Há quem critique Marcelo por três vice-campeonatos na Copa do Brasil

Há algo de cármico nesta sequência de jogos entre Cruzeiro e Palmeiras nos próximos dias. Além dos já previstos duelos pelo Campeonato Brasileiro, o sorteio da Copa do Brasil se encarregou de colocar os times palestrinos frente a frente na luta por uma vaga nas quartas de final. Quem não é supersticioso pode até não ver nada de especial nisso. Mas quem gosta de um misticismo e acredita não haver coincidências nos fatos da vida sabe que aquela dança das bolinhas pode ter determinado muito mais do que um mero confronto na briga pela taça do torneio.

Cruzeiro e Palmeiras já se enfrentaram em outras ocasiões, inclusive pela própria Copa do Brasil. Desta vez, no entanto, há um tempero extra: os treinadores. Como aperitivo do mata-mata, a partida de domingo, no Mineirão, pelo Brasileiro – que, se não tem caráter eliminatório, conta com um componente emocional de fazer arrepiar até o mais frio dos cruzeirenses: pela primeira vez, a torcida da Raposa terá como adversário Marcelo Oliveira (foto), comandante dos dois últimos títulos nacionais da equipe.

Nas duas últimas temporadas, os torcedores celestes se acostumaram a ver o treinador no banco da direita (o do lado da cidade, diriam os mais tradicionais). Vestido com as cores do clube, a assistir às partidas sempre de pé, com os braços ora cruzados, ora posicionados atrás do corpo; a apontar os caminhos do campo a seus jogadores e a comemorar os gols efusivamente com eles. E foram muitos.

Mas, como em todo ciclo, o de Marcelo na Toca se encerrou há dois meses, e ele encontrou nova morada em outro clube de origem italiana. Em nove partidas, levou o Palmeiras do 14º lugar no Brasileiro à sexta colocação, com uma passagem pelo G4 – foi terceiro ao término da 15ª rodada. Bem àquele estilo criador x criatura, Marcelo vai usar todo o conhecimento que tem do grupo celeste no momento de traçar a estratégia para buscar sua sétima vitória no comando do alviverde paulista. Uma das armas, inclusive, são os avanços de um ex-cruzeirense, Egídio, justamente pelo setor em que o Cruzeiro entrará desfalcado. Como Mayke está suspenso e Ceará machucado, um zagueiro, Leo, jogará improvisado na lateral direita.

Luxemburgo ainda tenta, de todas as formas, decifrar o grupo que Marcelo conhece tão bem. E o “todas” aqui não é mera força de expressão: em seu 13º jogo à frente da Raposa, o técnico mandará a campo contra o Palmeiras seu 13º time. Ele pegou o Cruzeiro em 19º lugar no Brasileiro e hoje a equipe está em 14º lugar – sua melhor colocação com Luxemburgo foi a 10ª posição, na sétima rodada, logo após a sequência inicial de três vitórias, sobre Flamengo (na estreia), Atlético e Vasco.

Nesse balanço temporário do Brasileiro, não há dúvida de que o Palmeiras deve muita gratidão à diretoria celeste, por ter dispensado Marcelo. O carma, no entanto, entra firme nesta história quando o Cruzeiro de Luxemburgo e Marcelo se encontram num torneio mata-mata – justo a fórmula de disputa que estigmatiza a carreira do mineiro e consagra o carioca.

Há quem critique Marcelo por três vice-campeonatos na Copa do Brasil. E dos cinco títulos brasileiros de Luxemburgo, três foram conquistados quando a competição tinha esse formato. Luxa ainda tem um troféu da Copa do Brasil com a própria Raposa, em 2003.

Pode o destino ter armado uma armadilha, garantindo a Marcelo Oliveira a chance de soterrar o estigma de fracassos em mata-matas ao eliminar justamente o ex-clube? Caso o desfecho dessa história seja azul, Luxemburgo acrescentaria a seu currículo mais um capítulo vitorioso e ganharia pontos com a torcida. O resultado dessa queda de braço entre ceticismo e misticismo só será conhecido no dia 26. Aguardemos, então.