3/9/2015 11:58
É hora para refletir: o futebol nos torna mais imbecis
A intenção era escrever hoje falando sobre algo bom. No caso, a vitória heroica do Cruzeiro ontem em Campinas. Mais especificamente para falar de Deivid, que em dois dias conseguiu dar uma cara de time à Raposa, mesmo com a equipe desfalcada, coisa que Vanderlei Luxemburgo não conseguiu em pouco mais de dois meses. Mas não dá para deixar de falar do jogo dos Atléticos no Horto, especialmente da repercussão monstruosa dos erros do trio de arbitragem liderado por Marcelo de Lima Henrique.
Quem lê a súmula da partida, disponível no site da CBF, precisa parar por cinco segundos para pensar se este se trata mesmo de um jogo de primeira divisão. Na busca por um senso profissional maior, o futebol brasileiro ainda está longe de engatinhar para dias melhores. Passou da hora de todos os setores fazerem uma reflexão profunda. Isso engloba técnicos, profissionais do ramo, jogadores, cartolas, torcidas e imprensa.
Não quero entrar no mérito de arbitragem, se há um complô para time A ou B, ou não. No próprio jogo do Cruzeiro houve quatro erros gritantes e decisivos, um pênalti e um impedimento para cada lado. Se o torcedor acredita em complô a todo momento, simplesmente deixe o futebol de lado. A vida oferece outras coisas bem mais prazerosas para ser feliz.
No jogo do Horto, ao menos dois impedimentos mal marcados contra o Atlético Mineiro, um pênalti duvidoso (outro talvez “mais pênalti” não marcado) em favor do time paranaense e uma expulsão contestada pelos torcedores mineiros. Só nestes dois jogos, citei 9 lances polêmicos. O problema não são só os erros, mas sim como lidamos com eles.
Vejo os torcedores do Atlético Mineiro cuspindo marimbondo (e com razão) com os erros de arbitragem que vêm acontecendo contra a equipe. Mas como bem pontuou Antero Greco no Sportscenter pós-rodada, no futebol impera a hipocrisia. De todos nós. Basta dar uma pesquisada nas redes sociais para ver que o mesmo torcedor que xinga hoje, comemorava ontem o gol impedido de Jô na final do Mineiro e a agressão em cima de Leandro Damião ignorada por Heber Roberto Lopes na semifinal. Reitero: a pontuação aqui não é clubística. Isso só mostra que nós, apaixonados por futebol, seja por qualquer time, cometemos esse tipo de incoerência de forma recorrente.
O mais grave em relação ao jogo do Horto é saber que dois jornalistas atleticanos excederam os limites do bom senso e do profissionalismo. Quem sou eu para julgar o trabalho de A ou B, mas acho que certas coisas não podem sair do tom e é preciso que nós, que escrevemos para muitas pessoas lêem (qualquer que seja seu público), precisamos ter antes de tudo responsabilidade e ética.
Na súmula da partida, Marcelo de Lima Henrique relata que um jornalista, credenciado, o interpelou o chamando de “safado” por três vezes na saída do campo. Por mais que o cidadão credenciado seja apaixonado pelo Atlético/MG, é inadmissível que um profissional, credenciado antes de tudo para exercer sua profissão, deixe a paixão falar mais alto. Quer xingar, vá para a arquibancada.
Outro jornalista, chamado Fred Melo Paiva (o qual não conheço), mas que escreve sobre o Atlético Mineiro (e ataca os cruzeirenses com termos pejorativos) no jornal Estado de Minas e também faz documentários para o History Channel, teve a capacidade de desejar “um câncer” para o juiz carioca e, pior, se vangloriou ao postar isso em sua conta no Twitter.
Esses tipos de episódio me fazem pensar como o futebol, algo que foi criado para a gente se divertir, nos deixa mais imbecis. Mais grave ainda é saber que jornalistas andam colocando com frequência suas paixões à frente até mesmo do bom senso e da boa conduta.
Como sempre digo, se o sujeito se mete a falar ou escrever sobre futebol em um veículo pequeno ou grande da imprensa, é porque ele é apaixonado pelo esporte. E a porta de entrada para essa paixão é justamente ter apreço por um clube.
Não vejo problema do jornalista ser atleticano, flamenguista, corintiano, cruzeirense ou colorado. Mas fico realmente desacreditado quando vejo um profissional vestindo a camisa não só na hora de escrever, mas especialmente na hora de agir. O cara passa quatro anos na faculdade de jornalismo para rasgar o diploma na primeira oportunidade em que ele se sinta “prejudicado”. Sinceramente, não me entra na cabeça.
A Associação Mineira dos Cronistas Esportivos vai credenciar o jornalista referido de novo? Ele sofrerá algum tipo de sanção? E o Atlético Mineiro, vai ficar calado e achar tudo isso normal? Não vai exigir profissionalismo de quem cobre seu próprio evento? O jornal Estado de Minas continuará dando espaço para um jornalista que sempre desrespeitou o leitor cruzeirense e que agora chegou ao ponto de desejar câncer para o próximo? A questão é bem mais profunda. Quem exige respeito precisa, antes de tudo, respeitar.
O Atlético Mineiro tem lá seus problemas com arbitragem, como o próprio Cruzeiro já teve e tantos outros têm desde que o futebol é futebol. Até mesmo o Corinthians já passou por perrengues. Se em menor escala ou não, a discussão é outra e não justifica.
Como sempre digo, é nessas horas que a gente deve sempre filtrar o bom do ruim. Mas, antes de tudo, temos que refletir. Fazer nosso mea-culpa. O mesmo limite que deveria haver para os erros de arbitragem também deveria existir para nós que amamos futebol, para deixarmos de ser tão imbecis.
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