Independentemente do resultado, o duelo deste sábado entre Vasco e Cruzeiro, às 21h, em São Januário, entrará para a história e para os arquivos de estatísticas do futebol. Isso porque o goleiro Fábio se isolará como o atleta que mais vezes vestiu a camisa celeste – 634 partidas. Curiosamente, a marca será atingida em jogo contra o clube que o projetou. “Vai ser contra minha ex-equipe, onde eu surgi no cenário nacional. Foi um clube que me deu a oportunidade de mostrar meu potencial para chegar ao Cruzeiro e permanecer ao longo desses 11 anos”, comemora Fábio.
O ex-volante Zé Carlos, que durante algumas décadas sustentou a marca, não se incomoda em perder esse posto. “Não sou eu que estou perdendo, é o Cruzeiro que está ganhando. É muito difícil encontrar jogadores que atuem tanto tempo em um clube. O Fábio merece todas as homenagens por esse feito”, analisa Zé Carlos, que mantém a humildade, mesmo estando marcado na história do Cruzeiro. “Não sou nenhuma super estrela, meu feito está no passado, o momento agora é do Fábio”.
Zé Carlos ponta diferenças de perfil dos recordistas pelo Cruzeiro. Para ele, Fábio é um grande líder em campo, como era Piazza no passado. “Eu joguei por 12 anos no Cruzeiro e nunca fui capitão, o Piazza era nosso líder. Já o Fábio exerce essa liderança em campo atualmente. Mas, eu também tive meu valor. Só de ser procurado para dar entrevistas ainda hoje significa que fui importante”.
Os número expressivos de Fábio o colocam como postulante à condição de maior goleiro da história do Cruzeiro, embora o assunto ainda seja motivo de divergência entre os torcedores. Alguns apontam Dida como o melhor arqueiro, enquanto os mais antigos indicam Raul. O goleiro da camisa amarela, campeão brasileiro e da Libertadores pela Raposa, se esquiva do pleito. “Estou fora dessa, não me incluo na disputa. Tive meu tempo, fui o melhor do meu tempo, o Dida teve o tempo dele, o Gomes também, e agora o Fábio está tendo. A maioria dos torcedores atuais nem me viu jogar, então não dá para comparar”, pondera Raul, que aproveita para elogiar o recordista Fábio. ”Mais importante do que o número de jogos do Fábio é o bicampeonato brasileiro conquistado. Não adiantar jogar mil jogos e não ganhar nada. Até pouco tempo atrás, eu nem sabia meu número de jogos pelo Cruzeiro, porque quando eu jogava eu me preocupava só com a performance. O Fábio está na história principalmente porque foi o único goleiro do Cruzeiro a ser bicampeão brasileiro”, opina Raul.
Os companheiros de Fábio na campanha do bicampeonato nacional reconhecem a importância do capitão nas conquistas. No caso do atacante boliviano Marcelo Moreno, o camisa 1 se tornou um ídolo pessoal. “Quando eu cheguei ao Cruzeiro, em 2007 eu era um jogador desconhecido e o Fábio me ajudou a ser um jogador melhor e uma pessoa melhor, devo muito a ele. É um ídolo que eu tenho no futebol brasileiro, uma pessoa que eu admiro, um exemplo que sigo e um grande amigo, que quero ter para a vida toda”.
A trajetória de Fábio na Toca da Raposa começou em 2000. Como reserva, ele foi campeão da Copa do Brasil daquele ano. Desde que voltou ao Cruzeiro, em 2005, e assumiu a condição de titular, o camisa 1 sempre foi o jogador que mais atuou pelo clube em cada temporada. Pior para os suplentes. Nesse período, ele disputou 632 das 688 partidas feitas pelo Cruzeiro. O goleiro ficou fora de apenas 56 partidas, o que dá uma participação de 91,86%. E em apenas nove não atuou nos 90 minutos – em oito foi substituído e em uma entrou depois de começar no banco.
Os algozes
Conhecido pelo bom desempenho diante dos atacantes adversários, Fábio teve de conviver com alguns “algozes” até chegar ao recorde de jogos pelo Cruzeiro. O atacante Diego Tardelli, em duas passagens pelo rival Atlético, foi quem mais vazou o camisa 1 da Raposa.
Tardelli balançou as redes nove vezes contra Fábio em 19 jogos, entre 2009 e 2014. O primeiro gol no confronto aconteceu no Torneio de Verão, competição amistosa disputada no Uruguai. Posteriormente, o agora centroavante da Seleção Brasileira marcou em clássicos pelo Campeonato Mineiro, pelo Campeonato Brasileiro e pela Copa do Brasil.
Outro grande algoz de Fábio é o também goleiro Rogério Ceni. Jogador da posição com mais gols marcados na história do futebol, o ídolo do São Paulo superou o arqueiro do Cruzeiro, em cobranças de pênalti ou falta, em seis oportunidades. Ceni ainda balançou as redes uma vez quando Fábio defendia a meta do Vasco.
Quem também marcou seis vezes em duelos contra Fábio no Cruzeiro foi Rafael Moura. Em 2005, ano em que o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) determinou a anulação de 11 jogos após escândalo envolvendo o árbitro Edilson Pereira de Carvalho, acusado de manipular resultados, a Raposa teve de enfrentar o Paysandu duas vezes em intervalo de quatro dias no Brasileirão. Nos dois duelos, Fábio sofreu sete gols, sendo cinco marcados por Rafael Moura. O atacante voltou a vazar o goleiro cruzeirense em 2008, quando jogava pelo Atlético-PR.