23/4/2015 12:01
Caminho pelo Tri é complicado, mas escolhi ser otimista
Chave celeste é pesada. Graças também ao próprio Cruzeiro
Se a gente rondar livrarias ou até mesmo fazer uma pesquisa básica no Google, muitos serão os clichês filosóficos acerca da palavra otimismo. William James, por exemplo, conceituado médico americano do século XIX e um fundadores da psicologia moderna, tornou famosa a frase "o pessimismo leva à fraqueza; o otimismo, ao poder". Clichê ou não, no alto das minhas três décadas de vida, escolhi sempre tomar o caminho do otimismo, seja nas situações mais complicadas ou banais. Mas isso vai de cada um, é pessoal e intransferível.
Coisa mais importante entre as menos importantes, o futebol é um ótimo campo para se debater otimismo x pessimismo, ilusão x realidade, paixão x razão. Brincar com os extremos talvez seja o grande charme deste esporte, que nunca foi exato, é cheio de problemas, todo zoado, mas sempre vai ser o mais popular. Tudo porque ele é habitado pelos otimistas eternos, aqueles que torcem para um time modesto que nunca vai ganhar nada, mas eles sempre estão lá. Ou você tem alguma razão lógica para explicar o estádio do Stoke City lotado em todos os jogos? O cara que escolhe torcer para o Stoke sabe que dificilmente o time dele vai conquistar uma Premier League ou fazer bonito em uma improvável Liga dos Campeões. Isso é mais exceção do que regra. Mas ele está ali para se divertir. E, no fundo, o futebol foi feito para isso.
Diferentemente do Stoke City, o cara que escolhe torcer para um time grande, com camisa pesada, sempre quer ver seu time no topo, brigando por títulos e envolvido em jogos épicos. E é aí que entra o Cruzeiro.
Bicampeão Brasileiro seguido com sobras, o Cruzeiro vive um 2015 meio aos trancos e barrancos, e a torcida no geral está longe de esbanjar otimismo. O chaveamento da Copa Libertadores botou no caminho da busca pelo Tri equipes como São Paulo, Boca Juniors, River Plate, Racing e Corinthians. Bastou a confirmação deste caminho para muitos torcedores instalarem um clima um tanto pessimista, com muitos já jogando a tolha nas oitavas de final, já que o adversário é o São Paulo, principal pedra no sapato azul nos últimos anos. Assim, eu pergunto: se você é pessimista a tal ponto, por que está perdendo tempo com futebol?
Imagino que, em dias de jogos como esse, seja mais cabível aos pessimistas irem passear no shopping, tomarem uma cerveja em um boteco gourmet que o dono nem saiba o que é futebol ou assistirem a um bom filme novo nos cinemas. Para os que são avessos a sair de casa, o Netflix e o YouTube estão aí também para resolver este tipo de problema. Como disse o filósofo lá no início do texto, o pessimismo só leva à fraqueza.
Tudo bem que virão as réplicas dizendo que não é pessimismo, é apenas uma racionalidade. Desde quando futebol foi algo racional? Quem vivenciou as grandes conquistas do Cruzeiro sabe que elas nunca vieram de forma tão tranquila assim em torneios como a Libertadores. Arrisco dizer que fomos os campeões mais improváveis da história deste campeonato, em 1997, quando até os minutos finais da quarta partida da primeira fase éramos a pior equipe do certame. Em uma das conquistas mais épicas da história azul, Geovanni escolheu ser otimista, para azar de Rogério Ceni.
Para o papo não ficar muito empírico, vamos ao campo. Libertadores talvez seja o torneio em que menos se dá para fazer previsões. Nos últimos anos, o Cruzeiro sempre entrou com a pecha de favorito e ficou pelo caminho. E isso também já aconteceu com o Corinthians, com o próprio São Paulo, Boca, River e outros.
Na Libertadores 2015, nesta primeira fase arrisco dizer que apenas Boca e Tigres jogaram futebol regular. O Corinthians teve ótimo retrospecto em suas quatro primeiras partidas. E só.
Todos os outros times classificados para as oitavas enfrentaram dificuldades, assim como o Cruzeiro. Se você perguntar o torcedor são paulino como foi o início de Libertadores deles, eles vão dizer que preferem apagar tudo e recomeçar agora. O mesmo serve para o torcedor do River Plate, que fez a pior campanha entre os 16 e só se classificou graças ao triunfo do Tigres sobre o Juan Aurich em um 5 a 4 improvável, um placar inexplicável, que só o futebol pode proporcionar.
O Cruzeiro tem, sim, que corrigir seu rumo. Marcelo Oliveira terá trabalho para ajustar ainda mais a equipe para esta fase decisiva. Mas vir com papo derrotista só porque o caminho ficou mais difícil que o esperado é meio que se resignar aos desafios. E isso não é legal nem no futebol nem na vida. Sigo aqui com meu otimismo.
Do mesmo jeito que reconhecemos que o São Paulo, o Boca e o River têm camisas pesadas, as torcidas destes times também reconhecem que a do Cruzeiro é. Afinal, o time azul não é intruso nesta competição, é bom que essa boa parte da torcida saiba. O Cruzeiro só é o que é por suas conquistas sulamericanas, uma camisa respeitada em todo o continente.
Se os jogos contra o São Paulo serão os derradeiros do Cruzeiro na competição, paciência. Batemos o River Plate em 1976 e o mundo não acabou para eles. Perdemos o título em casa em 2009 e o mundo não acabou pra gente. Fomos eliminados pelo San Lorenzo ano passado e, acredite, o Cruzeiro sobreviveu. O otimismo faz você desfrutar esse esporte em sua totalidade, mesmo que a cada derrota nosso papo seja "queria largar o futebol", que vem sempre seguido de um "mas não consigo". Para quem realmente curte este esporte, isso é caminho sem volta. Vale para o torcedor do Cruzeiro, vale para o torcedor do Stoke City.
Mesmo que a realidade hipotética da Libertadores 2015 teime em querer me mostrar o contrário na busca pelo Tri, escolhi ser otimista. Enquanto o Cruzeiro estiver nela, continuarei desfrutando. Acredite, é bem mais divertido do que ficar prospectando tragédias.
"Let it happen. It's gonna feel so good", diz a música nova do Tame Impala.
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