Artilheiro do Brasileiro com 10 gols, Moreno é o ídolo da cruzeirense fanática (Foto: Washington Alves / Light Press)

Maria Salomé da Silva é figura conhecida entre os torcedores do Cruzeiro. Presença certa nos jogos da Raposa, Salomé deixou de ver apenas 18 partidas do time no Mineirão, segundo suas próprias contas, desde 1965, ano em que o estádio foi inaugurado. A popularidade de Salomé, funcionária do Cruzeiro desde 1993, é tanta que ela já foi homenageada pelas torcidas organizadas e, também, personagem de matéria da revista oficial do clube. Natural de Bom Despacho, no Centro-Oeste de Minas Gerais, Dona Salomé tem 80 anos e vive intensamente o dia-a-dia do Cruzeiro. No último domingo, ela fez sucesso de novo. No Maracanã, foi flagrada pelas câmeras chorando após o gol de Marcelo Moreno sobre o Fluminense, no empate por 3 a 3, pelo Campeonato Brasileiro. A torcedora se emociona só de tocar no assunto. Salomé conta que muita gente viu as imagens na TV e na internet e foi falar com ela.



Nunca conversei com o Marcelo Moreno. Meu sonho é falar com ele e ganhar uma camisa dele, nem que seja de treino
Salomé

- Eu não posso nem lembrar porque fico meio esquisita e me dá vontade de chorar. Todos os jogadores são especiais, mas do Marcelo Moreno eu gosto mais. Por isso, eu fiquei gritando o nome dele. Quando ele fez aquele golaço, eu abri a boca a chorar. Mas foi um choro de alegria. Muitas pessoas me viram e vieram falar comigo. Falaram que eu estava ficando famosa, aparecendo na televisão. Meu chefe disse que os destaques do fim de semana foram o Marcelo Moreno e eu.

O amor da auxiliar de serviços gerais do Parque Esportivo do Barro Preto, uma das sedes campestres do Cruzeiro, pelo atacante Marcelo Moreno é sério. Salomé disse que o boliviano está presente nas orações diárias dela e que sente por ele o mesmo amor que tem por Roberto, único filho que tem.

- Eu nunca conversei com o Marcelo Moreno. Meu sonho é falar com ele e ganhar uma camisa dele, nem que seja de treino. Eu rezo por ele todos os dias, é como se fosse meu filho de sangue, tamanho o amor que sinto.

Vida dedicada ao Cruzeiro

Dona Salomé tem a rotina de vida totalmente ligada ao Cruzeiro. Durante a semana, trabalha no clube e nos finais de semana está no Mineirão para ver o time jogar. Quando pode, viaja para os jogos fora de casa, e apesar da idade de veterana, tem pique de garotinha. Já foi ver partidas no Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná, além de várias cidades do interior de Minas Gerais. A de domingo, para assistir ao jogo contra o Fluminense, foi uma correria, que terminou com a volta direto para o trabalho.

- Eu cuido das coisas do Cruzeiro como se fossem minhas. Aqui é minha casa. Penso que tudo é meu. E, na verdade, é meu mesmo. Faço tudo com amor, carinho e boa vontade. Eu trabalho aqui há 22 anos. Hoje (segunda) cheguei da viagem ao Rio de Janeiro às 5h30 e às 8h já estava aqui trabalhando, sorrindo como sempre, feliz com o gol do Moreno. Quando percebi, já tinha feito meu trabalho e o dia já tinha passado.

É claro que as sequências de viagens provocam casos engraçados e especiais. Dona Salomé se lembra de uma acrobacia que fez nas arquibancadas do Maracanã após um gol de Fábio Júnior.

- Uma vez, num jogo no Maracanã, o Cruzeiro estava perdendo e o Fábio Júnior empatou. Eu estava com o Alex Alves, meu raposão de pelúcia, e uma boneca chamada Renata Gaúcha, que tem a camisa do Cruzeiro. Aí dei uma pirueta na comemoração, segurando os dois. Veio um policial perguntar se eu tinha machucado e eu falei que não. Os outros torcedores todos vieram ficar perto de mim. Nunca me esqueci deste jogo.

Salomé Silva, torcedora-símbolo do Cruzeiro (Foto: Marcos Antonio Astoni)

Torcedora-símbolo

De lavradora no interior mineiro à torcedora-símbolo do Cruzeiro, Salomé revela que não esperava tanta felicidade na vida. Otimista e orgulhosa do reconhecimento que tem dos cruzeirenses no Mineirão, onde é chamada para tirar fotos em todos os jogos, Salomé fala que ainda espera muito do futuro, sempre ligado ao clube que é a razão da vida dela.

- Eu fui criada no mato, sem cultura nenhuma, só mexendo com lavoura. Nunca pensava em vir para Belo Horizonte. Cheguei aqui e só conheci pessoas boas, que me deram valor. Eu fui crescendo, crescendo e sinto que ainda vou crescer mais na vida. O Cruzeiro representa minha vida. É como se fosse um Deus. Sou uma pessoa simples. A bondade e a beleza vêm do coração, de dentro para fora e não de fora para dentro.