2/4/2015 08:34
Pela porta dos fundos
Uma das maiores contratações do Cruzeiro nos últimos dois anos, Júlio Baptista vai de apresentação apoteótica a saída melancólica. Raposa antecipa que não renovará vínculo
Contratado em julho de 2013, o armador foi apresentado antes de um clássico com o Atlético, chegando ao Mineirão num carro-forte
A chegada foi com pompa e circunstância. A contratação do camisa 10 era saudada como a conquista de um troféu e até em sua apresentação o Cruzeiro apostou pesado no marketing e inovou: naquele 28 de julho de 2013, Júlio Baptista, de volta ao Brasil após 10 anos no futebol europeu, chegou ao Mineirão num carro-forte. Foi apresentado à torcida antes do clássico com o Atlético com direito a discurso para lá de otimista da diretoria e do jogador. Se o relacionamento não deu certo, estremecido fazia tempos, a ruptura se confirmou ontem, ainda que o contrato do atleta vença em agosto: a Raposa anunciou que não renovará o vínculo.
Tamanha expectativa fora de campo, dentro dele os resultados não foram além de medianos. Atuações não tão convincentes, o brilho do 10 autêntico que jogava com a 17, Éverton Ribeiro, e um histórico de lesões acabaram por colocar em xeque a importância de Júlio Baptista no grupo celeste. “Trouxemos o Júlio dentro do carro-forte porque é uma joia rara, que estamos colocando dentro do Mineirão com a presença da torcida do Cruzeiro”, festejava no dia da apresentação o presidente Gilvan de Pinho Tavares. Ontem, num comunicado seco, coube ao supervisor Benecy Queiroz dar a notícia. “Não vamos renovar”, limitou-se a responder quando questionado sobre o futuro do atleta.
Júlio Baptista se recupera na Toca da Raposa II de uma cirurgia no joelho direito, feita em Barcelona, para corrigir uma lesão na cartilagem. O procedimento foi realizado em fevereiro pelo médico catalão Ramon Cugar Bartomeu.
O departamento médico do Cruzeiro não dá previsão de retorno aos gramados. Segundo a assessoria de imprensa, o atleta já faz a reabilitação há cerca de duas semanas. Por causa dessa cirurgia, ele nem chegou a ser foi inscrito na lista da Copa Libertadores. Neste ano, Júlio só fez três jogos. A última partida foi contra a Caldense, pela segunda rodada do Mineiro, em que houve empate por 1 a 1 no Mineirão.
A saída de Júlio Baptista representa não só o fim de um ciclo que não se justificou tecnicamente como um alívio na folha de pagamentos do Cruzeiro. A estimativa oficiosa é de que represente custo mensal próximo de R$ 1 milhão – entre salário e o pagamento de uma dívida do Málaga-ESP, seu último clube na Europa.
Quando foi revelado pelo São Paulo, Júlio Baptista atuava como volante. Sua habilidade e força o levaram à armação. Era capaz de arrancadas surpreendentes e potentes chutes de longa distância. Em três anos de tricolor, chamou a atenção dos europeus. Seguiu em 2003 para o Sevilla-ESP, onde viveu os melhores momentos de sua carreira. Seria contratado em 2005 pelo Real Madrid, passando em seguida por Arsenal-ING, Roma-ITA e, finalmente, Málaga, com quem rescindiu para negociar com o Cruzeiro.
Na época em que o time mineiro o contratou, era pretendido também por equipes da Turquia e do Catar. A escolha pelo Cruzeiro refletia principalmente o desejo de retornar à Seleção Brasileira para disputar a Copa do Mundo de 2014. Ele chegava para ser substituto de Diego Souza, outro que havia fracassado com a camisa celeste, negociado com o Metalist, da Rússia.
O sucesso na Europa tinha rendido a chance de vestir a amarelinha. Foi campeão da Copa América em 2004 e 2007 e da Copa das Confederações em 2005 e 2009. Esteve na Copa do Mundo de 2010. Foram 58 jogos pela Seleção, com seis gols. Em 2014, acabou preterido.
SONHO No dia em que o jogador foi apresentado, o presidente celeste, Gilvan de Pinho Tavares, sonhava alto: “Tenho certeza de que quando assumir a camisa 10, vai ser um grande astro dentro do Cruzeiro, comparado àqueles do passado que deram muitas glórias ao Cruzeiro”.
Na outra ponta, o armador comemorava, ao ser ovacionado naquele 28 de julho de 2013: “Poder voltar, este carinho do brasileiro, poder ser recebido aqui com muito carinho... quando a gente fica muito tempo fora do Brasil, a gente não sabe o carinho que o torcedor tem com a gente, só voltando a gente entende isso”, afirmava, sem imaginar o quanto seria contestado meses à frente, não escapando nem mesmo de vaias.
No começo desta temporada, com a saída de Éverton Ribeiro, ele ainda exibia otimismo e afirmava que o desafio era retomar a condição de titular. “Meu objetivo é jogar o máximo possível. Espero ter minha oportunidade de poder jogar, ter sequência para mostrar meu futebol, poder ajudar o Cruzeiro. É muito importante fazer uma pré-temporada boa”, comentou. Uma nova uma contusão e o desinteresse do Cruzeiro, porém, colocaram um ponto final na história que começou cheia de esperança e terminou num irônico 1º de abril.
ELE COM A CAMISA CELESTE
– 60 jogos
– 17 gols
– 0,28 é a média por partida
A estreia
– Cruzeiro 2 x 1 Flamengo, em 21/08/2013, no Mineirão, pela Copa do Brasil
– 3 títulos (Campeonato Brasileiro 2013 e 2014 e Mineiro 2014)
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