O brasileiro Igor Thiago se tornou a contratação mais cara da história do Brentford , equipe da Premier League que o comprou por 37 milhões de euros (equivalente a R$ 198 milhões) do Club Brugge. Até o final da temporada, entretanto, o centroavante segue na Bélgica, onde soma 26 gols na temporada. Mas o caminho do artilheiro até o destaque na Europa não foi nada fácil, em uma trajetória que inclui trabalhos longe do futebol e até mesmo uma luta contra a depressão.

Revelado pelo Cruzeiro , o atacante de 22 passou por problemas ainda na base. Natural de Gama, no Distrito Federal, ele precisou se adaptar à mudança para Belo Horizonte, que incluía ficar longe da família pela primeira vez. A distância se tornou ainda mais angustiante quando recebeu uma notícia trágica: a morte do pai. “Foi muito difícil, porque eu estava naquele período da adolescência de querer se espelhar nele e querer ser igual a ele. Então eu senti muito, também por sair de perto da minha mãe, de ter que correr atrás dos meus sonhos”.

O baque da notícia, somado aos problemas causados pela distância, fizeram com que a futura estrela começasse a ponderar suas escolhas e até se deveria mudar de carreira. “Tiveram momentos que eu pensei em desistir, mesmo quando estava no profissional, de falar: não quero mais saber de futebol, não quero mais saber de nada. Quero largar tudo isso e só viver no interior com a minha mãe. Vou trabalhar no mercado, vou trabalhar na feira, não tem problema nenhum para mim. Vou trabalhar com alguma outra coisa. Seja lá o que for”, relembrou o atacante.

Se a escolha fosse essa, não seria novidade. Como revelou em entrevista para o ESPN.com.br , Igor já trabalhou na feira, foi servente de pedreiro e até entregador de panfletos, em trabalhos que não amenizavam as dificuldades financeiras. "A minha mãe recebia um salário mínimo e não conseguia sustentar quatro pessoas. Eu tentava ajudar de todas as formas. Alguma vezes não tínhamos o que comer ou o que vestir. Tínhamos que pedir emprestado e fomos humilhados, até mesmo por parentes. Foi bem difícil e precisamos ter resiliência". Para piorar a situação, Igor Thiago ainda precisou enfrentar um vilão silencioso: a depressão.

O atacante lembrou momentos em que teve pensamentos altamente negativos e contou como fez para ganhar força e superá-los. "Tem coisas que ninguém nem sabe que eu passei. No Cruzeiro, chegava a pensar: amanhã vou bater meu carro e dane-se minha vida, porque eu não ligo, ninguém gosta de mim mesmo. Tudo isso devido a comentários que ouvia", contou o atacante, que vivia a gangorra de acordo com a fase que vivia.

"Tiveram noites que foram boas também. E, poxa, uma vitória mudava meu dia, mudava o pensamento. Já pensava: eu posso, eu consigo, e vamos para cima", relembrou Igor. "Hoje sou bem resolvido com isso. Foi muito difícil, mas tudo serviu como aprendizado". Enquanto havia dúvida se deveria ou não desistir do futebol, Igor Thiago ouviu aquilo que o fez ter a certeza que a decisão era continuar no esporte. "Um dia estava deitado no sofá descansando depois da escola. Estava trabalhando e não tinha mais forças porque tinha tentando de tudo. Minha mãe chegou em casa e falou: 'Filho, você nunca ficou assim, não está treinando mais. O que está acontecendo?'. Foi a minha virada de chave", relembrou o atacante, revelado pelo Cruzeiro em 2020, em meio à disputa da Série B do Brasileirão.

"Eu não tive base e quando cheguei lá vi muitos jogadores com fundamentos. Fui aprendendo ao observar os colegas e comecei a ter números mais positivos. Fiz gol na minha estreia contra o Corinthians, depois fiz um gol e dei uma assistência contra o Flamengo. Comecei a ter mais oportunidades e a aparecer". A boa fase em campo foi refletida na vida pessoal. Igor Thiago criou família, virou pai e, disso, ganhou energia para viver dias incomparavelmente mais felizes.

"Depois que eu soube que iria ser pai, me deu uma força assim que eu nem sabia que eu tinha. Pensar em tudo que aconteceu na minha vida, que eu senti, que eu passei, foram realmente muitas coisas". Já na temporada seguinte, em 2021, foi para o Ludogorets , onde marcou 21 gols em 55 jogos. Transferiu-se para o Club Brugge, onde vive a melhor fase da carreira, antes de se mudar de vez para a Premier League. Mais do que jogar na liga mais badalada do mundo do futebol, o brasileiro sabe que a grande vitória em sua vida já aconteceu. "Um dos maiores pensamentos é que, se eu parar de jogar hoje, minha mãe ia ter muito orgulho de mim, de tudo que eu passei, de tudo que estou construindo. Apesar de para muitas pessoas ser pouco, para mim é muita coisa".