Jaeci Carvalho /Estado de Minas

O Atlético é o grande favorito no clássico desta tarde, na casa do Cruzeiro, o Mineirão. Porque vive momento melhor, tem melhor time, está mais bem colocado, 20 pontos à frente, e briga pela taça. Não quer dizer que já ganhou, mas não embarco nessa de que clássico é diferente. Quando um está superior e impõe seu futebol, normalmente ganha. Lembro-me dos dois anos em que o time azul bateu o Galo, inclusive com duas goleadas de 5 a 0, e jamais hesitei em apontá-lo como favorito. Nos últimos dois anos, no bicampeonato nacional celeste, as forças se equivaliam, mas o alvinegro venceu a maioria.

O Cruzeiro terá a China Azul em maioria esmagadora, um fator importante. Mas, com Paulo André, Leandro Damião e outros que vivem péssimo momento, é difícil acreditar em grande vitória. Escrevi ontem sobre os problemas cruzeirenses e sua fragilidade em todos os setores. Disse também que não vejo culpados, e sim uma entressafra terrível do futebol do país. Se o grupo é forte, com jogadores de alto nível, e conquista títulos, eles se valorizam, o mercado vai atrás e os contrata pagando cinco, seis vezes mais do que faturavam. Lei da oferta e da procura. Foi o preço pago pelo bi e por consagrar atletas como Egídio, Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart, que se encaixaram já em 2013 e brilharam. Como, depois da saída deles, de Lucas Silva e Marcelo Moreno (foto), o mercado só oferecia jogadores medianos, o clube não conseguiu se reforçar à altura e paga caro por isso.

Já o Galo conseguiu manter boa base, mas também perdeu Diego Tardelli, Maicosuel, Jô e André. Quando Lucas Pratto não pode jogar, é um deus nos acuda, sem substituto à altura. Levir Culpi teve a sorte de perceber que Giovanni Augusto, em dissídio com o clube, poderia ser importante, que Leandro Donizete é fundamental para o setor defensivo e Luan é um jogador que todo treinador gostaria de ter. Não é craque, não é técnico, mas é de eficiência ímpar. Tem a cara do Galo e de sua torcida, não desiste de nenhum lance.

Sobre Pratto, não preciso falar muito: artilheiro nato, ótimo jogador. Outro dia, o amigo e dentista Alyson Magalhães, o Xuxu, me disse que ele não jogava nada. Claro que o cruzeirense sempre vai desvalorizar o adversário. Mas me lembro também de que ele afirmava o mesmo de Luisinho, o maior zagueiro que vi jogar, e, quando o jogador chegou ao Cruzeiro, o apontou como gênio. Torcedor é assim mesmo, isso movimenta o futebol. Vejam bem: há pessoas que leem o que querem e interpretam do jeito que querem. Repito: o Galo é favorito, mas não imbatível. O Cruzeiro pode fazer o jogo da sua vida, como no turno, quando ganhou no Independência. Isso é do futebol e nos faz ser apaixonados. Espero que tenhamos um grande jogo, as torcidas se comportem com respeito, educação e, claro, gozação sadia por parte do vencedor.

Uma vitória do Cruzeiro o levará a 31 pontos, tendo o Vasco como próximo adversário. Com o provável triunfo, chegaria a 34. E se vencer mais quatro jogos afastará qualquer risco de rebaixamento. Todos sabem que o torcedor azul quer mais é que o ano acabe, o clube permaneça na elite e comece a montar um grande time para 2016. Penso que ele deve começar pela base, tão rica em talentos. Há zagueiros excelentes. Marcus Vinícius, Allano, Vinícius Araújo e Alisson têm muito o que crescer, e a contratação de jogadores de nível e experientes deverá ditar o ritmo.

Insisto que na bola acho difícil o Galo não comemorar o título, mas no apito não duvido de mais nada. Se os árbitros são venais, não sei, mas há erros crassos que nos deixam com a pulga atrás da orelha. E vale lembrar que meu Flamengo entrou no G4, e quando ele chega, é bom abrir o olho. Vi esse filme em 2009, quando ele ficou invicto em 17 partidas e se sagrou hexacampeão com a menor pontuação na era dos pontos corridos: 67. Como o nível técnico da competição é de médio para baixo, tudo é possível. E ela se define de agora até o fim de outubro. Vamos ver quem terá fôlego para chegar ao título. Só apontei Atlético, Corinthians e Grêmio, pela ordem, mas começo a acreditar no rubro-negro. Talvez o coração esteja falando um pouco mais alto, mas conheço meu time como poucos. O Mineirão hoje vai estar lotado, a China Azul ditará o ritmo, e mais uma vitória sobre o rival servirá para lavar a alma dos torcedores, que poderão dizer, em caso de título alvinegro, que este não venceu o Cruzeiro. O torcedor se apega a tudo neste momento. Bom clássico, torcedores, e que o vitorioso seja o futebol mineiro, dono do Brasil nos últimos dois anos.