tornar crítica no fim de agosto com as constantes derrotas, eliminação vexatória na Copa do Brasil e uma desonrosa proximidade da zona de rebaixamento do Brasileirão.


Até que o presidente Gilvan de Pinho Tavares resolveu arregaçar as mangas e, em atitudes ousadas, promoveu mudanças administrativas e no comando técnico da equipe, atendendo ao apelo do povo azul. Com as mudanças, novas esperanças de que o Cruzeiro retomaria o caminho da dignidade, da luta e da fé dentro de campo.


Nos dois jogos subsequentes às mudanças, mais de 80 mil cruzeirenses foram ao Mineirão empurrar o time no grito nos importantes jogos contra Figueirense e Atlético Mineiro. O clássico de domino passado ainda está vivo no imaginário do cruzeirense. Não apenas pelo transcorrido em campo, mas sim, especialmente, pelo show que veio das arquibancadas.


Com um jogador a menos, a Nação Azul se fez presente para ser o 11º jogador do time em campo e igualar as forças contra um adversário difícil. No fim das contas, os gritos de “Zêeeeerooo, Zêeeeerooo” ainda ecoam na cabeça de milhares. E certamente ecoarão por muito tempo.

Com isso, veio o resgate do orgulho cruzeirense, que passou a enfatizar o Gigante como “o time do povo”, em movimento que ganhou destaque nas redes sociais, despertando também reações adversas de outros torcedores.


Visando entender melhor o #CruzeiroTimeDoPovo, passei os últimos dias pesquisando sobre fatos históricos que nos leva até aos primeiros dias de Palestra Itália, desde a fundação do clube pela classe trabalhadora e o complicado contexto histórico enfrentado pela instituição até a II Guerra Mundial.


Para fundamentar e explicar melhor toda essa trajetória quase centenária do Cruzeiro e da importância de sua torcida, o Trem Azul convidou analistas, historiadores e se referenciou em conteúdos dotados de credibilidade publicados por profissionais gabaritados em universidades, inclusive atleticanos, na busca por um entendimento mais aprofundado da relação Cruzeiro e povo, que tanto ganhou destaque nos últimos dias.


A análise segue abaixo, em 6 tópicos, e aborda pesquisas, fatos e diferentes contextos históricos que ajudam a descrever como o Cruzeiro se tornou um gigante do futebol nacional, mesmo enfrentando dificuldades locais.



Cruzeiro nasceu Palestra Itália, na década de 20, pelas mãos da classe trabalhadora que ajudou a construir Belo Horizonte

1 – O Cruzeiro nasceu popular - Em artigo publicado em 2005, o professor Marcelino Rodrigues da Silva, atleticano, doutorado em Estudos Literários pela UFMG e pós-doutorado em Estudos Culturais pela UFRJ, tentou traçar um perfil dos fundadores do Palestra Itália (Cruzeiro) e Atlético Mineiro. O artigo intitulado “O povo contra o povo no imaginário esportivo mineiro” (versão completa aqui) tenta refletir sobre a diversidade social dos torcedores de ambos os clubes ao longo dos anos.


Dentro de seus estudos e pesquisas, Marcelino destaca que a origem do Palestra Itália se deu por imigrantes italianos que ajudaram a construir a cidade de Belo Horizonte, enquanto o Atlético Mineiro foi fundado por estudantes oriundos de famílias tradicionais da cidade. Abaixo, segue a reprodução de trechos com mais ênfase ao Palestra Itália, e um breve comentário sobre o rival celeste.


“O Cruzeiro Esporte Clube surgiu em 1921, como uma dissidência do Yale, ambos formados pelos numerosos imigrantes italianos que haviam se estabelecido em Belo Horizonte desde a sua fundação. Seu primeiro nome foi Società Sportiva Palestra Itália, e até o ano de 1926 a agremiação só aceitava italianos ou filhos de italianos em seus quadros. Somente a partir dali, e gradativamente, o clube passou a incorporar atletas que não eram membros da colônia, sem nunca perder seus fortes laços com ela. Em 1942, pressionado pelo clima de animosidade contra os italianos que a Segunda Grande Guerra havia provocado no Brasil, o Palestra mudou de nome para Cruzeiro e adotou como símbolo as estrelas do céu tropical, manifestando o desejo da colônia de se integrar à comunidade brasileira.


Tendo surgido como um clube de imigrantes, portanto, o Cruzeiro já nasceu popular. Os italianos que se estabeleceram em diversas partes do Brasil, no final do século XIX, não podem, de modo algum, ser tomados como membros da elite da sociedade brasileira daquela época. (...) O Palestra Itália era um clube de imigrantes que, na sua grande maioria, eram membros de famílias pobres ou no máximo remediadas, sustentadas pelo trabalho árduo nas fábricas, oficinas e armazéns.”


Em outro trecho, Marcelino pontua sobre a origem do Atlético Mineiro, na primeira década dos anos 1900. “Segundo os poucos relatos disponíveis, o Clube Atlético Mineiro foi fundado em 1908, por um grupo de jovens estudantes, entre os quais se pode reconhecer algumas da famílias tradicionais da cidade. A agremiação teve, portanto, uma origem que pode ser considerada elitista. Sua transformação em um ‘clube de massa’, alcunha que lhe é consensualmente atribuída pela mídia contemporânea, é ainda um mistério a se resolver”.



Contrariando factoides: logo em seus primeiros anos, o Palestra Itália já aceitava atletas negros em seu plantel

2 - A suposta veia fascista do Palestra Itália – Outra tese sustentada por alguns torcedores rivais é a de que o Cruzeiro possui em suas raízes relação com o Fascismo, regime estabelecido pelo ditador Benito Mussolini na Itália no início do século passado, no qual se prevaleciam conceitos de nação e raça sobre valores individuais.


O historiador João Henrique Castro, cruzeirense, que atualmente cursa Doutorado na Universidade Federal Fluminense, pontua alguns aspectos sobre o assunto, abaixo.


“A vinculação do Palestra Itália à ideologia fascista não se verifica por uma simples questão cronológica. Fundado em 2 de Janeiro de 1921 por imigrantes e descendentes italianos presentes em Minas Gerais desde o século anterior, o Palestra Itália surgiu na esteira dos movimentos operários italianos que se espalhavam pelas regiões onde havia imigrantes deste país europeu em processo de integração com suas novas territorialidades. Movimentos tais que foram perseguidos no país de origem destes a partir da ascensão do Partido Nacional Fascista ao poder, assumindo o governo italiano no dia 28 de outubro de 1922, quase dois anos após a fundação do clube em Belo Horizonte.


A transferência de quatro atletas do clube mineiro para a Lazio na década de 30 (Ninão, Nininho, Niginho e Orlando), clube de simpatia de Benedito Mussolini, não significava atração da instituição palestrina pelos ideais fascistas (que, ao contrário do Nazismo Alemão, não defendia a eliminação de grupos étnicos/raciais), mas foi parte de um processo de reunião de atletas ítalo-brasileiros no clube de Roma, que contava ainda com atletas de clubes que não tinham vínculo com a colônia italiana no Brasil como Corinthians (Filó, De Maria, Del Debbio, Rato e Amílcar), Santos (André Tedesco) e Botafogo (Benedito).


O fato é que, com a composição social heterogênea que incluía negros e mulatos descendentes de italianos, mesmo no breve período em que foi fechado a não vinculados a colônia italiana (entre 1921 e 1925), desde a década de 20 prevalecia no Palestra Itália uma corrente a favor da integração com a comunidade belo-horizontina e da nacionalização da instituição, referendada pela adoção do nome Cruzeiro após decreto presidencial de Getúlio Vargas, que obrigava instituições identificadas com a Itália a alterarem o seu nome em função da 2ª Guerra Mundial.”



Time do Palestra na década de 30, época em que as classes sociais menos favorecidas tinha maior aptidão pelo clube

3 – Ausência de racismo e perseguição social aos italianos – Pegando um gancho no que relata João Henrique Castro, cabe recorrer ao trabalho de outro profissional da área, este atleticano, chamado Euclides de Freitas Couto, mestrado em Ciências Sociais (PUC-Minas) e doutorado em História (UFMG), em dissertação que fala sobre integração social e identidades coletivas tomando como base o futebol de Belo Horizonte entre os anos de 1897 e 1927.


Muito se fala que o Cruzeiro só abandonou o italianismo em função do decreto. Euclides pontua que desde os anos 20 haviam correntes a favor de uma nacionalização do clube, hiper influente a ponto de derrubar a limitação para italianos e descendentes em 2 anos. “Em 1925, alguns dirigentes, jogadores e torcedores queriam que o Palestra deixasse de ser um clube essencialmente da colônia italiana e abrisse suas portas aos demais habitantes da cidade, principalmente aos bons jogadores ‘brasileiros’. Foi retirada do estatuto do clube a cláusula que proibia a participação, de outras descendências, no quadro de atletas. A decisão foi importante na medida em que possibilitou a ampliação também do número de torcedores e sócios do clube. (...) O desejo de desvincular o Palestra da colônia italiana, abrindo o clube definitivamente para a participação das outras camadas da população, ganharia mais força na segunda metade da década de 1930.”


Na mesma dissertação, o autor relata que foram diversas as tentativas de se perseguir o Palestra Itália nas disputas desportivas logo em seus primeiros anos de fundação, reflexão da aversão à ascensão italiana em BH. Couto entrevistou uma senhora, de nome Sílvia Bonfioli, que frequentava os jogos da época. “Desde criança, sabia que todo mundo tinha raiva do Palestra, porque era clube de italianos (...) Quando surgiu o Palestra, eles fizeram de tudo para atrapalhar. Foram muitas as vezes em que os juízes roubaram para o Atlético e para o América”, citou a torcedora ao autor, que relaciona o relato de Sílvia à crise que se instalou no Campeonato da Cidade (hoje Campeonato Mineiro) nas décadas de 20 e 30.


Na década de 40, em um contexto de II Guerra Mundial, os italianos passaram a ser mal vistos na sociedade brasileira, como destaca Euclides. “O regime totalitário imposto por Adolf Hitler, na Alemanha, e Benito Mussolini, na Itália, dividia as opiniões dos brasileiros naquela época. Os varguistas, simpatizantes do nazi-fascismo, apoiavam um alinhamento do Brasil junto ao Eixo, enquanto os opositores defendiam a participação do país na II Guerra no bloco, dos Aliados. O clima de incerteza promovido pela Guerra fez com que alemães e italianos passassem a ser vistos como elementos perigosos no país. Vários indivíduos descendentes das colônias alemã, austríaca, suíça e italiana chegaram a ser investigados pela polícia. Por volta de 1941, uma ‘onda de terror’ anti-nazi-fascismo tomou conta de algumas cidades brasileiras. Em Belo Horizonte, estabelecimentos comerciais italianos foram depredados e saqueados, o estádio do Palestra chegou a sofrer ameaças de ser incendiado. No início de 1942, o Governo Federal publicou um Decreto-lei que proibia qualquer alusão às nações inimigas.”


Por fim, o autor reforça de que a mudança para Cruzeiro buscava significar uma abrangência nacional, não apenas local, como era costumeiro para times de futebol da época. “As perseguições sofridas no período da Guerra fizeram com que a transformação do Palestra em um clube ‘brasileiro’ ganhasse muito mais força. (...) O objetivo era tornar o Palestra o mais brasileiro dos clubes.


Enquanto os times da época possuíam nomes que os caracterizavam como provincianos, como o caso do São Paulo Futebol Clube, o do S. C. Corinthians Paulista, do Grêmio de Foot- Ball Porto Alegrense e do próprio Clube Atlético Mineiro, o nome Cruzeiro buscava simbolizar um clube brasileiro, e não apenas um clube mineiro, de Belo Horizonte ou de alguma colônia. Assim, a partir de 7 de outubro de 1942, o Palestra Itália passaria a se chamar Cruzeiro Esporte Clube, nome que ganharia projeção mundial e que permanece até os dias de hoje”.



132.834: o recorde histórico e imbatível do Mineirão pertence à Nação Azul. Outros 20 mil cruzeirenses ficaram de fora na final do Mineiro contra o Villa Nova, em 1997

4 – Refletido em pesquisas: o crescimento da torcida ao longo das décadas – Algumas pesquisas citadas no site Rec.Sport.Soccer Statistics Foundation, mantido em sua versão brasileira por Marco Antônio Henriques Pinheiro, mostram a evolução do crescimento da torcida cruzeirense ao longo das décadas.


As duas primeiras pesquisas, sem metodologia científica de amostragem, foram feitas pelo jornal Estado de Minas em urnas posicionadas em frente à sede do jornal (a primeira) e espalhadas por Belo Horizonte e em algumas cidades do interior do estado, sendo que as cédulas deveriam ser compradas, mas sem limite por pessoa (a segunda).


A pesquisa #1 que se tem notícia foi publicada em 26 de março de 1931. Na época, em votos coletados em uma urna localizada em frente à sede do jornal em Belo Horizonte, o Atlético Mineiro recebeu 46,2% de votos e o Palestra 35,9%. Em números, 402 a 312.


A pesquisa #2, mais abrangente, foi publicada dia 2 de julho de 1965, dois meses antes do surgimento do Mineirão. O Atlético Mineiro bateu o Cruzeiro na proporção 2 por 1: 54,1% a 26,7%.


No entanto, a primeira pesquisa com metodologia científica de amostragem foi feita pelo Instituto Gallup, publicada na edição #94 da revista Placar, em 31/12/1971. Na época, empate técnico: Atlético Mineiro com 43%, Cruzeiro com 42%.


A virada cruzeirense nas pesquisas se deu na segunda metade dos anos 90. A do Ibope, publicada no jornal Lance!, em 1998, apontava o Cruzeiro com 26% contra 16% do rival. Em 2001, o mesmo instituto e veículo de mídia – mas com abrangência apenas na região metropolitana de BH – apontaram o Cruzeiro à frente: 46% a 35%.


Nos anos seguintes, os institutos Datafolha e Ibope cravaram uma proporção 2 por 1 da torcida cruzeirense em cima da do Atlético Mineiro: 43% a 22% em 2002 (Datafolha); 32, 8% a 16,9% em 2004 (Ibope).


Desde então, o Cruzeiro figurou à frente em todas as pesquisas até ano passado, quando em pesquisa feita pelo Ibope e publicada pelo diário Lance!, o Atlético Mineiro apareceu com 31,6% contra 27,4% do Cruzeiro, em amostragem abrangendo Minas Gerais, porém contestada por especialistas.



Desde os anos 90, pesquisas apontam a torcida celeste com números superiores aos dos rivais. "Time do povo (e dos jovens) é o Cruzeiro", aponta especialista

5 – A força da Nação Azul nas classes baixas – Um dos estudiosos que contestam esta última pesquisa de 2014 é Vinícius Paiva, flamenguista, editor do conceituado blog Teoria dos Jogos. O Trem Azul convocou o analista para traçar um breve panorama entre as torcidas de Cruzeiro e Atlético Mineiro de acordo com seus dados de mapeamento e constantes estudos de pesquisa. O parecer de Vinícius segue abaixo.


“Como no resto do Brasil, a questão das torcidas em Minas Gerais é tão apaixonante quanto polêmica. Neste caso específico, ainda com o mineiríssimo tempero de um dos estados mais plurais do Brasil, com times locais, cariocas e paulistas se revezando de acordo com a mesorregião pesquisada. Mas o enfoque nunca pode deixar de recair sobre o Cruzeiro, simplesmente por se tratar da maior torcida do estado.


Nem sempre foi assim. Olhar para o passado é duro, dada a falta de confiabilidade das estatísticas. Mas tanto dados antigos quanto estudos atuais – em suas tabulações por faixa etária - apontam uma Raposa em menor quantidade na comparação com o Galo até a década de 90. A partir deste ponto de inflexão, iniciou-se o processo que nos trouxe ao perfil atual. E como tudo em Minas, ele também é diversificado.


A torcida do Cruzeiro é a maior de Minas. Perde dos paulistas na região Sul, dos cariocas na Zona da Mata e de ambos no Triângulo Mineiro. Mas atropela nas demais regiões, atingindo o dobro do tamanho do arquirrival Atlético em muitas delas. Situação que não se sustenta na capital: por lá, em enorme equilíbrio e mesmo dentro da margem de erro, a torcida do Atlético/MG é superior. Mas basta colocar os pés pra fora de casa e a hegemonia se restabelece, com mais celestes do que alvinegros na própria região metropolitana. E não se engane com quem diz o contrário - caso da péssima pesquisa Lance/Ibope 2014. Há evidentes indícios de viés em favor da capital, favorecendo o Atlético/MG em sua única região de predomínio.


Embora em processo de envelhecimento e com recentes melhorias econômicas, ainda vivemos num país jovem em de baixa renda. Sendo assim, é impossível ocupar a condição de “maior” sem predomínio nas classes menos favorecidas e mais populosas. Isto fez com a lógica da “massa” no estado de Minas se revertesse: time do povo (e dos jovens) é o Cruzeiro. Especialmente no interior, região onde o enorme equilíbrio entre azuis e alvinegros se dissipa em favor do universo estrelado.”



Décadas de 50, 80 e o ano de 2011 mostram que a torcida celeste abraçou o time em momentos decisivos e complicados

6 – O cruzeirense sempre abraçou o clube em momentos difíceis – Cortando para 2015. O Cruzeiro vive uma temporada complicada. Troca de treinadores, mudanças na diretoria, time que não se formou. Daí, nessas horas, surge sempre o papo: “cruzeirense só apoia quando o time está bem”. No entanto, a história está aí para provar, com diversos exemplos, que o cruzeirense sempre abraçou o time em jornadas complicadas. Para tal, e seguindo a linha proposta neste extenso post, o blog convocou o historiador Geovano Chaves, cruzeirense formado na UFMG, para falar brevemente de alguns momentos históricos em que a sinergia entre time e torcida fizeram a diferença.


Momentos bem similares ao atual, quando mais de 80 mil cruzeirenses compareceram ao Mineirão para empurrar o time para bem longe da sua posição atual na tabela. Seguem, então, os destaques do Geovano.


“Fazendo um recorte no tempo, vamos rememorar três momentos difíceis. O final da década de 40 e a década de 50 foi uma fase terrível no futebol estrelado. O Cruzeiro conquistou apenas os mineiros de 1956 e 1959. Belo Horizonte nesta época recebeu milhares de migrantes oriundos das cidades do interior de Minas, que vieram trabalhar nas indústrias da capital, na então ‘Cidade Industrial’, obras estas estimuladas pelo governo Juscelino Kubitscheck, inclusive, grande cruzeirense. Esta nova leva de operários tinha no futebol uma grande forma de diversão. Milhares deles, mesmo sem as conquistas, se identificaram com o Cruzeiro. O clube voltou a vencer. Levantou um tri e um penta mineiro na década de 60. Ganhou pela primeira vez o campeonato brasileiro, tudo isto em sintonia com o surgimento do Mineirão. E o resultado disso em termos populares? Pela primeira vez na história dos campeonatos brasileiros, um clube de Minas Gerais conseguia as maiores médias de público do Brasil nos anos de 1966 e 1969.


Após esta façanha, o Cruzeiro viveu outro período dramático. Entre os anos de 1978 e 1990, vieram três minguados campeonatos mineiros. Se a torcida do Cruzeiro fosse apenas alimentada por títulos, certamente teria desaparecido neste período. Mas o efeito foi o contrário. Atravessando praticamente toda a década de 80 sofrendo com o time, na década de 90 a torcida do Cruzeiro mostrou novamente sua devoção alucinada: na Supercopa de 1992, a média de público da torcida celeste atingiu 73.126 torcedores por jogo, a maior média de público do mundo na época.


Para finalizar, uma reflexão: em 2011, o que a torcida do Cruzeiro fez na Arena do Jacaré, para salvar o time da degola, foi digno de uma das maiores humilhações sofridas por um rival na história do futebol, que se converteu naquele 6 a 1 eterno. A torcida salvou o clube nos braços e o livrou de uma das maiores humilhações para os gigantes do futebol. Aquela vitória veio no grito da torcida, a mesma que moveu o time para se tornar um dos maiores do continente, atravessou oceanos, trabalhou em obras, superou perseguições, sobrepujou Guerra Mundial, resistiu à escassez de vitórias e se tornou a síntese da população de um estado, multi-étnica, com pessoas de todas as classes unidas em prol de um único comum.”



Do inferno ao céu: momento mais crítico do clube em quase 100 anos, o 6 a 1 sobre o rival em 2011 lavou a alma do cruzeirense em um de seus anos mais sofridos

Posto tudo isto e desde já agradecendo aos profissionais aqui convidados e referenciados, cada um com seu clube do coração – rivais inclusive, nota-se que o #CruzeiroTimeDoPovo não se resume apenas a uma hashtag em rede social. A história celeste – como a de tantos outros clubes de futebol do país – é rica em detalhes.


No dia 27 de junho de 2015, aquele em que dezenas de ídolos pisaram novamente no gramado do Mineirão para celebrar a rica história celeste, passei a dar ainda mais valor à história. Deixo como dica a todos os torcedores de outros clubes: revisitem sua história, sejam curiosos, procurem saber da origem, onde nasceu a paixão não apenas pelo seu time, mas pelo futebol.


A pluralidade do mundo da bola deve ser celebrada e festejada. Ainda que muitos cartolas insistam em tratar tão mal o produto e tantos outros marginais se infiltrem em torcidas organizadas para tocar o caos e protagonizarem tragédias tendo o futebol como pano (sangrento) de fundo.


Quando Alex veio com a ideia daquela festa com os ídolos eternos no Mineirão, ele sempre me disse: “é uma festa para o cruzeirense celebrar essa história linda e rica”.


Então, celebremos. O clube que veio do povo e sempre será carregado pelo povo, nas glórias ou nas dificuldades.


Até porque a história não mente. E jamais vai mudar. #CruzeiroTimeDoPovo



Pontuais notas contando fatos: rica história do Cruzeiro se construiu com conquistas nos campos e nas arquibancadas

7770 visitas - Fonte: ESPN




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