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11/9/2015 10:16

Cruzeiro, Luxa, títulos... Um bate-papo com lateral Leandro, boleiro toda vida

Melhor da posição em 1999, campeão de tudo na Raposa e com passagem até pela Seleção, ele vê queda na qualidade do futebol e defende o "padrinho" Luxemburgo

Cruzeiro, Luxa, títulos... Um bate-papo com lateral Leandro, boleiro toda vida
Sobre as poucas chances na Seleção: "Peguei Roberto Carlos, Gilberto, Juan..." (Foto: Juan Andrade/ GloboEsporte.com)

A molecagem e o estilo boleiro fazem de Leandro um tipo de jogador em extinção no futebol contemporâneo. Atualmente na Cabofriense, clube do interior do Rio de Janeiro, o ex-jogador de Vitória, Cruzeiro, Palmeiras e cia. nunca foi de muitas provocações a rivais - embora as apoie - ou de se envolver em polêmica, mas claramente se diverte naquilo que escolheu para fazer. Na verdade, os fiapos brancos na barba são os únicos indícios de que os 36 anos de idade chegaram na vida do lateral-esquerdo, que já passou até pela seleção brasileira. Ele é, digamos, um menino coberto de experiência e que não perde a oportunidade de tirar sarro de quem está a sua volta. E como qualquer menino, ele desaprova o caminho sério - quase entediante - que segue o esporte hoje em dia.

Leandro se refere à robotização do futebol, às declarações praticamente padronizadas e à escassez de provocações que costumavam apimentar um clássico, por exemplo. Apesar disso, ele diz estar sossegado no pedacinho de terra paradisíaca que é a cidade de Cabo Frio. Lá se vão quase três anos desde que ele abraçou o projeto de colocar o clube de volta na elite do Campeonato Carioca. E conseguiu. Tornou-se um pilar, marcou gols importantes... mas já projeta o momento ideal de pendurar as chuteiras.

- Acho que ano que vem eu paro - conta Leandro, cujos planos são outros caso a Cabofriense conquiste a Copa Rio deste ano e abocanhe uma vaga ou na Série D do Brasileiro ou na Copa do Brasil de 2016 - Aí não, aí tem que continuar.

Em meio a algumas gargalhadas e opiniões concisas, Leandro concedeu cerca de meia hora de entrevista para falar de tudo um pouco. Eleito o melhor lateral-esquerdo do Brasil em 1999 (quando atuava pelo Vitória) e o segundo melhor em 2008 (pelo Palmeiras), ele recordou o imbatível Cruzeiro de 2003 e a parceria com Alex, o jogador "que fazia chover" e o melhor com quem já atuou, em sua opinião.

Vanderlei Luxemburgo também foi um dos assuntos da conversa. Afinal, o ex-treinador do Real Madrid e de uma lista de outros intermináveis clubes foi uma espécie de "padrinho" na vida do lateral-esquerdo. Juntos, conquistaram a Tríplice Coroa com o Cruzeiro em 2003, o Campeonato Paulista com o Palmeiras em 2008 e o Campeonato Mineiro com o Atlético-MG dois anos depois. No entanto, de uns tempos para cá, o fim dos resultados expressivos chegou grudado com uma chuva de críticas para Luxemburgo. Para Leandro, a decadência tem uma explicação.

- Fazendo uma crítica entre aspas: antes tinha mais qualidade de jogadores, hoje não tem mais qualidade. O treinador tem que ser bom? Tem, mas tem que bater numas situações que eu vou te falar. A qualidade caiu muito - acredita ele.

Abaixo, você confere a íntegra do bate-papo descontraído que o GloboEsporte.com fez com Leandro:

Copa Rio começa esta semana. Preparado? Como é para você ser o jogador mais experiente da Cabofriense hoje?
- Novidade, né. Você ser um dos mais velhos do elenco. Eu sou o mais velho, hoje eu sou o mais velho do elenco, 36 anos. Então é uma novidade. Mas eu encaro com naturalidade. Em qualquer lugar tem que ter um mais experiente. Aqui na Cabofriense, hoje, sou eu. Copa Rio, um tempinho que a Cabofriense não disputava. Mas estou preparado, treinando bastante a preparação física junto com o Edson (Souza). Estou preparado para ajudar meus companheiros.

Como você está hoje fisicamente? Dá para aguentar?
- Fisicamente, eu estou legal. O preparador físico até elogia a gente aí. A parte física é fundamental, ainda mais hoje em dia. O físico é muito importante hoje. Hoje você corre muito, tem que correr. Claro que eu não vou competir com garoto de 19 anos, tem que saber os atalhos. Acho que isso facilita bastante.

Quase três anos na Cabofriense. O que o clube significa na sua carreira?
- Eu sempre fui um jogador de ficar bastante tempo nas equipes. A equipe que eu fiquei menos tempo foi o Fluminense, cinco meses, eu acho. Eu só tenho a agradecer a Cabofriense. Porque eu cheguei em 2013, o presidente tinha um projeto de subir a equipe, nós conseguimos, fomos felizes aqui. Vou para quatro anos na Cabofriense. Muitas pessoas veem a Cabofriense… Time pequeno? É time pequeno, claro, mas tem uma estrutura legal, tem um centro de treinamento, um estádio, uma cidade boa, é uma equipe de Série A. Tem dificuldade como qualquer outro time, até equipe grande tem dificuldade. Acho que foi mais pela amizade com o presidente também, que é uma pessoa que eu respeito muito. A rapaziada que trabalha aqui por trás, que vocês não veem, mas é fundamental. As pessoas te recebem muito bem, isso facilita tudo. Eu me sinto em casa aqui.


Capitão da Cabofriense, Leandro conquistou a Série B do Carioca em 2013 (Foto: Léo Borges / Na Jogada)


Como jogador de uma posição tão carente em muitos clubes Brasil afora, você pode dizer que está na Cabofriense porque quer? Afinal de contas, vocês deve receber algumas sondagens, apesar da idade.
- Eu estava esperando essa pergunta (risos). Eu tenho que agradecer. Quando comecei a jogar, essa posição minha era muito bem disputada. Eu peguei o Roberto Carlos, peguei o Júnior, peguei o Gilberto, peguei o Juan, peguei o Kleber, olha só. Para tu ver a quantidade e a qualidade. Temos que falar a verdade, a qualidade, hoje, caiu muito. Então, eu só tenho que agradecer. Mas aparecem (propostas), sim, algumas equipes. Mas vou falar uma coisa: tem situação que é melhor ficar aqui onde você está, eu estou feliz. Acho que ser feliz é fundamental. Apareceu uma situação para mim de uma equipe com quatro, cinco meses de salário atrasado. O presidente vira para mim e fala: "Mas o seu vai ser em dia". E aí? O futebol é coletivo. Aí eu vou lá, não dá certo, ele vai ser o primeiro a falar: "Não, o salário do Leandro estava em dia". Então, tem que pensar. Há casos e há casos. Estou aqui, estou feliz, o presidente tinha um projeto de subir a equipe, conseguimos. Fizemos um com campeonato (Carioca) em 2014, classificamos entre os quatro. Esse ano não foi da maneira que a gente esperava, mas a equipe permaneceu na Primeira Divisão. Acho que felicidade é tudo.

Você está feliz por quê?
- O ambiente. Acho que o ambiente, essa galera que trabalha aqui por trás, que você não conhece. essa rapaziada passa uma dificuldade que você não tem noção. Passa mesmo. Mas eles sempre estão aqui sorrindo, alegres, felizes. Você vem para cá sabendo que eles têm dificuldade em casa, mas eles estão aqui, dão o material certinho. O massagista está com dificuldade em casa, mas chega aqui, brinca com você. Você olha ali no campo, o rapaz que cuida ali está sempre alegre, feliz. Você vai no presidente, vê que ele está numa dificuldade danada. A gente sabe da dificuldade que é para manter um time, tem que ter dinheiro, tem que ter grana. Você vê que o cara gosta, que ele é cobrado pela família para largar isso, ele ele: "Não, vou ficar. Vou ficar porque eu gosto". Você vê essa sinceridade. E você podendo ajudar. ele chega para você e diz: "Me ajuda". Como vou ajudar ele? Eu podendo estar aqui, correndo, treinando. Não que eu vá jogar, vou ser titular. Eu nem quero isso, nunca aconteceu de eu fazer isso, "não, vou ser titular". Estou aqui para ajudar como sempre fiz na minha vida.
Leandro, cabofriense, posts no twitter (Foto: Reprodução)
Algumas postagens de Leandro nas redes sociais (Foto: Reprodução)
Até que ponto a cidade de Cabo Frio ajuda nisso? Uma cidade turística, com praia, lazer, perto do Rio de Janeiro, que é sua cidade-natal...
- Me ajudou porque minha mãe, meu pai e minha irmã foram tudo em Araruama há bastante tempo. Minha mãe gostou daqui, amou. Eu só vinha quando estava de férias, nunca tinha morado. Minha mãe falava: "Vem para cá que você vai gostar". Foi aí que acontece de eu vir para cá, comecei a gostar de Cabo Frio, amar Cabo Frio. E ela agora fala: "Viu? Eu falava para você". Então, juntou o útil ao agradável. Esto perto da minha mãe, da minha família, e aconteceu de eu aparecer aqui. Futevôlei eu gosto, mas não sei jogar, não. Vou lá brincar só, mas não sei jogar, não (risos).

Você é bastante ativo nas redes sociais, geralmente postando algo engraçado que deixa transparecer esse seu jeito descontraído.
- Eu gosto, cara. Sempre fui assim, alegre, feliz, brincalhão. Tenho meus problemas? Tenho, claro que tenho. Todo mundo tem problema, mas e daí? O problema está aí para ser resolvido. Então é isso, eu vou lá, porto alguma coisa lá zoando, brincando com alguém, perturbando. De vez em quando eu sumo, e a galera cobra. "Cadê você, cadê você?". Aí eu jogo alguma coisa lá e pronto, assim eu vou vivendo. Eu fico também muito sozinho, aí fico fuçando alguma coisa ali, procuro uma frasezinha e jogo. É divertimento, é momento. Tem que curtir a vida da melhor maneira possível, eu curto da melhor maneira possível. Como eu falei, tenho problema? Tenho, mas e daí? Não posso ficar só triste, para baixo, não. Tenho que saber lidar com isso.

Vida pessoal: é casado? Já foi?
- Já fui casado, já fui casado. Fiquei casado acho que uns seis anos. Depois separei, agora eu estou solteiro.
Curte muito balada?
- Curto, curto, gosto de curtir. Mas fui curtir depois de mais velho, porque eu abri mão no começo. Você tem que ter um objetivo na tua vida, e eu sempre tive isso. Minha mãe e meu pai sempre foram contra a eu ser jogador, eles queriam que eu estudasse muito. Eu falei: "Vou estudar, mas vou jogar bola, vou jogar bola". Mas tenho que me dedicar. Para ser jogador, abri mão de ir para a farra. Então no começo, eu não saia, nunca fui de sair para balada, não. Fui sair depois de mais velho. Nada contra, mas eu tive que plantar para depois colher. Hoje, não. Hoje, quando tem a oportunidade, eu vou e saio, curto com os amigos. Acho que tenho que dar valor também aos amigos, porque sempre que precisei, eles estavam do lado. Quando tem oportunidade, eu curto mesmo.


Leandro foi eleito o melhor lateral-esquerdo do Brasil em 1999 e o segundo melhor em 2008 (Foto: Divulgação)

Hoje você está colhendo então.
- É, tem que colher um pouquinho, né (risos)

Como você havia dito, sempre existiram bons nomes na sua posição durante a carreira. Roberto Carlos, Gilberto, Juan... Isso pode ter acarretado na escassez de chances na Seleção?
- Eu fui convocado, mas não tive a oportunidade de jogar, mas como que vai jogar? Roberto Carlos... Não tem jeito. O Roberto Carlos não foi, aí na outra quem era o reserva imediato do Roberto? Junior. Aí na outra, quem? Gilberto. Depois eu parei para pensar e falei: "Po, vou jogar? Deixa eu estar aqui no bolo". Posso comer só a fatia, não preciso do bolo todo. É o que eu falei, é uma satisfação ser convocado, ser lembrado com essas feras todas. Só tive alegria, satisfação de ter participado da Seleção com os melhores. Não só na lateral, os melhores no meio, no ataque, na zaga, no gol. Graças a Deus, só tenho a agradecer.

Você olha para sua carreira e se sente um jogador realizado?
- Eu tenho orgulho. Sabe por que eu tenho que me orgulhar? "Nego" fala que eu poderia ter jogado ali, poderia isso... poderia nada! Aconteceu assim e foi. Eu jamais imaginava que chegaria à Seleção. Claro que eu tinha esse sonho, mas e aí? Vai reclamar? Comecei no America, depois fui para o Vitória. No Vitória, eu fui para pegar a vaga do lateral esquerdo Esquerdinha, ídolo do Vitória. Olha só! Ídolo do Vitória, só brabo. Fui lá e conseguir jogar, fui considerado o melhor lateral. Aí fui para o Cruzeiro substituir o Sorín. Aí, meu Deus do céu. Você chega no grupo em que o Sorín era... era não, ele é. Você chega com seus companheiros te olhando atravessado. "É esse aí que vai substituir o Sorín? Duvido, é ruim." E você coloca na cabeça: "Eu vou, eu vou". E você consegue fazer um bom trabalho. Então vou reclamar? Tenho que agradecer. Fui campeão no Vitória, fui campeão no Cruzeiro, fui campeão no Palmeiras, no Porto. Fui campeão na Cabofriense. Só no Fluminense que eu não fui, joguei pouco. Mas só tenho a agradecer, tenho que reclamar nada não.

É verdade que o Alex, do Cruzeiro, foi o melhor jogador com quem você já atuou?
- Eu joguei com vários jogadores mesmo. Vou te falar, o Valdivia foi um, o Alex foi outro. Peguei o Pet no Vitória, peguei o Edmundo no Palmeiras. Peguei jogador diferenciado mesmo, tem jogador que a gente até esquece, porque são muitos. Mas o Alex, naquele time do Cruzeiro, ele fez chover. O Alex fez chover naquele time. Acho que, para mim, foi o melhor. O Ronaldinho eu peguei na Seleção. Mas de clube assim, o melhor que eu peguei foi o Alex. Acho que, naquele ano, ele fez chover. Ele falava que ia fazer o gol, ia lá e fazia. Para mim, o Alex é diferenciado mesmo, foi o meu 10.

Acredita que o auge da sua carreira tenha sido no Cruzeiro em 2003?
- Eu fui bem no Cruzeiro, mas no Palmeiras eu também fui bem, cara. Em 2008 eu fui bem, dei assistência, jogando bem, cruzando bem. Lá no Cruzeiro, a equipe, o conjunto foi muito bem, peça por peça. Foi o melhor time mesmo. A gente ia para o jogo sabendo que ia ganhar. Mas no Palmeiras, individualmente, eu fui bem também. Junto com os meus companheiros, claro. Coletivamente. Fui bem dentro desses dois times, acho que me sobressai bastante.


Leandro foi campeão mineiro, brasileiro e da Copa do Brasil com o Cruzeiro em 2003: a Tríplice Coroa (Foto: Reuters)

Coincidentemente, Vanderlei Luxemburgo foi seu treinador tanto no Cruzeiro quanto no Palmeiras. Ele foi uma espécie de "padrinho" na sua carreira. Quanto você deve a ele?
- Esse cara, vou te falar uma coisa. Todo treinador com quem eu trabalhei foi importante para a minha carreira, para a minha vida. Eu só tenho que agradecer. Mas o Vanderlei, ele... sei lá, é diferente. Eu lembro de um jogo no Palmeiras em que eu estava bem, só que dei um mole, escorreguei, gol dos caras. 1 a 0. Acabou o jogo, 1 a 0 para os caras. Eu pensei: "O Vanderlei vai no meu ouvido". Ele não, me jogou para cima, me xingou daquele jeito dele. "Po, tá triste por quê? Tá chateado por quê? Tu jogou para caramba", desse jeito, né. "Semana que vem tem outro jogo, está em cima, vamos embora". Aquilo me motivou, me botou para cima. No outro jogo, fomos lá e ganhamos, e eu fui bem. Teve outro jogo também que o Vanderlei, que foi lateral-esquerdo... ele não foi bom, não, mas foi lateral-esquerdo (risos). Então, eu estava indo muito para o meio, cortando muito para o meio, e ele me dando dura, me dando dura, me dando dura. Chegou uma hora que a bola saiu, e ele me chamou, "Tu pega a bola, vai por fora e cruza". Não deu outra. Fui por fora, cruzei na cabeça do Alex Mineiro. 1 a 0. Ele olhou para mim e só balançou a cabeça. Eu pensei: "Esse cara é diferente, esse cara ganha jogo". Ele, para mim, tá acima dos caras. Todo treinador com que eu trabalhei, só tenho a agradecer. Mas o Vanderlei no assunto de motivação, de cobrar. Ele cobra muito, cobra mesmo. Mas também diz: "Não tem que ficar puto porque eu estou reclamando, não. Tem que ficar puto quando eu parar de falar teu nome, que aí você vai embora".

E como é para você testemunhar uma fase em que Luxemburgo recebe tantas críticas?
- Ele é um cara muito cobrado porque ele bate muito de frente com a imprensa, o Vanderlei é muito de bater de frente com a imprensa, é o jeito dele. Ele bate, bate, bate. Mas eu também esperava essa pergunta e estava pensando em casa. Fazendo uma crítica entre aspas: antes tinha mais qualidade de jogadores, hoje não tem mais qualidade. O treinador tem que ser bom? Tem, mas tem que bater numas situações que eu vou te falar. A qualidade caiu muito. Não é só que tá falando, todo mundo fala isso. Só que o Vanderlei tem isso, ele bate muito de frente. Por ser diferente, ele tem sempre que ganhar, brigar. E está acontecendo isso com ele. Qual foi o último trabalho bom dele? Mas acho que a qualidade prejudicou não só o Vanderlei, mas os outros treinadores. É o que a gente falava no início da conversa, hoje é mais físico, mais força, Deixaram de lado a qualidade. Eu vejo muita gente criticando o Ganso. Po, para mim, esse cara é craque, joga demais. Mas não, querem que ele corra. Tem que correr, claro que tem que correr. Mas, por exemplo, o cara que toca o piano, alguém leva o piano para ele tocar lá. A mesma coisa é o Ganso, ele é diferente. Se tem três, quatro para correr, para que ele vai correr? Tem a qualidade dele. Mas não, "nego" critica muito ele por causa disso. Então é isso, acho que a qualidade caiu e prejudicou muito os treinadores.

Por falar em qualidade, você considera esse atual momento o pior já vivido pelo futebol brasileiro?
- É, acho que é. Primeiro, acho que o brasileiro tem que reconhecer que está atrás dos caras, tem que ter humildade. Estamos atrás, ficamos para trás, os caras atropelaram, passaram por cima. Tem que ter sabedoria. Ouvi esses dias uma entrevista do Roberto Carlos. Nós queremos fazer o mesmo que fazem na Europa, não dá para fazer isso aí, não tem como. A gente tinha um jeito de jogar, eles copiavam, agora inverteu a situação toda. E aí? Qual o resultado que está tendo? A gente foi querer copiar eles, mas não teve resultado nenhum. Acho que temos que voltar a jogar bonito, conversar. Eu escutar você, você escutar o outro, e assim vai. Não adianta só "ah, eu Leandro tenho minha opinião aqui, ponto e acabou". Não é assim. Então acho que o brasileiro tem que ter o pé no chão e pensar: "Os caras estão atropelando, os caras passaram por cima". Se continuar assim, vai demorar a ser campeão. Eu nunca tive medo de ficar fora de uma Copa, mas essas Eliminatórias vão ser brabas, vão ser difíceis. Hoje, temos só o Neymar, só o Neymar. Nossa referência é o Neymar. Quando ele não joga, e aí? Antigamente também, em todo time da Europa, tinha um brasileiro bera, não era isso? Hoje não tem. Nem o Neymar é o brabo do time dele, que é o Messi.

Você já atuou no Porto. Naquela época, já dava para imaginar o que viria pela frente em termos de evolução do futebol europeu?
- Eles estavam se adaptando muito. Lá tem muita tática, dinâmica, essas coisas todas. Você vê o Marcelo (do Real Madrid), acho que o Marcelo joga demais. Mas chegou lá, teve que marcar. Ele não marcava nada. Hoje ele joga para frente, mas marca mais um pouco. Lá tem essa cobrança muito rígida, tem que saber marcar, saber jogar taticamente, treinar taticamente. Aqui não, aqui não tem como. Aqui o brasileiro tem que jogar à vontade. Se os caras tirarem o Leandro, o Leandro vai ficar chateado porque está no banco. Lá não, lá ninguém dá satisfação nenhuma. Vai para o banco e acabou. Acho que é isso, tem que ter humildade, pé no chão. Os caras atropelaram a gente, vamos ver o que podemos melhorar. Se não, vamos ficar muito tempo sem ganhar.

Você acredita que o futebol é levado muito a sério hoje em dia?
- Muito a sério. Ontem mesmo passei na pousada onde os meninos moram e tava falando isso. Antigamente, todo mundo antes do jogo apostava, "vamos apostar". Que nem o Guerrero contra o Vasco, o Jorge. "Nego" está criticando os caras, o que que tem isso? Antigamente era isso. Só que não são apenas os jogadores culpados, todo um contexto é culpado, a imprensa é culpada, os assessores, os jogadores são culpados, os torcedores são culpados. Para você ver a situação que chegou. Antes não, antes tinha brincadeira, a gente curtia antes do jogo, depois. Tinha uma aposta, "vamos jogar, vamos ganhar". Hoje, acabou. Hoje é celularzinho. Estou do teu lado na concentração, no mesmo quarto que você e não falo com você, é mensagem. Acabou isso. Acho que as coisas também mudaram, não tem jeito. Se você parar, "nego" passa por cima, tem que saber conviver com isso. Mas acho que hoje está muito diferente do futebol de antigamente.


Leandro ficou quase dois anos no Palmeiras e faturou o Paulistão de 2008 (Foto: Arquivo / Diário de São Paulo)

Em uma carreira com títulos e conquistas, você tem alguma decepção?
- Não, só fiquei chateado de não ter dado certo no Fluminense, só isso. Um time bom, clube bom para trabalhar, mas aconteceu. Não fui o primeiro e não vou ser o último. Mas a equipe também não estava sincronizada um com o outro. É o que eu falo com os caras sempre: a vaidade complica muito, a vaidade não dá certo. Acho que foi o que aconteceu, mas não me arrependo, não. Só fiquei chateado, triste por não ter dado certo lá. Depois o Fluminense conseguiu se livrar do rebaixamento. Depois, no outro ano, foi bater o campeão. E a equipe está aí, equipe grande, tem sempre que brigar pelo título mesmo. Só isso só, mas não tenho nada a reclamar sobre isso.

Muito se fala da sua relação desgastada com a torcida do Fluminense na época. Na sua opinião, houve um exagero por parte da torcida? Ou isso poderia acontecer em qualquer clube?
- Não, acontece em qualquer clube, qualquer clube. A torcida vai cobrar. Tu vê o Ronaldinho, torcida já está cobrando o cara. Mas é o que eu falo, as pessoas querem cobrar do Ronaldinho o Ronaldinho do Barcelona, não tem como. Os tempo mudaram, o cara já passou. Tem qualidade, claro que tem qualidade, mas o cara ficou muito tempo parado. Não temos paciência, o brasileiro não tem paciência, não tem essa calma. Eu estava falando do Marcelo Oliveira, o cara foi bicampeão brasileiro no Cruzeiro, mandaram o cara embora. Como que tu manda um treinador desse embora? Você ser campeão brasileiro já é difícil. Bi? Mais difícil ainda, mas eles mandaram o cara embora. Então, brasileiro não tem calma, esquece rápido, não adianta. O brasileiro esquece rápido. Se eu amanhã jogo bem, no outro jogo tenho que jogar melhor ainda, não adianta. Não vai mudar, vai ser assim.

America, Vitória, Cruzeiro, Palmeiras, Atlético-MG, Cabofriense... Afinal, qual o clube que você tem mais carinho?
- Cara (risos). Todos os clubes em que eu passei, eu me dei muito bem em todos. No Fluminense menos, porque eu fiquei pouco tempo lá no Fluminense. No Porto eu também fui lá, mas não tenho mais contato. Mas no Palmeiras eu tenho, no Atlético-MG eu tenho, no Cruzeiro eu tenho, no America eu vou nos jogos lá. Cabofriense, eu estou aqui diariamente. Mas o clube que eu tenho mais carinho... Posso ficar em cima do muro não, né? Posso não.. Cabofriense (risos).

O Leandro dura até quando nos gramados?
- Acho que ano que vem eu paro. Devo ficar ali ao lado do Têti (auxiliar-técnico da Cabofriense), vou ver se fico ao lado do Têti ali (risos).

Mesmo se for campeão da Copa Rio (que dá uma vaga ou na Copa do Brasil ou na Série D do Brasileiro do ano que vem)?
- Não, aí não. Aí tem que continuar, aí tem que continuar. Vamos para essa Série D aí, porque o objetivo é esse. O objetivo é esse, quero falar aí também que o objetivo é esse, é entrar para ser campeão. É uma competição que, antes, ninguém quer participar, não tem nenhuma ajuda, pela dificuldade financeira. Ninguém quer participar. Mas quando começa, todo mundo quer ganhar. Dá uma vaga para Série D ou Copa do Brasil, não é isso? Então, é entrar para ganhar. Claro, respeitando as outras equipes que também querem ganhar. Nós temos um treinador aí que é bicampeão dessa Copa Rio (Edson Souza). Nova Iguaçu e Resende. Pode conseguir o tri. Então é isso, respeitando as outras equipes, já que estamos ralando aí nesse calor. Que, para mim, isso aí não é inverno, não. Filho, é entrar para brigar pelo título e conquistar essa vaga para a Cabofriense.

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