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10/4/2015 07:46

Quarentão, Marcelinho "copia" Fofão e chega à final da Superliga no auge

Levantador do Sesi descarta a aposentadoria, cita a capitã do Rio de Janeiro como inspiração aos 45 anos e mostra preocupação com a renovação do vôlei brasileiro

Quarentão, Marcelinho copia Fofão e chega à final da Superliga no auge
Com o filho Pedro no colo e ao lado da esposa Raquel e da enteada Marcela, Marcelinho curte um dos raros momentos em família antes da decisão da Superliga, no próximo domingo, contra o Cruzeiro, em Belo Horizonte (Foto: Marcello Pires)

Foi-se o tempo em que o atleta brasileiro era considerado "velho" aos 30 anos. Quando bateu a marca do lendário Kareem Abdul-Jabbar em 2001 e se tornou o maior cestinha da história do basquete aos 43 anos, Oscar Schmidt mostrou que idade não é documento. O exemplo inspirou craques de outras modalidades, e Romário confirmou essa teoria depois de 39 primaveras vividas ao marcar 22 gols no Campeonato Brasileiro de 2005 e terminar a competição como artilheiro. Mas ninguém desafiou o tempo como Fofão. Depois de levar o Rio de Janeiro ao título da Superliga feminina na temporada passada aos 44 anos, a jogadora terá a chance de repetir a dose daqui a duas semanas um ano mais velha. A experiência da campeã olímpica em Pequim parece ter servido de inspiração para outro finalista das Olimpíadas de 2008. Aos 40 anos, o levantador do Sesi-SP, Marcelinho Elgarten, chega à decisão da Superliga masculina no próximo domingo, às 10h, contra o Cruzeiro, no Mineirinho, esbanjando saúde e no auge da forma.

- Ela representa muito e serve de inspiração para todos nós. Imagina o que a Roberta, que é a reserva dela, deve ter aprendido nesses últimos anos? São coisas que nenhum treinador consegue passar para um jogador e que ninguém ensina. O grande jogador tem que estar passando seus conhecimentos para os mais jovens, acho que essa também é uma das minhas funções no time do Sesi-SP - disse Marcelinho Elgarten.

Mesmo presente em todos os 27 jogos do Sesi-SP na Superliga e dono do terceiro melhor aproveitamento entre os levantadores nas estatísticas da competição, Marcelinho ainda esbarra no estigma de ser considerado um veterano e lembra que já perdeu a conta das vezes inúmeras vezes que tentaram antecipar sua aposentadoria.

- É um assunto que incomoda dependendo da maneira que é abordado. As pessoas só me perguntam quando vou me aposentar, se sinto alguma dor ou se treino separado dos demais jogadores e acabam esquecendo meu desempenho dentro de quadra. Oitenta por cento das entrevistas são sobre isso. Eu corto logo e respondo que não, que não sinto dor nenhuma, que treino com todo mundo e faço as mesmas coisas que todo mundo faz. Isso incomoda, porque se um dia eu realmente sofrer uma lesão, o que é normal na vida de qualquer atleta, vão associar à idade. Isso fará com que os clubes, os dirigentes e os patrocinadores coloquem minha capacidade em dúvida - desabafou.

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Mas apesar dos fios de cabelos e da barba branca, Marcelinho segue no peso ideal, não tem qualquer tipo de regalia nos treinos comandados pelo técnico Marcos Pacheco e afirma que nunca se sentiu tão bem dentro de uma quadra de vôlei como agora. Os motivos são muitos: profissionalismo, dedicação e poucas contusões ao longo dos mais de 20 anos de carreira.
Mas talvez nenhum seja tão significativo quanto o nascimento de Pedro, durante a disputa dos Jogos Olímpicos de 2008. Pior do que a amarga derrota por 3 a 1 para os Estados Unidos, na decisão da medalha de ouro, só a dor de não poder acompanhar de perto o nascimento de seu único filho de sangue com a esposa Raquel, que também é mãe de Marcela, fruto de um relacionamento anterior.

Talvez por isso as lágrimas derramadas em cima do pódio naquele 24 de agosto de 2008, em Pequim, tenham marcado tanto o levantador.

- Estou no melhor momento da minha carreira. Tanto física, quanto tecnicamente. Acho que a cabeça move tudo e por isso me sinto melhor do que em 2008, quando joguei a final das Olimpíadas. Foi um momento muito duro para mim. É claro que às vezes sinto dor, normal na vida de qualquer atleta, mas sei administrar bem isso e controlar os movimentos do meu corpo. Isso previne bastante coisa. Mas acho que boa parte disso tudo teve a influência do nascimento do Pedro. A responsabilidade de ser pai, de ter uma família completa com a chegada de um filho, tudo isso pesa. Sempre acreditei que quando você está bem no trabalho automaticamente as coisas vão bem no casamento. Também queria que ele me visse jogar, isso era um desejo que eu tinha e acho que também me faz muito bem. Quero que ele entenda os motivos pelos quais fico tanto tempo longe de casa e sinta orgulho de mim. Às vezes ele me pergunta por que eu não estou na seleção e diz que queria me ver lá, mas eu explico que meu momento já passou e acho que ele entende um pouco.


Mais experientes do Sesi, Serginho e Marcelinho mostraram na Superliga que idade não é documento (Foto: Divulgação)

A saudade da família talvez seja proporcional à de voltar a disputar uma decisão dentro de casa. Não que Marcelinho nunca tenha sentido o gostinho de levantar a taça da principal competição nacional, mas o tricampeão da Superliga bateu na trave com o Minas Tênis nas últimas três temporadas e não estoura uma champanhe em solo brasileiro atuando por um clube desde 2004, quando foi campeão pelo extinto Unisul, de Florianópolis.

- Já estava com muita saudade de jogar uma final de Superliga, é a principal partida para qualquer atleta. É a concretização do trabalho de uma temporada inteira. Estou feliz e com muita vontade de jogar, mas ansioso, não. Eu me preocupo muito mais com a preparação que teremos durante essa semana, que para mim será fundamental. Temos que deixar todos os jogadores prontos e preparados para tudo o que pode acontecer, e cada um dar o seu máximo e estar focado no jogo - explicou o camisa 2, que não considera o Sesi-SP favorito pelo fato de ter vencido o rival nos dois confrontos pela fase de classificação.

- Nós ganhamos os dois jogos deles, mas no segundo eles pouparam alguns jogadores e jogaram com a equipe reserva pois acho que não queriam cruzar com a gente na semifinal. Na verdade nós também não queríamos cruzar com eles. Agora é uma situação completamente diferente. É um jogo único, muito equilibrado e muito nervoso.

Com seu quarto título da Superliga ou não, o camisa 2 da equipe paulista ainda não sabe qual será seu destino na temporada que vem. A vontade é permanecer no Sesi-SP, mas as conversas sobre renovação ainda não foram iniciadas. Seja como for, Marcelinho já se sente um pouco treinador. Espelho para jogadores que sequer o viram em ação na decisão da medalha de ouro nas Olimpíadas em 2008, ele gosta da ideia de passar para o outro lado e revela, inclusive, que alguns companheiros o incentivam a abraçar a nova função quando abandonar as quadras.


Apesar de ser freguês de carteirinha do filho Pedro, Marcelinho se diverte jogando videogame (Foto: Marcello Pires)

Mas a mudança ainda deve demorar alguns anos. Mais do que apenas o amor ao vôlei e o desejo de continuar fazendo o que mais gosta, o capitão do time paulista mostra sinceridade e bastante preocupação em afirmar que uma das razões que ainda o motivam a continuar em atividade é pelo fato de não ver substitutos à altura das últimas gerações.

- De repente eu até não conheço, mas sinceramente não vejo nenhum levantador talentoso como os da minha geração ou da geração passada atuando no Brasil. Isso é preocupante. Acho que eu e Fofão continuamos jogamos também pela ausência de novos talentos. Alguns atletas da minha geração só pararam porque foram engolidos. Seja por problemas físicos ou qualquer outro. Por isso que eu insisto que os mais velhos e aqueles que pararam recentemente têm que ensinar na base. A CBV tem que trazer ex-jogadores como Gustavo, Giba e Nalbert de volta para o vôlei - alertou Marcelinho.

O finalista do próximo domingo vai ainda mais longe e reconhece que o vôlei mudou. Diz que a atual e as futuras gerações da modalidade no Brasil têm sido formadas visando a desempenhos individuais e específicos para cada posição. Crítico, mas disposto a ajudar na formação de novos talentos, Marcelinho não vê outra maneira senão atacar o problema na base.

- As coisas mudaram, e hoje não se cria mais atleta de vôlei. Se cria um jogador de meio, um oposto e um líbero, os jogadores não são tão completos como antigamente. Tem central que não sabe dar um toque, só que bloqueia e ataca muito bem. Antigamente isso era inviável. Não existe mais um Carlão ou alguém com a técnica do Nalbert. Nós temos o Lucarelli hoje que é um fora de série, mas que não é tão completo como era o Nalbert. A geração de prata, então, nem se fala, foi a mais talentosa. Jogadores iguais a Renan, Xandó, Bernard e William não vão existir nunca mais. Era pura técnica. Eu, Nalbert, Sérgio, Gustavo, nós crescemos olhando esses caras. Por isso que eu acho que as pessoas têm que fazer de tudo para a gente continuar jogando. O Gustavo não podia ter parado, e o Serginho ainda tinha que estar na seleção, sem nenhuma dúvida. Não vai existir outro nunca mais igual a ele - destacou.

A TV Globo e o SporTV transmitem a final da Superliga masculina ao vivo, neste domingo, às 10h, de Brasília. O GloboEsporte.com acompanha ponto a ponto, em Tempo Real.

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