Beausejour Chile x Austrália Arena Pantanal (Foto: Reuters)
Se dentro de campo tudo ocorreu bem (para o Chile), fora dele a Arena Pantanal não foi aprovada em seu primeiro grande teste após ser inaugurada. Depois de receber quatro jogos no período pré-Copa, sendo todos com menos de 25 mil pessoas, o estádio mato-grossense foi palco da vitória da “La Roja” sobre a Austrália, por 3 a 1, pelo grupo B.
As cerca de 40 mil pessoas que estiveram presentes, se depararam com diversos problemas em um local que não havia sido testado com tamanho público. A principal falha do estádio foi no quesito segurança, já que fogos de artifício foram disparados do setor Leste superior em direção ao gramado, quase no final do jogo. A dúvida é como que torcedores conseguiram entrar com rojões, mesmo com a até então rigorosa regra aplicada pela Fifa de scanners e detectores de metal.
Rojões foram atirados no fim da partida
(Foto: Robson Boamorte)
Uma das respostas pode ser a falta de efetivo para realizar a revista. Em um dos acessos, no setor Leste, não havia pessoas suficiente para atender a demanda. Resultado: uma das entradas precisou ser fechada pelos organizadores. A falta de um, dos quatro acessos ao estádio fez falta. Não demorou para que grandes filas fossem formadas, principalmente pela proximidade da partida.
- Tínhamos oito lugares para os torcedores entrarem neste setor, mas tivemos que reduzir para somente quatro - disse um voluntário.
Cerca de uma hora antes do duelo começar, muitos ainda chegavam no local, o que piorou a situação. Segundo um torcedor, prestes a entrar no estádio, o tempo média de espera foi de aproximadamente 40 minutos.
Para evitar mais tumultos, muitas pessoas passaram pela triagem sem serem revistadas da forma adequada, o que motivou a entrada de artefatos proibidos.
Passada a catraca, outro problema foi enfrentando: a dificuldade da maioria em achar ou conseguir sentar nos seus lugares marcados. Poucos respeitaram os números impressos nos ingressos e o que se viu foram muitas pessoas assistindo ao jogo em pé, para ficar mais próximo do campo.
- É por opção mesmo. Nem fui atrás do meu assento – disse um chileno.
Torcedores em pé na Arena Pantanal (Foto: Robson Boamorte)
Um caso que chamou a atenção foi de Robinson Kazyson, que não conseguiu encontrar o lugar da sua mulher. E não vai achar nunca, já que ele não existe.
Torcedor com ingresso sem lugar na Arena Pantanal (Foto: Robson Boamorte)
- Primeiro que o assento da minha mulher era bem longe do meu. Depois, quando nos deparamos com o local indicado, vimos que ele não existia. Venderam a fileira K para ela, sem que ela estivesse nas arquibancadas do estádio. Ela registrou um boletim de ocorrência e vamos aguardar. A fileira pula do J e vai direto para o L – disse o técnico em mecânica.
De acordo com ele, o setor comprado foi o 109-b do estádio.
- Fui reclamar para os responsáveis e eles admitiram o erro. Tentaram recolocar ela em outro assento, mas chegou o torcedor que deveria estar ali. Para compensar, me prometeram um lugar na área VIP na próxima partida, mas duvido que isso vai acontecer. Não conseguimos assistir a partida para resolver problemas que eles mesmo causaram.
ACESSOS E SAÍDA
O acesso ao entorno do estádio foi tranquilo. Sem muito trânsito por conta do feriado da repartição pública, os ônibus colocados para chegar à Arena Pantanal fluíram bem. Apesar disso, a Secopa-MT promete ampliar ainda mais o número de carros nas próximas partidas. O clima, apesar de quente, ajudou e o calor contagiou tanto chilenos, em maior número, quanto australianos. A visão do campo agradou a todos e nenhum ponto cego foi observado. A saída também foi tranquila e os portões suportarem bem o fluxo, sem grandes filas.
FILAS E FALTA DE PRODUTOS
Um estádio com 40 mil pessoas dificilmente não terá grandes aglomerações em locais de vendas, principalmente no intervalo do jogo. Mas o que decepcionou os torcedores foi a falta de produtos em alguns pontos no interior. Assim que o jogo começou, dois bares do setor Leste não tinham mais sanduíches. A vantagem é que 20 minutos depois eles foram repostos. Já no setor Sul superior, o problema foi a falta de bebidas. Os torcedores tiveram que descer as escadas para encontrar cervejas e refrigerantes nos bares do nível inferior.
Filas na Arena Pantanal (Foto: Robson Boamorte)
BANHEIROS
Dos 100 funcionários previstos para a limpeza dos banheiros, 40 não compareceram para trabalhar. O resultado já é fácil de imaginar: pias entupidas, banheiro sujo e, para piorar, alguns foram fechados no setor Leste superior, por falta de higiene e material humano para limpá-los. A diária dos prestadores de serviço é de R$ 100, mais o lanche. Porém, nem isso foi suficiente para convencer os até então “apalavrados” funcionários, que não deram as caras.
Banheiros: pias entupidas e sujeira no chão com a falta de funcionários (Foto: Robson Boamorte)
VOLUNTÁRIOS
Sempre solícitos, os voluntários mostraram disposição e atenção com os torcedores. Esse foi um item positivo na Arena Pantanal. Nos momentos observados, todos se mostraram dispostos a ajudar com qualquer dúvida. Apesar da dificuldade com a língua estrangeira, tanto australianos e, especialmente, os chilenos conseguiam entender.
Cadeirante na entrada da Arena Pantanal (Foto: Marciano Mendes/Arquivo pessoal)
ACESSIBILIDADE
Cadeirante, o advogado Marciano Mendes teve dificuldades para chegar ao seu lugar. Logo na entrada, veio a primeira já que um meio-fio estava em seu caminho.
- Tive que pedir ajuda para levantar minha cadeira. O restante do acesso foi tranquilo e sem problemas, mas o que me incomodou muito foram os diversos torcedores que ocuparam a área de deficientes. Atrapalhou a visão e o conforto que teríamos se todos respeitassem seus lugares – disse Mendes.
Apesar dos Stewards e voluntários estarem próximos do local, pouco podia ser feito. - São muitos, fica difícil controlar. Chamamos reforço, mas está complicado – disse um deles.
CAMBISTAS
Não foi difícil cruzar com cambistas no entorno da Arena Pantanal. Um deles, disse que chegou ao local com nove ingressos para revender. Cerca de cinco minutos antes de começar a partida, o valor marcado de R$ 270 no ingresso, já saía por R$ 150, no desespero em se livrar. Segundo ele, “uma agência adquiriu os ingressos e lhe deu para tentar vender no estádio”. Discretos, eles despistaram o policiamento e agiram livremente.
TELEFONIA MÓVEL
A rede wi-fi funcionou sem problemas e foi elogiada tanto pela imprensa quanto pelos torcedores. A telefonia móvel também agradou, mesmo com algumas oscilações. Todos puderam tirar fotos e postar nas redes sociais.
- É um momento que todos querem guardar de alguma forma. Consegui mandar fotos para vários amigos e não tive problemas - disse o estudante Ricardo Macedo.
As respostas do COL (Comitê Organizador Local) sobre os problemas enfrentados na Arena Pantanal, devem ser dados na manhã deste sábado, em entrevista coletiva na área de imprensa do Maracanã.
A Arena Pantanal ainda irá sediar mais três jogos da Copa do Mundo: Rússia x Coreia do Sul, Nigéria x Bósnia e Colômbia x Japão.